Você ficou sabendo da moça estrangeira que teve seu vídeo viralizado ao comentar Memórias Póstumas de Brás Cubas? Se não, tenho uma notícia para te contar.

Courtney Henning se desafiou a ler obras de todo o globo terrestre em ordem alfabética, e narrar sua jornada no TikTok. Ela só ficou muito chocada em encontrar seu livro preferido já na letra B: Brasil já conquistou seu coração com sua obra emblemática Memórias Póstumas. Não demorou muito para os gringos serem inspirados pela influencier e tornar essa obra universal a mais vendida da Amazon.

Eu li Machado de Assis, esta obra citada em específico, no ensino médio. Minha professora de Língua Portuguesa falou do livro com tanta paixão que foi difícil não ler e se apaixonar junto, tanto que me juntei à turma que também foi assistir à peça teatral da mesma (que susto levei quando o ator apareceu do meu lado em uma cena!). Digamos que o personagem principal não era uma pessoa legal - geralmente encaramos a visão do protagonista como possível heroi em sua jornada - mas Machado já me ensinou que o narrador pode influenciar o leitor, logo precisamos encarar que a narrativa pode sim não ser nada heroica, mas ainda sim muito interessante.

Há muito tempo li esta obra, e a sátira e o humor são resquícios que reverberam ainda em mim. Ah, claro, a crítica social. Nesse ponto me lembro logo de Jane Austen, uma das minhas principais referências. No mais, o que me leva a trazer esta minha experiência pessoal sobre a obra é que muitos brasileiros também sentem muito e aprendem até hoje com ela, fico é muito contente em saber que os gringos estão desfrutando do nosso tesouro nacional.

Claro que este fenômeno é também muito engraçado: há um estigma de que as obras brasileiras não sejam tão boas quanto as estrangeiras (fruto da colonização) e me gracejo com a ideia de que pessoas que partilham deste pensamento possam agora alimentar a curiosidade, pois até quem é de fora aprova. No fim, todo mundo se beneficia.

Pensar que há tantas riquezas culturais em nosso país me deixa muito contente, e quero ler ainda mais autores brasileiros. Fui uma das pessoas que li muita literatura inglesa antes, e hoje adulta, percebo o quanto estava cega àquilo que já estava aqui dentro. Igual aquela ideia: pretendo viajar ao exterior - muito bom mesmo, é ótimo ter essa meta. Em contrapartida, há muitos lugares e turismo propriamente brasileiro, que particularmente tem me atraído bastante - vide meu artigo sobre o nordeste. Lembrando que isso não é uma regra, mas uma reflexão minha.

A redescoberta de Machado de Assis por um público global é apenas um exemplo de como a literatura brasileira tem um potencial vasto e ainda subexplorado. Obras que capturam a essência de nossa cultura e sociedade podem ser faróis para novas gerações, tanto dentro quanto fora do Brasil. É um lembrete de que precisamos valorizar e divulgar nossos escritores e suas obras, não apenas por orgulho nacional, mas por reconhecimento do valor universal de suas contribuições.

Além disso, a reação positiva de leitores estrangeiros destaca a importância da diversidade literária e cultural. Cada autor traz uma perspectiva única e insubstituível, e ao celebrarmos essa diversidade, enriquecemos o panorama literário global. Então, da próxima vez que pegar um livro brasileiro, lembre-se: você está explorando um tesouro que, como Courtney Henning descobriu, merece ser apreciado por todos.

Moral da história: gringos, continuem nos divulgando! Temos Lívia de Andrade, Cecília Meirelles, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Conceição Evaristo, Ariano Suassuna, e tantos autores que precisam ser descobertos de novo (e quantas vezes forem necessárias). Quando uso essa expressão até conservadora do descobrimento - quem descobriu o Brasil? - não quero reforçar a ideia que a Europa criou, mas convido a um ressignificado: tudo que é bom merece ser compartilhado.

No Brasil tem muita coisa boa, aproveitem e descubram esse conhecimento!