Após um breve e pequeno think tank 1 Lusófono nos idos de 2016/17, constatei também a afirmação insegura da autora Maria Regina Mongiardim, em sua obra Diplomacia, que a definição desta matéria como económica não seria precisa, inexistindo uma conceituação para tal, nem uma teoria específica. Entretanto, ali reconhece que ferramentas de política económica externa dos Estados, são introduzidas na Diplomacia tradicional. E ainda, acrescentou que como continuidade da política interna de um Estado, os assuntos económicos internacionais já assumem maior relevância nas agendas políticas externas, chegando até a relegar para um segundo plano os assuntos domésticos destes mesmos Estados.

Os planos de defesa em determinadas circunstâncias, podem depender dos interesses e dos objectivos económicos, como um complemento de apoio estratégico na actuação internacional. Exemplo seria inclusive, as ações no Médio Oriente, principalmente as no Golfo Pérsico, onde está o maior volume do comércio internacional e do transporte marítimo global.

Assim, também podemos considerar a questão Chinesa, da construção e desenvolvimento da nova Rota da Seda, que estender-se-á até a Europa, atravessando todo este oriente médio e levando comércio e desenvolvimento por toda a sua extensão. Também, uma rota marítima pela extensão sul do continente oriental, complementará a rota terrestre. Vejamos portanto, que a teoria e conceituação da Diplomacia Económica que até então creia-se inexistente, vem se formando ao longo dos anos, décadas e séculos gradativamente, pela transformação da política externa dos Estados antigos e modernos, de acordo com uma nova geopolítica que foi se formando.

Os interesses económicos foram suplantando ou complementando os interesses políticos, ao passo que os sistemas políticos também foram se transformando, de Monarquias para Democracias, por exemplo. Também o sistema económico de suporte destas políticas, foi se transformando de mercantilista para capitalista, a diplomacia tem se apresentado como política económica, utilizando-se da diplomacia comercial inclusive, para a solução dos conflitos.

Os conflitos financeiros evidentes, substituíram em parte os conflitos bélicos, que no início do século deram origem a duas grandes guerras mundiais, originariamente com motivações territoriais e económicas.

Concluíram que numa ausência de conflito armado, se promoveria uma paz duradoura e desenvolvimento social pacífico, através da economia globalizada e dos seus sistemas de mercado. A ferramenta do comércio internacional, dos livres mercados com a circulação de pessoas e productos, promoveria rápido crescimento e enriquecimento generalizado, em favor do bem-estar mundial e de suas sociedades.

Obviamente estes processos são lentos, algures e alhures, quando defrontam-se com os vários níveis intelectuais e culturais das populações mundiais, que em graus variados de desenvolvimento e com suas particularidades sociais, vêm estes mesmos processos e seus fins de formas diferentes. Entretanto, de acordo com a teoria das necessidades, a pirâmide de Maslow define que o atrito termina quando as necessidades básicas são supridas.

Após estes processos evolutivos económico-sociais, novas preocupações mais serenas ocupam as mentes envolvidas. Entretanto, alguns opinam que os líderes políticos mundiais actualmente, estão distantes das realidades populares de suas sociedades, vindo daí então uma crescente expansão dos populismos, por todo o mundo. Talvez por isso, dois artigos da recente Revista Le Monde Diplomatique Brasil, deram destaque às Fissuras na Fortaleza do Livre-Comércio e o Novo Nafta (USMCA), de Lori Wallach e Laura Carlsen2.

Por isso então, decidi aglutinar, traduzir e explicar, esta nova teoria moderna de economia diplomática, tão usada ao longo das criações de Aldeias Globais e, apresentá-la em livro português, definindo e esclarecendo está antiga e moderna prática, rejeitada ou desconhecida temporariamente, por uma cultura que acabou dando preferências ao desenvolvimento estatal de reserva de mercado mercantilista e protecionismo anti-desenvolvimentista.

Viu-se neste período, a ruptura do sistema cambial entre outras ações, que desconstruiu e aniquilou exportações e consequente desenvolvimento, por um Estado inoperante ou desinteressado na tal unânime certeza económica mundial. Provas como as do Sudeste Asiático, Japão e finalmente China, prevêem que Índia, segue um mesmo caminho, entre outros, como o Oriente Médio inclusive.

As desconstruções económico-políticas de outrora, para as reinvenções e reconstruções de aurora, apenas afetam melindrosamente, novas gerações recentes, que não descortinaram passados recentes ou mais, justamente por não terem tido tempo, conhecimento nem condições para tal. Por isso, experiência e poder, deve ser outorgado e promulgado para capazes professores, e não aos novatos aprendizes. O barato sai caro, quando negligenciado, oportuniza incautos a aprenderem para reensinarem, o que já se sabia…

Notas

1 Think tank, "tanque pensante".
2 Le Monde Diplomatique Brasil, nr.136.