"Desafio da foto de cara limpa"; "Como passei a aceitar o meu corpo"; "Marcas de beleza da pele". Estes são apenas alguns exemplos de trends ocorridas no Instagram e outras redes sociais por atrizes, influencers e celebridades. O amor à beleza natural e o empoderamento contra a ditadura da beleza ganharam força nos últimos anos; contudo, apesar de uma ótima ideia, a execução foi equivocada e até mesmo falsa.
As críticas a essas trends começaram a partir do momento em que as fotos "sem maquiagem" eram claramente modificadas por filtros e, pior, maquiadas para parecerem não maquiadas. Além disso, na maioria das vezes, os rostos "naturais" possuíam diversos procedimentos estéticos, o que já anulava a ideia de "se aceitar como você é".
Outra das críticas deve-se ao fato de atrizes, influencers e celebridades se dizerem contra a ditadura da beleza, mas continuarem a ter corpos extremamente magros, torneados, fazendo de tudo para se manterem jovens e magras de qualquer maneira, contradizendo totalmente a mensagem que elas dizem apoiar.
Madonna, quando lançou seu livro Sex, foi enormemente criticada tanto pela mídia como pelas pessoas por "estar apelando demais"; contudo, Madonna apontou que as críticas se deviam ao fato de o livro dela ser uma eroticidade na visão de uma mulher e não para agradar ao público masculino, e é nesse ponto que entra a questão entre "ter orgulho do seu corpo e da sua sensualidade" e o "ser sensual para o olhar masculino".
O problema que diversas feministas criticam não é o fato das mulheres usarem roupas curtas, mas o porquê de elas usarem as roupas curtas. Mas o que isso tem a ver com as trends das redes sociais? Mesmo que pareça desconexo, os dois assuntos estão ligados um ao outro de forma profunda. A forma como celebridades, atrizes e influencers se vestem e se comportam reflete não apenas nos seus fãs, mas na própria sociedade como um todo.
Como dizer para uma adolescente ou uma mulher de classe mais humilde que ela também é bonita e maravilhosa sendo que todas as atrizes que ela é fã, as influencers que ela segue e as celebridades que ela vê na televisão e na internet modificam seus corpos e rostos para se encaixar na ditadura da beleza que tanto dizem serem contra?
Não apenas isso, mas o fato de diversas influencers e celebridades se submeterem a plásticas e outros procedimentos assim que ganham dinheiro demonstra a total falta de sincronia entre o que elas dizem e o que elas fazem.
O fato de se submeterem a procedimentos estéticos não é o problema; o problema é elas venderem uma imagem modificada como se fosse natural, o problema é venderem um empoderamento e um feminismo que soa completamente falso e vazio, ainda mais quando as atitudes divergem da mensagem passada.
Não adianta criticarem o machismo nas mídias e na televisão, sendo que elas próprias se submetem ao que diretores, produtores e patrocinadores exigem. Na maioria das vezes, o fato de elas usarem roupas justas e curtas não é para empoderar e mostrar orgulho do próprio corpo, mas sim para agradar aos olhares masculinos.
E é exatamente esse fato que faz com que o empoderamento e o feminismo de celebridades soem como vazio e falso. Somado a isso, as pautas importantes acabam por perder força e se tornarem chacotas por conta disso.
Podemos pegar o Big Brother e outros realitys como exemplos. Todos os participantes "normais" passam por diversos procedimentos estéticos antes de entrar dentro da casa, como se fosse uma obrigatoriedade para aparecer na tela da televisão. Não apenas isso, mas as participantes femininas são as que mais são submetidas a procedimentos estéticos.
Outro exemplo é a diferença de vestuário entre homens e mulheres em realitys de competições. As mulheres são submetidas a usarem roupas curtas, justas e desconfortáveis, enquanto os homens usam roupas mais largas e confortáveis. E o que dizer da nudez desnecessária delas no Carnaval?
As atrizes, influencers e celebridades são alvos constantes de crítica não apenas por haters e machismo, mas pelo fato de usarem de pautas importantes para autopromoção e engajamento. Como dito anteriormente, torna-se irreal dizer para uma adolescente ou mulher de classe baixa para "se amar", "aceitar o corpo", "não se render à ditadura da beleza", sendo que as próprias pessoas que falam isso não seguem o que falam.
Além disso, o fato de elas fazerem propaganda de produtos para beleza, produtos esses que, aliás, não são usados por elas, torna tudo ainda mais hipócrita e grave. É irresponsável e mentiroso fazer propaganda de um produto que elas não consomem e dizerem que a beleza delas é por causa de tal produto, sendo que na realidade a beleza delas é um combo de plásticas, procedimentos estéticos e produtos importados e caríssimos.
O falso empoderamento entre celebridades de falar, por exemplo, "fulana está linda com seus 75 anos, nem parece que tem essa idade", quando a fulana é milionária e tem acesso a produtos de beleza de alta qualidade e aos melhores tratamentos estéticos que existem, torna-se ofensivo para as diversas mulheres batalhadoras de classe mais pobre e que não têm sequer acesso à saúde básica de qualidade.
O problema não é o fato da fulana ser elogiada, mas o fato de tratarem a beleza dela como se fosse natural e não proveniente de diversos fatores estéticos e econômicos.
Se elas querem realmente serem empoderadas e feministas como dizem ser, que pelo menos sigam o que falam, que realmente lutem contra o machismo que tanto criticam e não aceitem serem objetos para agradar olhares masculinos, que sejam mais pela sororidade e menos pela disputa e principalmente sejam honestas, pois a hipocrisia só acaba por prejudicar e esvaziar um movimento que é ão importante não apenas para elas mesmas, mas para todas que se espelham nelas.