O Brasil se apaixonou pela versão nacional do reality Casamentos às Cegas. Quem assiste ao sucesso da Netflix pode acompanhar os desafios e perrengues enfrentados pelos casais na busca de um amor eterno, sobretudo as mulheres, normalmente mais bem resolvidas. O que se pode constatar também é o quanto o machismo e a imaturidade masculina ainda são tóxicos e tão predominantes. Podemos, inclusive, observar em determinados participantes a denominada Síndrome de Peter Pan, aquela que acomete os homens que se negam a crescer.
Fugir para a Terra do Nunca para não ter que encarar o amadurecimento e enfrentar as situações mais adversas não é a melhor opção. Embora seja frequente nos relacionamentos. Atualmente, estamos vivendo em um contexto em que é mais fácil colocar um ponto final às relações em vez de tentar “consertá-las.”. Em outros tempos, a gente tentava melhorar o que estava causando conflitos. Hoje, muita gente prefere terminar o relacionamento, porque o outro não condiz com a realidade do primeiro momento. E aí a minha pergunta: será que o amor é mesmo cego ou nós é que não queremos enxergar?
As relações são mais fluidas e efêmeras. Assim, quando as pessoas percebem que as impressões do começo do relacionamento, que são de idealização do amor, quando percebem os defeitos da outra parte, nem sempre estão dispostas a continuar. A gente termina e não resolve isso com a gente. Por isso, sempre vai levar para o próximo relacionamento e pode não dar certo sucessivamente.
Viver em um mundo imediatista e regido pelo princípio do prazer pode ser um dos colaboradores para essa busca incessante pelo amor ideal, pela felicidade plena. Afinal, podemos mesmo nos completar através da presença do outro? Podemos mesmo ser felizes plenamente? E onde ficariam as tristezas, a possibilidade de sentir essas emoções que não são confortáveis, mas que são importantes para nossa construção como sujeito! Você já se perguntou o que você busca em uma relação, o que te faz marca em um parceiro(a), aquilo que te captura, aquilo que é fundamental para você amar aquele outro?
Algo no outro nos captura, nos encanta, nos faz pulsar e desejar. Esse “algo a mais” é aquilo que muitas vezes pensamos que a nossa falta está sendo preenchido ou pelo menos, acreditamos que ela vai ser. Portanto, meus caros, a falta continuará lá, cabe a nós, sujeitos contemporâneos lidarmos com essa falta. A realidade nem sempre nos agradará, mas estar diante dela é de fundamental importância para reconhecermos e deixarmos cair esse ideal que às vezes nos atormenta e angustia. Podemos pensar: o princípio do prazer é mais satisfatório, vivemos o momento, aquele prazer emergencial, porém, necessitamos da barreira que impede de nós querermos realizarmos todos os nossos desejos. Até porque, será que queremos mesmo satisfazê-los? Sempre questiono: Cuidado com o que você deseja e muitas vezes nem sabemos pelo que estamos buscando, mas achamos que sabemos o que desejamos.
Vamos pensar sobre o porquê a realização torna-se mais atraente do que o caminho, o percurso em si. Vamos pensar porquê temos tanta dificuldade em lidarmos com as frustrações, com os “nãos” ou os “talvez”, precisamos nos decepcionar para sempre termos expectativa. Calma, não digo nos decepcionar sempre, mas precisamos lidar com essa quebra de ideal, isso sim é muito importante para construirmos algo mais sólido. Portanto, atenção! Enfrentar a realidade é muito importante e a comunicação na relação é fundamental para um relacionamento saudável. Precisamos lidar melhor com as frustrações, com as decepções e as desconstruções da idealização. Precisamos encarar de forma mais funcional a realidade. E a terapia pode te ajudar muito nesse processo, de entender seus desejos, compreender melhor seus comportamentos e o porquê de muitas vezes nos auto sabotarmos. Será que buscamos mesmo a Felicidade? Ou nos auto boicotamos com medo dela? Vamos refletir a respeito.