A casa física acompanha a nossa casa da alma ou é o contrário? Na verdade, um encontro de dois. Uma via de mão dupla.
Muitos já escreveram e continuarão escrevendo sobre esse tema, a casa, por diversos aspectos, com poesia, livros, música, enfim, mas peço uma licença poética para traduzi-la da forma como a percebo.
Casa é porto seguro por um minuto ou por décadas, tanto faz. Não precisa necessariamente ser isso ou aquilo.
Sou nômade, minha alma é voadora, mas amo a quietude de um lugar onde eu possa chamar de meu, de derramar por ele toda minha história e fazê-la acontecer, e por várias vezes já me senti desconfortável com essa dualidade, mas aprendi que as duas situações me traduzem e que não há fórmula mágica ou verdadeira.
Há pessoas que moram a vida toda no mesmo lugar, na mesma rua e na mesma casa com uma propriedade, como se ela própria edificasse a casa, e às vezes é! E outras pessoas têm o mesmo destino e não se encontram, vivem presas e infelizes por longos anos.
Há aqueles que vivem migrando e por isso não se apegam a pessoalidades, objetos e nem memórias que possam ser motivo de prisão, mas há aqueles que saem carregando toda bagagem e não importa onde chegam, se instalam. Eu acredito ser uma dessas pessoas.
Sua morada pode ser em qualquer lugar, desde que a reconheça como sua.
Por anos pensei que o ideal fosse viver num lugar como costumamos assistir naqueles filmes americanos, onde as pessoas moram numa cidadezinha aconchegante, conhecem todos pelo nome, saem carregadas de suas sacolas de papel e fazem parte dos eventos da cidade. Cheguei a pensar que eu tinha algo de muito estranho por não ter nada disso. Em um tempo de minha vida vivi isso e foi ótimo, mas enfim... a alma nômade gritou. E quando penso que estou à deriva ou que ainda não enxergo o outro lado do mar, a vida me surpreende.
Precisamos nos perdoar, não temos o controle de tudo, e nem sabemos que aquilo que tanto desejamos ou perseguimos é o melhor para nós, não porque não somos merecedores, mas porque há outras experiências para serem vividas. Quando começamos a entender essa equação e soltamos um pouco a aflição, coisas lindas acontecem. Podem acreditar!
Nada que verdadeiramente é seu ou que você deve conquistar pode ser maior que sua paz, sua crença legítima na sua história construída, ou naquilo que você está fazendo de melhor. Assim serve também para aqueles que estão começando suas histórias ou aqueles que já construíram muitas coisas. Incrível como o ser humano se iguala nesse sentido, porque a insegurança diante do novo e a necessidade de se apegar àquilo que já se tem é gigante.
A casa é sua enquanto estiver nela, e isso vale para as próprias ou não. Então faça ela ser sua. Inaugure o seu DNA, mude cores, troque peças, acompanhe-se daquilo que te faz bem. Não é permitido morar emprestado, seja por um tempo ou definitivo. Isso adoece!
E o que é morar emprestado? É não legitimar o lugar onde você escolheu para estar. Se você não o preenche com sua verdade, você também não se reconhece. Ando muito desconfiada do minimalismo!
A configuração das casas mudou muito e certamente continuará mudando. Havia muita gente circulando nas casas, famílias enormes e agregados, e isso se deve a vários motivos até financeiros. Hoje temos casas enormes para poucas pessoas. E mesmo que muito da vida aconteça fora de casa, o fato de querer uma casa grande ou preenchê-la, me fala de preservar aquilo que a vida moderna nos rouba.
Talvez você não tenha tido uma experiência engrandecedora com uma casa cheia de afetos, ou bem arrumada, ou grande, ou qualquer outra memória que pudesse aquecer o seu coração, mas e daí? Quebre esse contrato e reescreva essa página. Seja você o pioneiro.
A casa sempre foi um ponto de partida, e hoje, sobretudo, um ponto de retorno, onde você pode se reconectar, se proteger ou lembrar de fato quem você é, sem egos ou comparação. Um ponto de descanso, de banho gelado ou morninho, de sopa no fogo ou um congelado, de pipoca de micro-ondas ou uma comida gourmet. De fazer contas e cuidar das plantas, filhos ou pet. De encontrar com o seu bem querer ou com você mesmo.
A casa hoje, em muitos casos, também é o seu trabalho, mas e daí? E essa é uma outra conversa que vale um capítulo à parte.
Eu entendo que do cristal ao plástico, tudo é válido quando você coloca uma intenção, quando há amor, cuidado, empenho. Lave sua casa com anil, com lavanda ou com ervas. Sua casa, seu santuário. Ponha cheiro. Ah! Os aromas, de canela, cravo e casca de laranja salvam vidas, e eucalipto pendurado no chuveiro faz você respirar melhor. Ponha cor nas paredes, desenhe, pinte, deixe branco, mas faça suas intervenções. Eu não me canso de dizer, use sua casa.
Enfeite banheiros, área de serviço, entradas. Inaugure seu santuário de frente para a porta recebendo as boas energias e bloqueando as que não são tão boas. Pendure quadros, colares, objetos. De novas utilidades a utensílios parados. E saiba que qualquer feito está te servindo, então já está sendo bem pago.
Sua casa é onde seu coração pousa, se liberta, se traduz e te aquece, restaura sua energia, te deixa mais criativo e inteiro para novos começos. Ao redor de uma grande mesa, no escuro do seu quarto, na laje, no quintal, na casa de um amigo onde você pousar por meses, mas mesmo aí, coloque o seu aconchego. Sem isso, impossível identificar uma casa, um lar, um abrigo.
Então, onde está a sua morada?
No vemos já, já!