Dias atrás, estava eu analisando os temas mais pesquisados no Brasil no período em questão e me deparei com um que há tempos não via tão em alta no gráfico: o papel das lentes da ciência, da religião e da cultura na construção do mundo. Nos minutos seguintes, me peguei refletindo sobre como o acesso a diversas culturas reflete na construção do ser humano.

Quando entramos nesse tema, temos a oportunidade de debater dezenas de tópicos e abordagens por horas e até mesmo anos, mas o que mais veio à minha mente foi o impacto que esse acesso pode ter no desenvolvimento da nossa identidade, valores e comportamento perante o mundo e sociedade.

Que existe um papel da cultura no nosso desenvolvimento e que ele é fundamental, a maioria de nós tem consciência e não há como negar. Mas o que nem todos sabem é de que maneira ela pode influenciar como agimos, pensamos e fazemos nossas escolhas. E sendo bem sincera e humilde aqui com você, eu também sei muito pouco, por isso tenho buscado cada vez mais informação para não apenas aprimorar meu autoconhecimento, mas também para ajudar nesse acesso, principalmente sobre as culturas dos países para os quais viajo e tenho contato.

A cultura começa na mente!

Você leu certo. A cultura começa na mente e molda o ser humano a partir das experiências com as quais temos acesso. Isso acontece porque uma parte do nosso cérebro, de forma rápida e instintiva, busca informações para construir nossas crenças, valores e definir nossas ações. Se as informações que ele encontrar forem negativas, serão essas a base para qualquer coisa em nossa vida dali para frente. Ou seja, o primeiro contato, a primeira impressão, que temos de algo, é o que direciona nossa interpretação do mundo e, consequentemente, nossas percepções, aceitações e atitudes.

Antes mesmo de entender mais sobre como nossa mente funciona, já havia sido apresentada na faculdade ao fato de que, normalmente, a informação que chega primeiro em uma corrida em nosso cérebro é a que passa a dominar. Por isso, como jornalista, fui ensinada a ter um cuidado ainda maior com as palavras e o modo que são ditas. Quando li o livro "Rápido e Devagar: duas formas de pensar" do autor Daniel Kahneman, compreendi de uma maneira mais técnica e científica o poder que elas têm na mente e na cultura. Vou lhe dar um exemplo:

Em 2023, fui a primeira vez para a Irlanda, iniciando a viagem logo pela capital, Dublin. A ideia que eu tinha da cidade era a de que lá tinha muita cerveja. Até aí, tudo bem. Mas antes de pisar em terras verdes, tinha ouvido falar que o povo de lá não era tão amigável assim, pelo contrário, era até um pouco rude. Se tivesse tomado essa primeira informação sobre os moradores de Dublin como verdade absoluta, ficaria totalmente cega para qualquer outra que viesse e que pudesse ir de encontro com o que já haviam me dito, e aí, a experiência da viagem seria horrorosa.

Quando passamos a duvidar da informação presente em nossa mente a partir das nossas primeiras impressões, nosso cérebro passa a utilizar uma outra parte que vai mais afundo nos dados, como se fizesse uma pesquisa mais demorada e detalhada sobre algo. Porém, isso só é possível quando temos bagagem de conhecimento armazenada. Caso contrário, ele vai encontrar o quê? Não haverá informação para confirmar ou mesmo desmentir a impressão inicial. No meu caso em Dublin, não tinha estoque de experiência ou informação, então havia uma probabilidade muito grande de já chegar julgando erroneamente e/ou de forma injusta quem morava lá.

O que fiz para não ser mais um número da estatística de pessoas que julga sem conhecer? Mantive minha mente aberta e absorvi as informações de forma independente. Sabe quando as crianças estão na escola e aprendem a separar os brinquedos em caixas de cores diferentes? Então…foi isso que fiz com as informações que fui recebendo e absorvendo antes e durante meu período na capital Irlandesa. Criei caixas em minha mente e ali fui colocando cada primeira impressão das coisas para, só depois, extrair todas elas e construir o meu próprio conceito sobre a receptividade dos habitantes de lá.

Se buscamos um mundo melhor, antes de tudo precisamos nos desenvolver mais. Para isso, temos que ter a consciência de que o contexto das coisas tem um papel enorme na nossa interpretação. Só que o contexto é gerado a partir do acesso a experiências e informações sobre as diversas culturas que temos no mundo. Sei que o espaço no qual vivemos é extremamente grande, afinal, somos quase 8 bilhões de pessoas espalhados em um total de 193 países. Já imaginou quantas culturas existem e quantas ainda serão criadas?

No mundo "Disney", aquele ideal e perfeito, todos nós deveríamos ter a oportunidade de viajar e ter a primeira impressão em pessoa, presente no local. Infelizmente, esse não é o universo no qual vivemos, mas isso não impossibilita o acesso ao conhecimento de novas culturas. Temos ferramentas, tecnológicas e não tecnológicas, suficientes para que o ser humano possa se desenvolver com uma maior perspectiva do mundo. Talvez a viagem em si não seja possível, mas temos livros, temos podcasts, temos vídeos, temos perfis de pessoas que compartilham experiências sinceras, temos sites de notícias, temos comunidades, temos troca de informação, temos a oportunidade de questionar e refletir.

Quanto mais buscarmos e abertos estivermos a isso, faremos com que a nossa própria identidade passe a ser construída a partir de mais cultura, menos julgamento e mais experiência.