Hoje em dia existem diversos aplicativos em que se pode fazer uma tradução rápida de praticamente qualquer língua do mundo, contudo, a maioria das traduções acabam sendo literais e/ou errôneas no significado.
Essa facilidade que a tecnologia trouxe acabou por tornar, aos olhos da sociedade, a profissão de um tradutor pouco importante, e para alguns até irrelevante. Mas a um grande problema com essa linha de pensamento, um tradutor não traduz apenas um texto ou uma obra, mas sim tenta a todo custo manter a essência da obra sem perder ou modificar o contexto.
Os aplicativos de tradução, em sua grande maioria, não têm capacidade de traduzir um texto de forma 100% correta, por dois grandes motivos: O primeiro é que ele faz uma tradução literal de um texto, sem entender o contexto, gírias ou figuras de linguagem, o segundo motivo é que, diferente de um ser falante, uma máquina não tem a capacidade que o ser humano tem com a linguagem.
Somado a isso, o fato de hoje em dia qualquer pessoa com conhecimento intermediário de uma língua se considera apta para fazer traduções acaba por, não apenas inchar o mercado, mas desqualificar totalmente a formação de profissionais de Letras. Não apenas isso, mas como dito anteriormente, a quantidade gigantesca de ferramentas de tradução contribui para esse problema.
A evolução da internet somada ao imediatismo e grande quantidade (e facilidade) de consumo de mídias também acabaram por piorar esse cenário. Esse consumo de forma rápida e desenfreada acabou por contribuir para a “tradução a toque de caixa” ou simplificando, uma tradução rápida e sem o devido cuidado.
Hoje em dia é extremamente comum pegar traduções de livros com erros (e que modificaram passagens de uma obra), legendas com erros e adaptações ruins. Isso acaba acontecendo pela alta demanda de traduções e prazos extremamente apertados que os profissionais de tradução acabam sofrendo.
Além disso, também existem diversos profissionais não qualificados para traduzir, principalmente por conta de ele não ter as habilidades necessárias para ser tradutor. Da mesma forma que, não é por falar português que todo mundo pode dar aula, o fato de uma pessoa ser bilíngue, trilíngue ou até poliglota não a torna apta a fazer traduções.
Como já mencionado, o ato de se traduzir alguma coisa vai muito além de somente passar alguma coisa para outra língua. O tradutor ter a dificílima tarefa de traduzir um texto, manter a integridade da obra, o sentido da palavra/frase/parágrafo e honrar a obra do autor não é um trabalho que possa ser feito sem conhecer profundamente a língua (e definitivamente não é um trabalho que se possa ser feito em apenas um ou dois meses).
Uma das reclamações mais recentes tem se dado em relação a jogos de videogames traduzidos para o português. Apesar de ser uma reclamação completamente válida, muitas pessoas não fazem ideia de que uma localização não é apenas se traduzir um texto para o português.
O mais recente jogo do personagem Mario, lançado em novembro desse ano, acabou por ter a localização para o português e dublagem, contudo, isso só acabou sendo possível devido a dois grandes fatores: O fato de ser um jogo extremamente mais simples e que o filme do personagem havia sido lançado e dublado no Brasil, já facilitando praticamente 80% do trabalho de localização.
Agora, peguemos por exemplo um Final Fantasy, além de ser um jogo muito longo, com diversos diálogos, textos, menus, sub-menus, itens, armas e etc, ele não teria como ser traduzido a tempo de o jogo ser lançado na mesma data que o lançamento mundial, podendo acarretar em diversos meses de atraso em solo brasileiro por conta disso.
Os jogos que acabaram traduzidos e com dublagem sofreram massivas críticas por conta de diversos erros de tradução, péssima localização e uma dublagem que ficou muito aquém do talento dos dubladores.
Infelizmente, apesar do Brasil ser um dos grandes consumidores de videogames, a língua portuguesa não vai ser uma prioridade para as empresas na hora de lançar seus jogos. O inglês ainda é conhecido como uma língua universal, por essa razão os jogos, em sua grande maioria, sempre vão ter a opção do inglês como padrão. Línguas como japonês, chinês e coreano acabam sendo incluídas pelo consumo massivo dos países em eletrônicos.
O português (ou como alguns estudiosos gostam de chamar, o “brasileiro”) só é falado em nosso país, outros países como Portugal e Angola tem uma variação muito grande da língua portuguesa. Além disso, o português é uma das línguas mais complexas do mundo (e uma das que mais rapidamente evoluí), por isso, infelizmente por mais que o Brasil seja um grande consumidor, o português não vai ser uma opção prioritárias para as empresas, isso se for uma opção.
Mas o que isso tudo quer dizer com o título deste texto? Simples, como citado bem no começo do texto, a facilidade de consumo que temos hoje em dia junto com a quantidade de mídias acabam por trazer a tona uma mentalidade de imediatismo que não condiz com o trabalho de um tradutor.
A tradução é um trabalho que requer conhecimento e tempo para ser feita, ela não tem como acompanhar o ritmo alucinado que as redes sociais trouxeram. Usei como exemplo os videogames pois é um dos setores em que mais se nota uma reclamação sobre a falta de localização, sem levar em conta os fatores que eu rapidamente apresentei no texto.
O setor literário é um dos mais acostumados a “esperar”, pois é um dos que mais compreende o trabalho que se dá uma tradução (com certos livros levando mais de 8 meses para serem publicados no Brasil por conta disso).
O setor de jogos eletrônicos e mídias como séries e filmes tem que entender é que, se eles (os fãs) querem uma boa legenda, uma boa dublagem e uma boa adaptação isso vai demandar tempo para ser feito e isso atrasa o lançamento dos jogos, filmes e séries no Brasil.
Não é possível fazer um trabalho de qualidade com uma tradução feita às pressas, se querem qualidade precisam ter paciência. Se a tradução e os seus profissionais continuarem tendo sua importância minimizada em prol do consumo imediato, além de estarmos incentivando essa desvalorização do trabalho nós, como consumidores, estarem consumindo apenas por consumir e estar “na moda”.