O que sabemos do café?
Nos dicionários informais e formais, café significa a “semente do cafeeiro” ou “sementes do cafeeiro secas e torradas”.
Então, vamos falar um pouco sobre o assunto. Fique comigo até o final.
A expressão “vamos tomar um café” lhe é familiar? É muito mais do que a semente do cafeeiro; é um momento para se sentar, relaxar, refletir e conversar.
Para muitos, é o momento mais importante do dia (café da manhã). Para outros, “se eu tomar café à noite não consigo dormir e tenho pesadelos”. Outras pessoas dirão: não me acontece nada; aliás, preciso tomar um café à noite para que consiga estar nos braços de Morpheus (deus do sono). Já outros alegarão: “café... tudo de bom, preciso dele depois do almoço para fazer a digestão” e coisas assim.
O café e o tabaco caminham juntos em alguns casos, ou o café substitui o tabaco. Pessoas mais sensíveis dirão que o café é um vício e, portanto, não pode fazer bem.
Com certeza, os profissionais da saúde, na sua maioria, que trabalham em plantões, sejam diurnos ou noturnos, não conseguem ficar sem seu cafezinho.
O café da padaria é o melhor, servido em copos transparentes chamados copos americanos, faz parte do dia a dia do brasileiro. Puro ou com leite, ou com canela, ou chantilly ou..., sei lá, café é bom no bolo, com chocolate e com tudo. Os mais formais não renunciam ao café na xícara.
Percebam que só estou falando bem, afinal, sou um “cafeinado”, termo dado aos viciados (doidos) em café.
É considerada uma droga poderosa, mas aceita socialmente, pois é a mais consumida no mundo. A cafeína, embora não seja prejudicial aos outros, não significa que seja benéfica a quem a ingere.
A cafeína é um composto químico classificado como alcaloide e pertence ao grupo das xantinas, conhecidos cientificamente por trimetilxantina de fórmula C8H10N4O2, mas vamos deixar isso de lado. O que sabemos é que é uma substância que ativa o sistema nervoso, favorecendo o estado de alerta e atenção, aumento da concentração e memória.
Cada pessoa tem uma referência sobre o café, mas é possível entender que os fatores influenciadores são: idade, peso e capacidade do fígado de digerir essa substância.
As cefaleias, conhecidas como as dores de cabeça intensas, onde os vasos neurológicos podem estar em vasoconstrição (estreitamento do canal dos vasos), podem sentir uma melhora no consumo do café nesse momento, pois relatam alívio da dor, talvez por relaxarem os vasos diminuindo a tensão que ocorre dentro deles. Verdade ou mito? Como não sou um pesquisador ativo do café, prefiro dizer que: pode sim ter relação ou não.
O intuito de nossa conversa não é exatamente discutir se o café faz bem ou não, mas sim da simbologia de tomar o café como um momento separado para conversa, descontração, prazer ou alegria.
Hoje, com meus 53 anos (caracas, já vivi meio século), lembro da fala de um senhor que já com seus 65-70 anos, e eu com meus 23 anos na época (saudades, rs), me fez um apontamento interessante que me fez refletir por toda a minha vida e que uso muitas vezes em sala de aula.
Estávamos conversando de assuntos aleatórios e, em um dado momento, entramos no assunto dívida. Eu estava preocupado com contas que estavam para vencer e já vencidas; eu havia iniciado minha primeira graduação e constantemente ficava desesperado em ter o dinheiro para pagamento das mensalidades, aluguel e outros, e eu referia que até perdia o sono por isso (neste momento eu já trabalhava em plantões noturnos em dois hospitais locais para custear esses gastos, uma vez que meus pais de origem humilde não podiam me ajudar financeiramente, eram tempos difíceis).
Ele calmamente me serviu um café e continuou falando comigo. Ele, empresário, já tinha experimentado muitas coisas na vida. Me disse que não perdia o sono e que dormia bem, e que, com certeza, as suas dívidas eram infinitamente maiores que a minha.
Perguntei como?
Simples, me respondeu, os bancos funcionam em horário comercial, portanto não haveria cobrança à noite. Então, deixava para se preocupar durante o dia de segunda a sexta, pois sábados e domingos estava livre das cobranças (saudades daquele tempo). Não perco o sono com isso, devo e vou pagar, negociar e renegociar como for possível.
Vale a pena lembrar que, em 1993, os celulares (chamados tijolões) estavam ainda surgindo aqui no Brasil e na cidade local onde eu vivia. Os telefones (fixos) não eram para todos, os computadores não eram disponíveis como hoje e a internet discada começava a ser utilizada.
Hoje, consigo entender porque naquela época ele conseguia viver tranquilo e feliz.
E ainda me relatou um fato ocorrido com ele em uma cobrança (que na época era presencial) que vou relatar. Palavras daquele ancião: entrou em minha sala um cobrador, bravo, bufando, seus olhos pareciam um rio de ódio e raiva. Confesso que fiquei com medo, reforcei o Sr., mas o deixei falar tudo, reclamar, cobrar; parecia estar endemoniado, rs, mas deixei ele falar e, em dado momento, perguntei: aceita uma café? O cobrador disse não, quero o dinheiro! Tem certeza que não quer um café? Já disse que não, quero o dinheiro! O ancião persistiu... O Sr. já parou para pensar como é feito o café? Olha essa xícara, esse pires, quanto foi custoso para fazê-la? E esse cheiro, aroma? O cobrador, para e diz: tá bom.. me dê um café.
Quando de posse do café na mão do cobrador, agora mais calmo sem olhar de cachorro raivoso, o Sr. fala: vamos sentar aqui e conversar.
Explicou o que estava acontecendo com a empresa e chegaram a um acordo. Ao término, o cobrador deu um sorriso e perguntou? Como o Sr. conseguiu ficar calmo enquanto eu gritava com o Sr.? Ele diz, a experiência nos ensina que em momento de conflito, manter a tranquilidade não é fácil, mas necessária e pode fazer toda a diferença, e com uma xícara de café é melhor ainda.
O cobrador pede desculpas e se despede com um acordo e promessa de pagamento; ambos ficaram felizes.
E nós, já paramos para tomar um café em situações de crise? Talvez fique a reflexão de que o café não é só um café.
E aí, vai uma xícara de café?