Joseph Campbell, autor do livro O herói das mil faces, em que ele descreve a jornada do herói, que inicia no mundo normal, porém tem uma missão a ser cumprida, narra uma jornada que passa por um mundo especial desconhecido, o qual o herói vivencia vários eventos que precisa enfrentar para concluir a missão e retornar ao seu destino, sua casa.

Campbell, conhecido por seus estudos de mitologia e religião, tornou-se um famoso estudioso da mitologia e sua teoria da jornada do herói é utilizada como base no cinema e contos. Em seus estudos profundos de mitologia, percebeu que existe um padrão cultural, que se expressa em uma linguagem simbólica na psique humana. Na psicologia analítica de C. G. Jung esses estudos são reconhecidos e estudados como arquétipos, presentes no inconsciente coletivo que serve como base de estudos do comportamento humano e em nossas jornadas de vida.

Essa jornada nos remete a um caminho de confronto com o nosso próprio eu, um trabalho difícil e cansativo que nos leva a um amadurecimento, e amadurecer é doloroso a medida que enfrentamos a realidade dos nossos próprios sofrimentos. Porém essa conquista é a tão desejada e triunfante vitória pessoal, é a conquista de autoconhecimento, equilíbrio e qualidade de vida.

Mas como iniciarmos essa jornada de vida, chamada de jornada do herói por Campbell? Primeiro de tudo precisamos trabalhar nossos apegos. Vamos falar desse herói, que consiste em um indivíduo que desempenha seus feitos guerreiros de enfrentar a vida, mostrando seu valor e confrontando seus inimigos diários com sabedoria, mesmo nas mais dolorosas batalhas.

Aquele herói, que inicia sua jornada frágil, sem forças para lutar, vai se transformando e se fortalecendo em cada enfrentamento, isso acontece porque esse mesmo herói vai se conhecendo, se percebendo, em suas próprias vontades, descobrindo seus desejos mais profundos, e vai percebendo que ao enfrentar suas dificuldades seus desejos se tornam mais reais. Essa é a maior recompensa, depois de uma guerra, que descobre que é consigo mesmo, encontra caminhos para se realizar.

Essa não é qualquer experiência que o herói passa, é uma aventura de vida, que nos abre oportunidades e nos leva a um mergulho ao nosso inconsciente, esse fascinante desconhecido, que nos liberta de nossos maiores medos para nossa caminhada diária cheia de conquistas.

Você é o herói de sua própria jornada de vida!

Aquele que supera suas fraquezas, seus medos e limitações.

Se pensarmos que a jornada é um processo fácil, menosprezaremos os enfrentamentos sociais e as dificuldades naturais que a vida apresenta, seria entrar em uma fantasia. Não é um processo fácil, mas é necessário para o amadurecimento. Nessa jornada paradigmas se quebram, enfrenta-se julgamentos que absolvemos durante o nosso desenvolvimento nas tentativas de ser quem gostaríamos de ser. Essa jornada exige dedicação e vontade.

Quando olhamos para a jornada e percebemos o que ela nos proporciona, o arquétipo do herói parte para o enfrentamento da vida cheio de ideias e inspirações, ele vence todas as suas batalhas, suas limitações e se transforma.

E qual seria a melhor maneira de nos motivarmos para a jornada? A melhor maneira de enfrentar de maneira motivada e acima de tudo sairmos vencedores dessa guerra? Consiste em modificar à nossa maneira de ver a vida, de enfrentar as situações. Precisamos sair da zona de conforto, o autoconhecimento é o caminho e as armas que iremos usar estão dentro de nós mesmos.

Campbell, apresenta a ideia do monomito, ou seja, todos nós temos um mito dentro de nós, esse mito é comum e nos ensina como viver a vida. O que precisamos é aceitar o chamado para a aventura.

Se seguirmos o modelo de jornada apresentado por Campbell, precisamos de um ponto de partida, e precisamos saber que esse mesmo ponto de partida será o de chegada. Podemos chamar de mundo cotidiano, que em cada fase apresenta uma nova etapa para vencermos. Essa jornada pode ser dividida em 3 fases: ruptura, preciso romper com minhas crenças, iniciação, preciso iniciar a jornada dando passos, fazendo planejamentos., e por último o retorno, aonde o Herói volta vitorioso em sua conquista do objetivo traçado.

Tanto Joseph Campbel, como C.G. Jung ou Mircea Eliade, falaram do mito do eterno retorno, a vida é circular, um ouroborus, caminhamos em círculos, tudo um dia retorna para nós, por isso precisamos estar com as questões resolvidas ou prontos para confrontá-las quando nos depararmos com elas novamente.

Ao entendermos o conceito do mito do herói, passamos a pensar o quanto a contemporaneidade tem nos permitido ser heróis, o quanto tem nos permitido viver os nossos sonhos. Precisamos ser heróis de nós mesmos. Nossos dias são repletos de ações que não nos permitem descansar, ou nos paralisam através de nossas angústias.

No livro de C. G. Jung, Símbolos da Transformação1 ele afirma:

É a incapacidade de amar que priva o homem de suas possibilidades. Este mundo é vazio somente para aquele que não sabe dirigir sua libido para coisas e pessoas e torná-las vivas e belas para si.

Será possível que estamos perdendo a capacidade de amar? Estaria o nosso herói interno morrendo a cada dia? Será que vivemos a vida que desejamos?

São tantas perguntas sem respostas que merecem nossa atenção. Não pretendo respondê-las, mas quero convidar a cada um que ler esse texto, se permitir um chamado a aventura, um encontro com seu próprio self, um despertar a vida.

Nos questionamos o tempo todo, com perguntas sem respostas diante de jornadas tão complexas. Precisamos refletir, criar coragem e partir para a aventura da vida, sairmos vitoriosos de nossas batalhas internas e externas.

Pararmos de questionar e querermos respostas para tudo, e simplesmente viver e se permitir sentir, pois essa é nossa maior batalha: permitir-nos a viver.

Notas

1 Jung, C. G. Símbolos da transformação. In: Obras Completas de C. G. Jung, vol. V. Petrópolis: Vozes, 2011