No passado dia 10 de março, o país foi chamado, novamente, a eleições. Se antes as Eleições Legislativas eram de quatro em quatro anos, agora são algo muito recorrente no país. De tal forma que, ultimamente, tudo serve de mote para levar os portugueses às urnas. Será desta que o país dá a volta e ruma em direção ao progresso? Infelizmente, desconfio que não, porque 1 milhão de portugueses decidiu eleger 48 deputados de um partido de extrema-direita para a Assembleia de República, o órgão de soberania da nossa Democracia, que nunca esteve tão frágil como agora.

Os mais distraídos e despreocupados com a vida pública devem estar a pensar para com os seus botões que “Não faz mal, fica para a próxima”, até porque não deve demorar muito até que o Presidente da República se veja obrigado a convocar novas eleições vendo em revista os últimos acontecimentos. Mas faz mal, muito mal! E não pode ficar para a próxima, porque se fica para a próxima, temo bem que o CHEGA, a terceira força política portuguesa, ganhe ainda mais força e chegue aonde tanto almeja: ao poder e aí já não haverá quem nos salve.

O país e os portugueses desejavam uma mudança positiva e, não aquilo que se veio a verificar que, foi dececionante e alarmante. Depois das contas (quase) todas feitas, chega-se à conclusão de que a abstenção não era tão baixa desde 1995, tendo-se fixado nos 33,77%, quando há dois anos, em 2022, ficou nos 48%.

Diria que podemos tirar daqui algumas conclusões: por um lado, verificou-se um decréscimo notório da abstenção e, por conseguinte, podemos afirmar que os indivíduos já não descartam o seu direito de voto como antes. Mas por outro lado, a forte adesão às urnas, no passado dia 10, convergiu no reforço da eleição de um partido de extrema-direita para Assembleia da República, sendo no momento, o 3º maior partido com assento parlamentar. Assim, limito-me a perguntar: como é que no ano em que se celebram 50 anos do 25 de Abril e do fim da opressão são eleitos cerca de 50 fascistas para o Parlamento? Querem um Salazar 2.0 em Portugal? O André Ventura e a sua comitiva são perfeitos para o cargo. Só que não!

A Democracia tem de prevalecer acima de tudo! Por isso, e também por conhecermos a história da Europa do século passado, que teve vários países aprisionados sob a égide de partidos de extrema-direita, do qual Portugal também fez parte, não recuemos agora. Não deitemos tudo a perder por mera teimosia e “atos de descontentamento”. Compreende-se a insatisfação dos cidadãos e sabemos que o país tem ainda um longo caminho pela frente para atingir o progresso e ver todos os seus problemas resolvidos, mas não é com partidos como o CHEGA no Parlamento, que iremos encontrar soluções.

Não iremos chegar a lugar nenhum com partidos como o CHEGA que, se diz defensor dos “portugueses de bem” ou que quer “limpar Portugal”, quando é preconceituoso para com os que são diferentes de si. Não conseguiremos progresso com partidos que amparam ideias como a “família tradicional” como o outro Senhor, Salazar, um dia defendeu, que tornou a mulher num ser oprimido e sem vontades e desejos próprios, onde a sua única obrigação era ser uma esposa extremosa com o marido e os filhos. Seja lá o que isso signifique.

O CHEGA também se mostra contra as ideologias de género, um tema bastante debatido e um tanto sensível. No entanto, não deve ser o CHEGA ou qualquer outro partido que, deva decidir sobre a sexualidade dos indivíduos. Cada um é como é e, para nós sociedade, resta-nos aceitar e ajudá-los a integrarem-se.

Outro assunto no qual o CHEGA se tem mostrado contra é o aborto e, sendo uma jovem adulta que vos escreve, este tópico em particular dá-me uma certa urticária. Mais defende que uma gravidez fruto de abusos deva ser levada até ao fim. Dizem-se defensores da vida e até aí não vejo mal nenhum nisso. O que não vejo com bons olhos é defendem atrocidades como a que foi referida acima, de que uma mulher vítima de abusos sexuais no caso de ficar grávida deva prosseguir com a gravidez. A defenderem isto, com certeza não devem ter perdido muito tempo a imaginar como seria estar no lugar de uma vítima de abusos sexuais.

Por mais que se tente imaginar o que é passar por uma situação dessas, já mais em tempo algum, saberemos pelo que a vítima está a passar nem o que está a sentir. Logo, pensamentos como este não fazem qualquer sentido. Para tal, ainda vivemos numa Democracia, e as mulheres têm livre-arbítrio para decidirem o que querem e o que não querem para si. Depois, levanta-se outra questão que é reviver repetidamente o sucedido, pois progenitora ao olhar para a criança, de que nada tem culpa, irá estar sempre relembrar… Qual é que é a necessidade provocar sofrimento gratuito a ambos?

De uma coisa este partido tem razão, os portugueses estão fartos de serem ludibriados em promessas vãs. No entanto, receio bem que a mudança não resida num partido de extrema-direita a comandar os destinos de Portugal. Não faz sentido, regressar à penumbra do medo e da opressão. Não, depois tudo. Depois do mesmo país há quase 50 anos ter feito uma Revolução e ter deitado por terra 48 anos de ditadura, de medo, de falta de liberdade, falta de direitos. Não deitemos por terra a Liberdade o que custou tanto a ser conseguida. Não acredito em coincidências, mas acredito que somos responsáveis pelos nossos atos e, mais cedo ou mais tarde, acabamos por sofrer as consequências dos mesmos. O resultado das Legislativas de 2024 é bastante ilustrativo disso mesmo, ou seja, que as nossas ações têm repercussões no nosso futuro, boas e más, como tudo na vida. Assim, espero que o país consiga sair deste imbróglio sem muitas lesões e, sobretudo, que a Democracia saia vencedora, mas lembrem-se de uma coisa, a História é cíclica, por isso as “más decisões” de hoje podem muito bem ser o nosso futuro.