Em meio a incontáveis evoluções tecnológicas, em uma era onde a sociedade vive uma nova forma de agir, produzir, consumir e se comunicar, muitos se perguntam sobre as consequências desse modus vivendi no planeta Terra. E muitos se indagam sobre os impactos que afetarão especificamente a humanidade nos próximos anos. Cientistas de diversos locais do mundo, em especial aqueles que compõem o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês) alertam para o aquecimento global, para uma nova extinção em massa das espécies, e para o fim de muitos recursos naturais, já escassos. Eles defendem que tais consequências vêm diretamente da ação humana nas últimas décadas (ou séculos, dependendo da teoria defendida). Mesmo com dezenas de estudos e provas, ainda há quem refute tais teorias, alegando não passarem de interpretações erradas ou conspirações anti-progresso, uma perigosa cegueira com efeitos potencialmente catastróficos.

Analisando a trajetória que formou a sociedade contemporânea, é plausível e cabível nos questionarmos sobre os efeitos humanos no ecossistema terrestre — ou, pelo menos, nos ecossistemas locais. Em muitos países a produção industrial é impulsionada pelo uso massivo dos piores tipos de combustíveis fósseis, a exemplo do carvão mineral usado na China; oceanos seguem sendo poluídos com rejeito industrial, lixo doméstico e uma infinidade de todas composições de plástico; e grupos sociais inteiros ainda mantêm hábitos danosos ao meio ambiente, em uma grande bolha estilo “business as usual”. Para piorar esse quadro, políticas públicas ineficazes se somam a fiscalizações frouxas, interesses corruptíveis e lobbys poderosos, direcionando o que deveria ser o “bem comum”, isto é, o bem-estar de todos, para a mão de poucos. E esses são apenas alguns exemplos, das diversas formas, de como o ser humano está agindo, negativamente, em relação ao planeta em que vive.

A filósofa Déborah Danowski e o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro escreveram o livro “Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins”, em que revisitam uma fartura de estudos sobre o Antropoceno e as consequências que levam a um possível “fim do mundo”, em busca de uma mitologia contemporânea. O termo “Antropoceno” foi formalmente proposto pelo químico Paul Crutzen em uma publicação do ano 2000. Todavia, a comunidade científica ainda não ratificou tal proposta, apesar da recomendação do Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno, em 2016. Segundo Danowski e Viveiros de Castro, “o Antropoceno (ou que outro nome se lhes queira dar) é uma época, no sentido geológico do termo, mas ele aponta para o fim da ‘epocalidade’ enquanto tal, no que concerne à espécie. Embora tenha começado conosco, muito provavelmente terminará sem nós”. Isto por que os impactos de nossas ações na biosfera são de tal magnitude que seus efeitos perdurarão por muito tempo após a extinção da humanidade.

Alerta em números

Segundo estudo revelado pela revista Nature em 2018, a Antártida perdeu 3 trilhões de toneladas de gelo entre 1992 e 2017, elevando o nível do mar em quase um centímetro, tendo a velocidade de derretimento das calotas polares triplicado a partir de 2012. Esse número parece pouco, se comparado ao tamanho das geleiras do continente, mas se a Antártida derretesse por completo, o aumento do nível dos oceanos seria de 58 metros. A mesma revista publicou um estudo feito pela universidade de Bristol, no Reino Unido, que previa o aumento do oceano em quase um metro até 2100 — preocupante para cidades litorâneas e ilhas ao redor do mundo.

Um dos principais fatores que desencadeou esse cenário foi o aumento da temperatura global. Uma das metas do acordo de Paris, firmado em 2015 entre 192 países, era de manter o aumento da temperatura global em, no máximo, 2ºC até 2100. Porém, previsões indicam que o aquecimento total chegará a 4°C, se metas de mitigação não forem realmente atingidas por todos países comprometidos. Um exemplo recente nos mostra os efeitos claros desse aquecimento: na cidade Antonina no Paraná, em dezembro de 2018 foi registrada a sensação térmica de 81°C, enquanto os ponteiros marcavam 42°C. Algo que beirava o absurdo 5 anos atrás, hoje parece algo que veio para ficar. As temperaturas no Brasil em 2023 bateram recordes, como por exemplo no Rio de Janeiro, que no dia 18 de novembro amanheceu com a sensação térmica de 59,7°C.

Muitos são os motivos apontados para o aumento das temperaturas. Um estudo, liderado por Richard Zeebe, da Universidade do Havaí em Manoa, em 2016, fala que a emissão de gás carbônico é a maior desde era dos dinossauros, sendo os níveis de CO2 emitidos em demasia pelos veículos e toda a poluição que o meio urbano produz no cotidiano os maiores responsáveis por isso. Além disso, a agropecuária também é citada por especialistas como um dos principais agentes prejudiciais ao ecossistema. O crescimento de áreas de pastagens sobre vegetações originárias, diversas vezes feito de maneira ilegal, seja por derrubada em massa de árvores ou por incêndios criminosos. O uso de agrotóxicos e o gás metano liberado pelo gado e o descarte irregular de resíduos químicos são só alguns fatores que contribuem para o aumento do efeito estufa. Para piorar, nas áreas onde a camada secular de gelo se encontra em derretimento acelerado (como na Groenlândia), expondo a cobertura terrestre, passou a emitir ainda mais metano, um dos principais gases do efeito estufa, junto com o carbônico.

Ao alcance de todos

É necessária a colaboração de todos atores sociais para que efeitos visíveis sejam atingidos, rumo ao (re)equilíbrio ecológico. Atitudes diárias como usar bicicleta ao invés de carro, eliminar o uso do plástico descartável e reduzir o consumo impulsivo, são algumas das ações que podem contribuir para que a influência do ser humano não tenha impacto tão negativo na biosfera planetária. Chegamos a um ponto em que uma mudança de comportamento e de prioridades de vida não pode mais esperar: o que é mais importante, consumir cada vez mais, por exemplo, ou garantir a vida da próxima geração no planeta? Mas isso é apenas a ponta do iceberg: os demais atores sociais — Governos e Empresas — precisam aderir à causa ambiental e aos compromissos firmados no Acordo de Paris.

Os desafios para uma mudança comportamental com relação à preservação do ecossistema terrestre e sua biodiversidade (incluindo aí os seres humanos) são muitos e não são fáceis de superar. Porém, se houver engajamento social, unindo as pessoas com o objetivo de criarmos uma nova maneira de pensar e agir, teremos uma perspectiva de futuro muito mais equilibrado, justo e harmônico. O primeiro passo talvez seja olharmos para as próximas gerações, nossos filhos e netos, pensando: que mundo deixaremos para eles, como e com que recursos eles viverão? O futuro depende de todos nós — e ele nunca espera para acontecer. A hora é agora.