Comece com o corpo. Concentre sua atenção no sangue. Ele é a coisa mais fluida a seu respeito. Você não pode retê-lo ou controlá-lo, como faz com a respiração. Ele tem circulado durante séculos na sua linhagem através dos seus ancestrais. Ele é a chave da sua história. Passada, Presente Futura. Qual é essa história?
Quis começar daqui - 2011 a 2024. De lá para cá, a partilha da história de uma mãe com uma filha. Tinham acabado de vivenciar a dor desgraçada de um crime. Sofreram abusos físicos, psicológicos e morais. Mãe e filha, histórias antigas, de vulnerabilidade e imaturidade vividas dentro do sistema patriarcal e machista em voga por gerações. A última das mães dessa família, carente do pai, tanto mãe quanto filha, a mãe, ainda jovem mulher inocente, com a filha ainda menina, achou finalmente ter encontrado o príncipe encantado para seguir a vida e construir família. Por muito tempo, esse trauma acompanha essa mãe, não sei te dizer quanto, mas sei que essa lacuna chamada família sempre lhe foi tão dolorosa. Ainda o é.
Com meio século de vida, ainda procura por a família, alguma que lhe traga pertencimento, sentimento de acolhimento. Aliás, a mãe me corrige: entendi através das leis do carma que o que busco é agrupamento, família por sintonia, não este modelo falido de relacionamentos adoecidos. Não mais, e quando chegamos cá no presente, a feliz notícia de saber existi-la, a família. Parece que a Mãe refere-se a tê-la encontrado. Aleluias! Esta é uma história de gerações, de mães e filhas sofridas, oprimidas, abusadas. Olha, isso é mais comum do que imaginamos ser possível. Triste realidade de humanidades involutivas.
A rejeição da vó, mãe da mãe com sua filha, mãe da mãe de outra filha, sua neta, e por aí vai, mulheres adultas, umas mães, outras filhas, contudo, ambas crianças feridas. Parece vir daí o termo da maldição hereditária, a repetição de crenças, dores e valores. Mulher como qualquer mãe ou qualquer filha, posso sentir. Está dito. As mulheres são regidas pelo magnético elemento Água, rio que jorra vermelho canal abaixo ao encontro da fecunda terra. Canal por onde a mãe dará à luz. Sangue e Vinho. O Corpo do Cristo Salvador. Quanta gratidão sinto agora. Você aí é capaz de sentir?
O círculo continua girando, a graça da Mãe Universal continua fluindo, lembrando-nos de voltar a este estado de inocência infantil todas as vezes que o mundo se torna tão esmagador que perdemos nossa ligação com nosso eu verdadeiro.
Quando a filha da vó se tornou mãe de outra menina, enquanto gestava, pensava mil, sentia milhões, e repetia para a bebê em sua barriga que essa dor sentida enquanto filha não iria se repetir. Pois ela, a mãe, não queria que a filha sentisse o que ela sentiu. Dolorosa ilusão, essa mãe ainda jovem, com três anos a mais do que hoje tem a filha, não sabia que existia maldição hereditária. Vida que segue. Momentos de sofrimento, mas de contato celeste. Espiralar a subida do eu. Encontro Interno. Ilhas de Salvação. Conexão com outras dimensões do ser. Dimensões de caráter Superior, eu sei, disse a Mãe.
Depois de atravessarem a escuridão desse crime sem punição judicial, entre dores e silêncios, fora a solidão, de uma mãe sem par, e uma filha sem pai, durante o percurso escuro pós-abuso, de tantos medos, choros e desespero, misturadas a fé genuína, a maternidade, a dança, aos estudos espirituais, ainda nesse momento, vulneráveis e desorientadas, são orientadas as fortes e inocentes meninas, por um falso profeta, hoje fugitivo da polícia, também abusador de inúmeras mulheres meninas. O caso está na TV, devido à Potência dessas mulheres educadoras, doutoras das leis. Vida que segue. Momentos de estupefação.
Bem-Amada Criadora, Mãe Abençoada, nós a invocamos e pedimos que sua Presença seja sentida Aqui e Agora. Abençoe e Dirija esse momento. Possa o Amor, a Luz e a Cura derramarem-se através de nós e possam as ondulações desse amor fluir para todos os seres e para nossa bem-amada Mãe Terra.
