Antigamente ao ouvir o termo minimalismo automaticamente me vinha a mente aquele tipo de decoração hiper clean tradicional nas casas dinamarquesas: cores claras e pouquíssimos móveis. E ao fazer tal associação também me recordava do conceito muito difundido, especialmente após o lançamento do livro O Segredo da Dinamarca, da escritora Helen Russell, de que os dinamarqueses são um dos povos mais felizes do mundo.
Então, eu pensava: teria esse tal minimalismo algo a ver com a felicidade ou seria mera coincidência? Bom, na época não havia muita informação sobre “minimalismo” disponível, pelo menos não tanta quanto temos atualmente. Então, por muito tempo eu associei o termo, em especial, aquela tal decoração nórdica. Curiosa, depois de algumas pesquisas, descobri que o Minimalismo, na verdade, surgiu no final da década de 1950, início dos anos 1960 em Nova Iorque. Sim, Nova Iorque. Bem longe da Dinamarca, né? E teve início através do movimento artístico, onde alguns artistas estadunidenses passaram a fundamentar suas obras na utilização de pouquíssimos elementos e numa paleta limitada de cores.
Lembra das casas mencionadas acima? Pois é, a influência do minimalismo foi tanta durante o decorrer dos anos que chegou sim até a Escandinávia.
Mas, afinal, o que o minimalismo veio nos trazer e por que tem sido utilizado em áreas tão diversas? Bom, para além da área artística, eu diria que o minimalismo ganhou vida própria ao se consolidar como estilo de vida. E, adotar este estilo de vida significa em especial simplificar a vida, eliminado excessos e mantendo apenas o que é essencial.
Contudo, em um mundo como o nosso, baseado no consumismo, onde somos ensinados que ter é sinônimo de felicidade, o acúmulo de coisas acaba tomando conta do nosso dia a dia sem sequer nos darmos conta. Então, voltar-se ao minimalismo além de um desejo pessoal deve ser algo continuamente exercitado. Uma das grandes vantagens deste estilo, ao meu ver, é no quanto ele de fato nos possibilita organizar a vida. Literalmente! E com isso usufruirmos dos benefícios desta simplificação.
Na decoração, por exemplo, ao invés de nos voltarmos para um ambiente cheio de móveis, tapetes, objetos decorativos, cores misturadas, miudezas diversas espalhadas e mais um tanto de coisas, adentramos num ambiente com tons mais neutros, poucos móveis e objetos, onde cada coisa tem seu lugar pré-definido. Sentiu a diferença?
Ao diminuirmos a quantidade de móveis, objetos, louças, roupas e tantas coisas mais, diminuímos também nossa carga mental e todo o trabalho que temos para manter tudo isso em ordem. Ganhamos tempo! Nos organizamos! Melhoramos nossos hábitos de consumo e consequentemente isso traz benefícios também à nossa vida financeira. A vida flui melhor. Abrimos espaço para a criatividade e para nos voltarmos as coisas mais simples e significativas da vida. Quando nos desvencilhamos do ter, focamos mais no ser e assim conseguimos nos reconectar com nós mesmos. E é aí que a mágica acontece!
Nos países nórdicos, no contexto da decoração, Hellen cita em seu livro o quanto os dinamarqueses priorizam peças chaves de boa qualidade, misturadas a alguns poucos objetos que já possuam para criarem um ambiente acolhedor. Pesquisas mostram que estar inserido em ambientes bonitos e organizados melhora nosso bem-estar e aumenta nossa criatividade.
E quando falamos em peças-chave, isso está atrelado a uma série de outras áreas além da decoração. Nosso guarda roupa é um bom exemplo disso. Quando falamos em minimalismo na moda, por que o uso de cores mais neutras entra em ação? Simplesmente pelo fato de combinarem mais entre si e desta forma ficar mais fácil com poucas peças montar várias combinações. Assim conseguimos ter o essencial apenas, sem que isso seja um problema.
Quando pensamos em viagens, o minimalismo também pode ser aplicado. A começar por uma mala mais leve e certeira, mas também no quesito “objetivo”. O que você busca quando vai conhecer um novo lugar? Muitas pessoas relacionam viagens com compras, o que significa gastar muito mais dinheiro, gastar muito mais tempo rodando em lojas e outlets, gastar muito mais energia organizando e reorganizando malas e em todo esse processo voltado ao consumismo. Tempo esse que poderia ser melhor aproveitado explorando novos locais e tendo experiências mais enriquecedoras. Mas, isto, volto a dizer, é uma questão de escolha e de prioridades.
O que vejo, no entanto, é que o processo de autoconhecimento e de sentir-se genuinamente bem está muito mais ligado a um processo interno, do que externo. Desta forma, o fato de acumular inúmeras coisas não auxilia neste objetivo. Pelo contrário. É muito mais simples você direcionar sua atenção para suas reais necessidade quando a vida se torna mais simples e descomplicada, ou seja, quando você abre tempo para esta reconexão.
Hoje em dia, fala-se em minimalismo em diversas áreas: minimalismo tecnológico, minimalismo na saúde, minimalismo ecológico, minimalismo estético e por aí vai. E você pode encontrar uma definição para cada um destes conceitos. Mas, o que eles de fato têm em comum é o simplificar. A famosa premissa do menos é mais!
Assim, quando você sentir que está precisando desacelerar, voltar-se mais para si, se reconectar, comece a se desapegar. Faça aquela limpeza no seu guarda-roupa, na sua mesa de trabalho, ou em qualquer cantinho da sua casa. Depois dê outros passos, diminuindo seu tempo de uso no celular, fazendo uma lista de tarefas no início do dia e aos poucos sinta a diferença que pequenos novos hábitos poderão fazer na sua vida. Tudo isso, te auxiliará a usufruir melhor do seu tempo e assim você poderá direcioná-lo às atividades que te tragam mais alegria e bem-estar, poderá prestar mais atenção nas suas necessidades e desejos e terá mais liberdade para se dedicar àquilo que mais faz sentido para você.
Minimalismo também é reconexão.