Desde criança, meu sonho sempre foi viajar no tempo e conhecer as pessoas dos livros que eu lia. Cresci, fiz faculdade de Física e decidi construir uma máquina do tempo. Minha ideia era achar respostas sobre a origem da vida, qual o sentido da vida e pra onde eu vou quando eu morrer.
Sempre gostei de filosofia, política e economia. Decidi reunir os pensadores que mais gosto numa conversa maluca: Freud, Marx, Nietzsche e Foucault através de uma viagem ao passado. Mas essa não era uma tarefa fácil.
Minha máquina do tempo era filosófica. Entrei nela, selecionei o destino para o Mundo das Ideias, do Platão. Era o lugar onde todos os pensadores do mundo viviam. Era quase um céu do conhecimento. Como eu era universitário, pude entrar com minha carteirinha de estudante.
Assim que desci na Rua Grécia, na cidade de Atenas, tinha um outdoor escrito: Hoje na Universidade Grega teremos um debate entre Freud, Marx, Nietzsche e Foucault.
Pensei: Eles vão brigar. Na hora da palestra começar, o mediador Santo Agostinho de Hipona, jogou na roda a pergunta: Por que nós fazemos as coisas que fazemos? Ou melhor, o que motiva nossas ações?
A platéia suspirou e pensou: lá vem treta!
Karl Marx virou e disse:
-A culpa é da luta de classes! As pessoas são oprimidas pelos ricos e apenas seguem as ideologias dominantes.
Freud olhou com desprezo pra resposta e falou:
-Cale a boca, Marx! Você e as pessoas agem assim porque possuem traumas que bagunçam o inconsciente. Nossa ferida emocional nos movimenta no mundo.
Nietzsche arrumou o bigode e disse:
-Idiotas! A culpa é do cristianismo e da religião que faz as pessoas sentirem culpa e se reprimirem. Elas vivem como rebanhos, que são cegos e não vivem para si.
Foucault gritou:
-Otários! A culpa é do sistema de poder. Ele nos vigia e nos pune todo dia. Isso nos trava.
Todos ficaram atônicos no salão. Foi nessa hora que um telespectador, chamado René Descartes, gritou e disse:
-Vocês estão errados! A culpa é porque falta um método racional para essas pessoas viveram.
Jonh Locke e David Hume, rivais de Descartes, gritaram juntos:
-Método? Só conheço o empírico. O resto é balela e conversa fiada.
Maquiavel, que estava sentado vendo a bagunça que o debate se tornou, virou e disse:
-Pra ter seu argumento aceito pelas pessoas é melhor você ser temido do que ser amado por elas.
Thomas Hobbes, vendo a briga, falou e disse:
-Vocês fazem o que fazem, inclusive brigam, porque o homem é lobo do próprio homem. Vocês parecem animais violentos!
Rousseau, crítico de Hobbes, virou e disse:
-Hobbes, vamos concordar que a culpa de sermos assim é porque o homem nasceu bom, mas a sociedade corrompeu a gente.
Sócrates, revirando o olho e sentado com preguiça daquilo tudo, virou e disse:
-Só sei que nada sei. Só queria assistir uma palestra legal.
Sartre vendo aquilo, pensou:
-Nós agimos assim porque o inferno são os outros. Que bagunça...
Immanuel Kant, vendo o grupo de filósofos quase saírem “no tapa”, virou e disse:
-Eles brigam porque estão na menoridade. Assim que tiverem a razão iluminando a cabeça deles, tudo fará sentido eles deixarão de brigar. Quando isso acontecer, eles estarão na sua maioridade.
Concordando com Kant, Antonie de Saint-Exupéry, autor de Pequeno Príncipe:
-Verdade. O problema é que somos responsáveis por aquilo que cativamos! A questão é que o pessoal da ciência só pensa em si mesmo. Não conseguem ver que existem vários pontos de vista diferentes. Se cativamos esse egoísmo e violência para defender as ideias, o mundo e as pessoas serão assim.
Franz Kafka virou e disse:
-Pra isso deixar de acontecer, é um processo que envolve consciência da galera, ou melhor, uma metamorfose.
E assim os pensadores entraram em luta corporal e o ambiente da palestra virou um grande balde de sangue. Era, pau, pedra, cadeira, microfone, soco, tapas, chutes e livros voando para tudo que é lado. Todo mundo esqueceu para que servia o conhecimento e tudo foi por água abaixo.