Um erro muito comum nos produtores de texto inexperientes é achar que o texto está muito claro e que tudo o que tinha de ser dito nele foi dito de forma completa a não deixar nenhuma dúvida. Surpreendem-se quando o leitor afirma que não entendeu o que texto diz, que não está claro, que parece estar faltando algo. Como isso pode acontecer, se o texto está claríssimo na opinião de quem o escreveu?

Em primeiro lugar, chamo a atenção para o fato de que os parceiros da comunicação são pessoas diferentes e, portanto, com graus de conhecimento diferentes, com crenças, ideologias, interesses e expectativas diferentes. A competência linguística e textual também costuma ser diferente. Palavras que quem escreve acha corriqueiras e que, portanto, todos deveriam saber o que significam, podem ser totalmente desconhecidas do leitor, por isso deve-se evitar usar termos técnicos num texto destinado a leitores não familiarizados com a área de conhecimento de que o texto trata. Textos escritos em juridiquês, ou economês são compreensíveis apenas para pessoas dessas áreas do saber. Deve-se evitar também usar palavras que já caíram em desuso, como patranha, opróbrio, vitupério e, no lugar delas, preferir mentira, vergonha e insulto, respectivamente.

Alguns conceitos que o autor julga que todos conhecem e que, portanto, não precisa explicar, são totalmente desconhecidos do leitor, por isso não se deve hesitar em deixar claro o sentido de determinados conceitos que está usando no texto. Pode ser que o leitor não saiba exatamente o que significam as palavras empreendedorismo ou empoderamento, então convém deixar claro para ele o que significam. Em outros casos, um conceito sofre variações dependendo do referencial teórico adotado.

Como na produção de um texto quem escreve costuma omitir informações que supõe que são de conhecimento do leitor, caso esse não conheça o que foi omitido, cria-se um ruído e a comunicação não se efetiva. Em suma: aquilo que para o autor parece ser claro e elementar, para o leitor pode ser obscuro e incompreensível. Além disso, os parceiros na comunicação não têm apenas conhecimentos diferentes, também raciocinam de forma diferente.

Quando a pessoa domina muito bem um tema, costuma apresentar de uma só vez um número muito grande de informações que o leitor não consegue assimilar de uma só vez, então não se deve colocar no texto todas as informações de uma vez. O recomendado é que se faça transições entre uma informação e outra, estabelecendo pausas para o leitor assimilar uma ideia (para isso servem os parágrafos). Isso é necessário porque a capacidade de armazenamento na memória de trabalho é pequena.

A memória de trabalho, também chamada de memória de curto prazo, é aquela que permite armazenar por um curto período aquilo com que a atenção se ocupa no momento. Nesse tipo de memória, não se consegue reter uma quantidade grande de informação de uma vez só.

Os cientistas cognitivistas calculam que se consegue guardar na memória de curto prazo no máximo sete blocos de informação (o tamanho de cada bloco pode variar). Quando essa memória é preenchida, temos de esvaziar blocos de informação, liberando espaço para armazenar outras informações. Esse tipo de memória se opõe à memória de longo prazo, em que se armazenam muito mais coisas do que aquelas em que se está pensando no momento. Além disso, o que está armazenado na memória de longo prazo permanece ali por muito tempo.

É fácil entender essa diferença fazendo uma analogia com a memória de computadores. Neles, têm-se dois tipos de memória. O HD (hard disk, o disco rígido), onde é guardada uma grande quantidade de informações que lá permanecem até que sejam deletadas e a memória RAM (Random Access Memory), em que é armazenado aquilo de que se precisa num dado momento para executar uma tarefa. O HD corresponde à memória de longo prazo; a memória RAM, à memória de trabalho. Enquanto estamos trabalhando, digitando um texto, por exemplo, estamos usando a memória RAM. No momento em que se resolve parar e guardar o arquivo, salvando-o com um nome, ele vai para a memória de longo prazo, o HD, e lá permanecerá até ser chamado de volta.

A essa altura, poderá surgir a pergunta: o que isso tem a ver com leitura e produção de textos. É simples: quando se lê, usa-se a memória de trabalho. Como ela não é capaz de reter muita informação, é preciso liberar espaço, guardando informações lidas na memória de longo prazo. Dessa forma, o espaço liberado liberando será preenchido com novas informações. É por essa razão que a leitura de textos que tenham certa extensão é feita em blocos.

Ao redigir um texto, tem de se levar isso em conta. Como o leitor não consegue armazenar um volume grande de informações de uma só vez, deve-se passá-las em blocos. Há um teste que exemplifica isso. Quando se tenta reter na memória um número como 28431052618, não se consegue êxito, porque nele há 11 dígitos, ou seja, onze blocos de informação, o que ultrapassa em muito o limite da memória de trabalho. No entanto, as pessoas armazenam na memória de trabalho números semelhantes a esses com muita facilidade, dividindo-os em blocos de informação que não ultrapassem sete. Esse número, que poderia ser o de um CPF de uma pessoa hipotética, costuma ser armazenado da seguinte forma: 284.310.526-18.

Em vez de onze elementos (blocos) para memorizar, têm-se agora quatro, por isso, quando alguém pergunta o número do CPF de uma pessoa (e sempre somo perguntados sobre isso), ela o fornece em blocos, não só porque os reteve em sua memória em blocos, mas também porque sabe que, se não o fizer dessa forma, a pessoa não conseguirá armazenar a informação.

Quando se produz um texto, deve-se levar isso em conta, transmitindo a informação ao leitor em blocos para que ele consiga processá-la. Na escrita, isso se faz por meio da segmentação do texto, correspondentes a blocos de informação. Não há uma regra fixa que determine como segmentar um texto, mas algumas coisas devem-se observar:

  1. Evitar frases muito longas. É provável que, quando o leitor estiver chegando ao final dela, já tenha esquecido o que havia no início;
  2. As frases também vão formar blocos, os parágrafos, por isso deve-se agrupá-las em parágrafos. Assim se dá oportunidade ao leitor de esvaziar blocos de informação da memória de trabalho para poder preenchê-la com novas informações;
  3. O melhor critério para a constituição dos blocos de informação é o temático, isto é, informações sobre um mesmo tema num bloco; mudou o tema, ou a perspectiva de abordar o tema, outro bloco. Para armazenar os 11 dígitos do número do celular, adota-se um critério para criar os blocos de informação. No primeiro, coloca-se o DDD; no segundo, o 9, que as operadoras acrescentaram ao número antigo; no terceiro, o prefixo do telefone; no último os algarismos que correspondem ao final do número da linha.

Concluindo, ao redigir o texto, deve-se apresentar as informações em blocos e não tudo de uma vez, evitando frases muito longas. Não deve haver receio em se usar o ponto e começar uma nova frase. Deve-se agrupar as frases em parágrafos, que necessariamente não precisam ser extensos, evitando, dessa forma, que o leitor tenha de voltar ao começo da frase ou parágrafo para entender a ideia.