Quando você quer diminuir o consumo de produtos de origem animal da sua alimentação, o primeiro desafio é literalmente mental. Estamos tão acostumados a montar o prato tendo como estrela principal a carne, o frango ou o peixe, que fica difícil começar a pensar de maneira diferente na hora de decidir o que comer ou preparar uma refeição vegetariana ou vegana. Mas vamos voltar e entender melhor a nossa história, como tudo chegamos até aqui.

Por muitos anos, depois que o ser humano aprendeu a dominar o fogo, preparar e consumir carne de outros animais, esse sempre foi um produto escasso e passou a ser reservado especialmente a pessoas nobres e poderosas de sua época. A grande maioria da população tinha acesso a cereais, tubérculos e verduras, mas só ocasionalmente podiam consumir carnes. E isso foi a regra por muitos e muitos anos. De repente, se você teve avós que passaram a vida em zonas rurais, deve ter ouvido histórias em que essa era a realidade.

A quantidade de carne que as pessoas comiam estava diretamente ligada às suas condições financeiras. Era algo não abundante e não garantido. Até que depois de muitos anos, a indústria desenvolveu o cultivo de animais em larga escala e com isso, transformou completamente nossos hábitos. Usando técnicas, que infelizmente não levam em consideração o bem-estar animal ou mesmo a qualidade dos produtos, as carnes foram nas últimas décadas se tornando cada vez mais acessíveis para a maioria da população.

Hoje comer um bife com uns poucos vegetais ao lado é uma inversão imensa do ponto de vista histórico da alimentação humana e nem sequer pensamos nisso. Muito menos nos impactos ambientais que esta inversão pode estar causando no nosso planeta. Digo tudo isso para entendermos o status que ainda acompanha o consumo de carnes e proteínas de origem animal, em todos os sentidos.

A grande maioria de técnicas gastronômicas clássicas surgiu para aprendermos a preparar carnes cada vez melhor. Mesmo que você não seja um expert na cozinha, provavelmente sabe que qualquer carne que queira preparar precisa ser marinada ou temperada. Depois precisamos respeitar a temperatura e o tempo de preparo para que fique no ponto ideal. Além disso, quem cozinha muito bem, sabe ainda fazer molhos para acompanhar as carnes e assim tirar o melhor proveito possível desse ingrediente.

Ao mesmo tempo, são poucos os cozinheiros profissionais que conseguem preparar um prato que valorize os vegetais. Ou até mesmo que cozinhem eles no ponto correto - posso dizer por experiência de quem já comeu muitos legumes mal preparados por aí, mesmo que em ótimos restaurantes. Então preparei algumas dicas para te ajudar.

Comece aumentando o consumo de vegetais

Se o seu prato gira em torno da proteína animal com alguns poucos vegetais - provavelmente carboidratos simples como a batata e a cenoura, por exemplo - cortar a carne sem substituir por uma fonte de proteína vegetal pode não ser uma boa ideia. E a primeira coisa que irá sentir é a falta de saciedade nas suas refeições.

Você pode iniciar o seu processo aumentando o consumo de boas fontes de proteína vegetal, como: feijão, lentilhas, ervilhas, grão de bico. Todas elas podem ser preparadas de maneira similar ao feijão, que já estamos mais acostumados, e consumidas com arroz. Nada muito radical, mas que pode ajudar muito a consumir menos carnes.

Vegetais cozidos e passados não tem mesmo graça nenhuma

Assim como cada carne pode ficar muito melhor quando dedicamos atenção ao seu preparo, o mesmo acontece com os vegetais. Na maioria das vezes simplesmente cozinhamos os legumes em água fervente, inclusive cozinhamos demais, passando do ponto. Fazendo isso os vegetais não somente perdem os nutrientes, mas grande parte do que os torna interessantes também.

A textura é um dos elementos mais importantes na construção de sabores e uma maneira simples de preparar vegetais crocantes e saborosos é fazer vegetais assados. Assim, ao invés dos sabores se perderem, eles irão se concentrar no alimento e te surpreender!
Se tiver a oportunidade, experimente também preparar vegetais na grelha, como churrasco. Da mesma maneira que as carnes, eles ganham o aroma defumado do carvão e ficam maravilhosos. Vale muito a pena provar.

Tempero é tudo. Sempre!

Já parou pra pensar que sabor teria a melhor carne se você simplesmente colocasse um pedaço pra cozinhar numa panela com água? Pois é, nenhum. Mas é isso que costumamos fazer com vegetais o tempo todo.

Antes de assar, coloque seus vegetais numa tigela, adicione um fio de azeite e abuse dos seus temperos preferidos. Misture bem pra tudo ficar por igual e aí sim coloque numa assadeira no forno.

Se for preparar na frigideira, adicione também um fio de azeite, comece com fogo alto pros vegetais ganharem uma crostinha crocante, tempere com os temperos que mais gosta e experimente finalizar com metade de um limão espremido. A acidez irá trazer uma nova camada de sabor e mudar sua experiência ao provar. Pode acreditar!

Vá testando até entender suas preferências

Como qualquer preparo ou receita nova, pode ser que na primeira vez que você tente, o resultado não será o melhor possível. Mas não desista nessa hora! É muito importante testar combinações de temperos e modos de preparo diferentes até entender o que funciona melhor para você. Posso listar aqui meus condimentos e maneiras preferidas de consumir vegetais, mas isso não quer dizer que sejam as suas também. Por isso é essencial se jogar e provar de tudo, só assim você não só descobre suas preferências, como aumenta o seu repertório gastronômico e se torna um cozinheiro muito melhor!

Mudar a maneira que pensamos há muitos anos é um grande desafio, mas acredito que, seja por questões ambientais, éticas ou simplesmente pensando na nossa saúde, a tendência é que nós passemos a consumir cada vez mais alimentos à base de plantas. E tenho certeza de que essas dicas podem te fazer repensar algumas escolhas no dia a dia e se jogar num novo mundo de possibilidades, que sempre esteve ali, mas que por muito tempo decidimos deixar de lado e ignorar.