Você já deve ter ouvido falar: Não coloque os cotovelos em cima da mesa! Não faça barulho ao tomar sopa! Use os talheres de forma correta! Não palite os dentes! E de maneira mais contemporânea, não fale ao celular à mesa, dentre tantas outras regras de comportamento.

O objetivo aqui não é fazer juízo de valor e diagnosticar o que é certo ou errado. A proposta é fazer um breve recorte histórico de como a burguesia utilizou estas normas de comportamento para se distinguirem de pessoas mais pobres.

Nesta reflexão, vamos abordar o período dos séculos XV ao XVIII, onde a etiqueta desempenhou um papel fundamental na sociedade, especialmente entre a nobreza e a classe alta. Nesse período, a etiqueta era uma forma de demonstrar status, poder e refinamento, e o descumprimento das regras de etiqueta poderia resultar em desaprovação social e até mesmo em consequências mais graves.

A palavra etiqueta tem origens gregas e francesas, com significados distintos. No grego, éthos se refere à conduta e comportamento, enquanto stikos significa lugar. Por outro lado, a etiquette francesa é associada à apresentação estética do bom e do belo. Durante o Renascimento, no século XV, a etiqueta começou a se desenvolver de forma mais sistemática, com manuais de boas maneiras sendo escritos e disseminados entre a nobreza. Regras rígidas de comportamento e vestimenta foram estabelecidas, ditando como se portar em diversas situações sociais, desde banquetes e bailes até encontros formais.

Essas regras incluíam vestimentas adequadas, maneiras de se portar à mesa, formas de cumprimentar as pessoas e até mesmo a linguagem utilizada. Tudo isso tinha o objetivo de mostrar que a burguesia estava mais refinada e educada do que as classes mais baixas. A etiqueta social sempre foi um recurso utilizado pela burguesia para adentrar na corte e se diferenciar dos plebeus.

A etiqueta social também era utilizada como uma forma de demonstrar poder e status. Quem conseguisse seguir todas as regras e mostrar-se mais elegante e educado do que os demais, era automaticamente considerado superior. Isso dava à burguesia a oportunidade de se destacar e conquistar um lugar na corte, onde o acesso era restrito apenas aos mais influentes e poderosos.

Além disso, a etiqueta social servia como uma forma de manter as classes sociais separadas e garantir que os pobres não conseguissem ascender socialmente. Ao criar tantas regras e normas sociais, a burguesia garantia que os menos favorecidos não tivessem chance de se misturar com eles e ameaçar seu status quo.

No século XVI, com a ascensão da monarquia absolutista, a etiqueta tornou-se ainda mais importante, servindo como forma de reafirmar a hierarquia social e a autoridade do monarca. As cortes reais eram verdadeiros espetáculos de etiqueta, onde cada gesto e palavra eram cuidadosamente calculados para manter a ordem e a harmonia.

No século XVII, com o absolutismo em seu auge, a etiqueta atingiu seu apogeu, com regras ainda mais estritas e cerimônias elaboradas. A corte de Luís XIV, o Rei Sol, na França, era um exemplo máximo de etiqueta e pompa, onde cada detalhe era pensado para exaltar o poder e a grandiosidade do monarca.

Já no século XVIII, com o surgimento da sociedade de classes e o advento da Revolução Industrial, a etiqueta começou a perder um pouco de sua relevância, dando lugar a uma cultura mais informal e democrática. No entanto, as regras de etiqueta ainda persistiram entre a classe alta e a nobreza, continuando a desempenhar um papel importante nas relações sociais e políticas.

Em resumo, a etiqueta social sempre foi um recurso utilizado pela burguesia para se diferenciar dos pobres e garantir seu lugar de destaque na sociedade. Ela servia como uma forma de mostrar poder, status e superioridade, ao mesmo tempo em que mantinha as classes sociais bem definidas e separadas. Porém é importante pensarmos que as regras de etiqueta, em si, não têm caráter bom ou ruim. Elas apenas mostram como somos humanos ou como tentamos esconder nossa falta de humanidade.