O presente texto visa ampliar a discussão sobre a temática da ética e das consequências utilitárias da prática do bem. Somos convidados a fazer o bem tão somente pelo dever de fazer o bem, por altruísmo, e não movidos pelo interesse de fruir vantagens por tais atos; ou seja, fazer o bem visando a um favorecimento pessoal, na verdade, consiste em agir para conquistar um bem maior; fazer o bem para obter resultados para si deprecia o benefício oferecido. Quem ajuda um pobre, um miserável, para ganhar o céu, estará simplesmente ajudando o semelhante ou visando, em primeiro lugar, aos próprios interesses? Aquele que paga o dízimo, supostamente a uma igreja com o intuito de obter retribuição divina, estará agindo eticamente ou barganhando com o Transcendente?

Não é nosso objetivo, aqui, promover sentenças, mas abrir um debate para uma reflexão ética na sociedade contemporânea. Seguindo nossa linha de raciocínio, o bem precisa ser desinteressado e não movido pelo interesse de obter vantagens para si. Se eu faço o bem para ganhar o céu, na verdade, o bem que estou fazendo se coloca em um grande questionamento.

Há pessoas que praticam o bem, são honestas e, de repente, não alcançam a prosperidade de que outras pessoas dispõem e ficam a se perguntar se vale a pena fazer o bem. Nesse sentido, vale ressaltar que a prática do bem é um desafio contemporâneo para a sociedade. A autêntica prática do bem visa a uma busca emancipatória de fazer o bem pelo bem e não esperando um fim vantajoso em consequência desse bem. Parece um contrassenso em relação à noção de justiça. Não estamos a minorar a importância do desejo de justiça que existe em nós, mas sermos realistas que o fato de alguém ser honesto, praticar o bem, não quer dizer que as circunstâncias da vida serão justas com ele retribuindo a bondade realizada.

O filme, A corrente do bem, demonstra a importância de se pensar não na lógica da justiça, mas na lógica da generosidade. O enredo do filme trabalha com a ideia da proposta de um menino que o bem poderia ser repassado para três pessoas que, por sua vez, repassaria para mais três pessoas e assim sucessivamente. Rapidamente o mundo foi beneficiado com práticas do bem multiplicadas. Nesse contexto, parece não haver uma resposta objetiva a respeito. É vantajoso na medida que estaremos construindo um mundo melhor para todos e não no sentido de que estaremos sendo beneficiados individualmente. No mundo individualista em que vivemos, temos dificuldade de pensar no coletivo e isso é um grande desafio porque temos à nossa frente a dificuldade de pensar naquilo que é vantajoso para a humanidade e não para mim mesmo.

Enfim, é vantajoso ser honesto e praticar o bem visando à multiplicação de uma postura para todos de valorização do bem e não apenas para si mesmo, pelo recebimento de favores pessoais; no entanto, ao optar pela prática do bem, estaremos construindo uma sociedade melhor para todos. Ser honesto é dever ético enquanto pessoa humana racional e é preciso divulgar as ações de honestidade para que sirvam de exemplo e não apenas tragédias e mais tragédias e atos de desonestidade (que existem). É preciso saber que há muita gente que está a praticar o bem de forma a multiplicar a caridade, a generosidade.

Oxalá, que refletir sobre a ética nos ajuda a sermos pessoas mais solidárias, fraternas e comprometidas com a promoção da paz e da justiça. Um novo mundo surgirá quando os valores éticos forem observados, tendo em vista que ações refletidas são sempre bem-vindas para pensar num mundo com mais condições de menor desigualdade social e luta pela paz entre as nações pautada pela diplomacia e pelo respeito à soberania de cada país.