A mãe, embora adulta, trazia em sua trajetória ancestral a crença no príncipe encantado, no masculino em sua potência e perfeição, no amor verdadeiro entre um homem e uma mulher. Talvez por ser artista, aquele ser que cria e se sente instrumento do criador, para que a humanidade se divinize, e finalmente deixe o amor fluir, e o plano de paz, fraternidade e união ser cumprido. É muito onírico! Puro é o Lirismo, e necessário, não ordinário como se faz! Acreditar nos contos de fada e no amor entre os seres humanos. Vida que segue. Momentos de esperança.
Ocorre que nos sonhos dessa vulnerável mãe de menina, parecia ter chegado o príncipe, aquela esperança do encontro salvador, de sua alma feminina com esperado masculino curado do pai protetor, amigo fiel. Aquele que te tirou do poço da dor e te levou para onde a luz sinalizou. Tentou levar a filha que escolheu ficar com o pai, não com a mãe ferida sendo resgatada. Elas não devem ter compreendido a dor uma da outra. A filha escolheu o pai, ela seguiu com o amigo amor divino. Embora bem acolhida e segura, no coração tanto da mãe, do amigo, quanto das filhas, havia tristeza nos cantos. Vida que segue. Momentos de reencontros.
Foram inúmeras as idas e vindas dessa mãe para essa filha, sempre na tentativa de resgatar sua maior criação, das garras do cármico destino. Durante estes anos, a mãe nessa luta de permanecer perto da filha, quando a filha se sentindo rejeitada pela mãe, em um momento imensurável de sua dor, passa a rejeitar a mãe. É assim que acontecem as maldições hereditárias de uma família, mães, pais, filhos e filhas repetem as dores ancestrais. Dores que viraram traumas, traumas que viraram tristezas e tristezas que hão de se tornar Vitória na senda da evolução. Vida que segue. Momentos de Cura.
Entregar-se é a senha que abre as portas para outras dimensões e permite que você passe do lado de si mesma e continue andando. Corpos dotados de um sentimento seguro de si mesmos, um estado de arraigamento, um fluxo, uma aceitação, talvez até mesmo um traço de amor próprio.
A jovem mulher que a filha se tornou, e que tanto traz da mãe, embora por vezes a negue, a sabedoria e a luz da ancestralidade direta, se vê na menina mulher. Neste momento do contexto, o mundo vivia a pandemia planetária, o terror da morte e o isolamento social. Mãe e filha confinadas. Mais uma vez se faz necessária a ação de movimento e mudança, presentes sempre na vida da mãe. Muitas vezes sentiu-se desamparada, porém guiada por Fé e capacidade de transmutar a dor, a mãe sempre disposta a curar aquelas mazelas, carrega a filha para a Montanha, agora com importante presença e ajuda masculinas, tanto do amigo, que a mãe pensava fiel, quanto do pai avô, que já não tinha corpo, mas ainda gerava receita para suas herdeiras. Momentos Pandêmicos. Dramáticos. De Cura. Tanto dos corpos humanos como do corpo do planeta.
Seguras, embora amedrontadas com esse tempo de adoecimento, seguem mudança de malas e cuias para o vale rodeado de montanhas. Tempos de provas e revelações. Pois bem, Mãe e Filha atravessam tal momento de grandes conflitos, protegidas e agraciadas com a incomparável força presente da natureza ao redor, e a chance inestimável para auto curar-se vai sendo encontrada homeopaticamente no novo viver. É sobre sair da capital e migrar para o interior. Uma mudança que necessita da participação de suas almas. Ambas demonstram gratidão ao criador por isso, e seguem agora, para novas etapas de mais cura em suas vidas. A mãe, plantadeira devota de sementes boas, segue entristecida, porém alegre, resignada atravessa a sombra ingressando em terras férteis de abundância e fraternidades, a terra de novos começos, para que fiquem os frutos da união às próximas gerações, e que possa sentir-se cumprindo com a missão de sua alma, seja aqui nas montanhas do vale encantado, seja das Minas, onde se escuta o chamado das árvores e das estrelas.
E a filha, filha da plantadeira de sementes boas, encoraja-se a sair do ninho para alçar seus grandes voos, curar a criança ferida, libertando pois mãe e filha, por meio da ciência e da espiritualidade, a mãe já o fez, compreendendo por si, os caminhos de saídas, e seguindo adiante com a missão que acaba de iniciar-se, de resgatar almas aprisionadas em suas dores e traumas. Que a história dessa mãe e filha possa servir de reflexão a tantas outras mães e filhas que tiveram suas crianças feridas largadas nos bizarros cantos adultos, sem escuta, acolhimento e cuidados. Tanto quanto o amor, a cura, aspiravam com fé, a paz dos dias vindouros.