Sara levanta a persiana para a casa apanhar claridade, mas rapidamente é de novo fechada com a janela aberta.
-Ao menos entra menos calor.
Pequenas soluções, dizem, para que a casa refresque…
O solo chega a atingir 50º graus e os pobres dos animais nem são aconselhados a ir à rua em horas de grande calor. De repente, o noticiário alerta para chuvadas intensas, tempestades, terramotos do outro lado do mundo, secas extremas em outras partes que nunca visitei, com fotos explícitas do chão a rachar com uma sede intensa.
Ligar ventoinha ou ar condicionado e ver a fatura atingir valores intensos ou simplesmente tomar dois duches rápidos por dia e desistir da fatura da água e dos gastos.
Estamos a criar respostas curtas para problemas que não têm fim. Estamos a consumir recursos que não têm renovação. Estamos a solucionar problemas com cheiro a problema. Muitos “estamos” para poucos “conseguimos”. Alcançar soluções fica complicado, quando somos muitos para poucas soluções.
Ganhar tempo é talvez das formas mais bonitas para se aprender a viver. Não vamos conseguir solucionar todos os problemas que se nos propuserem de frente. Mas iremos claramente encontrar soluções temporárias com o mesmo. O pai da Sara acredita que trocar o seu carro a gasolina por um elétrico é o futuro, e que por aí fica. O problema das petrolíferas fica resolvido.
Mas ele que se desengane — diz Sara — Sabes lá se a eletricidade que compras para abastecer o carro vem realmente de fontes renováveis? Ou pelo menos se toda ela provém de fontes renováveis. E a bateria? Terás de substituir a bateria, que custa tanto quanto um novo carro, além de ser formada por lítio e outros materiais. E no final da sua vida, como é efetuado o seu descarte exatamente? É possível reutilizar de alguma outra forma?
— Eu sei lá, não é problema meu! — Refere o pai, encolhendo os ombros — Mas de qualquer modo, abrandamos o tempo, ganhamos soluções temporárias antes que voltemos a usar cavalos como meios de transporte. Optar pela eletricidade continua a ser mais sustentável do que optar por gás e combustíveis fósseis.
Conciliamos a nossa vida, pequena e insignificante com a verdade de que vamos um dia partir. Claramente, solucionamos atrasos à morte, com medicações e rezas. Aumentamos a esperança média de vida.
Acreditamos em Deus com o sonho de haver um after life, e tomamos vários medicamentos quando as doenças nos fazem tropeçar. Ganhamos tempo. Vivemos mais tempo. E não sabermos até quando. Isso talvez seja o que nos faz lutar mais e mais pela vida, encarando-a com um sorriso nos lábios.
Aí, ela abraça-nos até nos fazer tropeçar de novo. É biológico, “não és tu, sou eu”- diz ela. Tal como uma relação. Começa a não dar mais para ficar a pairar na terra e chega uma hora certa. Não deixa de ser diferente de outras questões vividas. Ora vejamos.
Comemos mais carne do que o nosso corpo precisa, podemos alternar entre peixe, feijão, grão, entre outros. Hoje temos um pito e amanhã já é um franguinho assado no prato. Comemos hormonas e rações artificiais infelizmente. Somos muitos. Troca-se o plástico pelo papel, pelo cartão, pela madeira. O plástico é gravemente usado por todos nós e infelizmente, pouca gente percebe a necessidade de o reciclar, além de que nem todo ele pode ter essa vida. Então sugerem-se substitutos, formas de reativar novos problemas.
Enquanto a colher de plástico era reciclada, agora a colher de madeira não é. Mas biodegradável na sua totalidade também não. A mesma não é 100% madeira, não nos podemos enganar, tem uma pequena fina camada de “plástico”, ou a sopa e líquidos iam se verter sempre que a usássemos.
— Sem sombra de dúvida que o plástico é imprescindível, olhem para questões médicas? Mas deve ser usado apenas quando necessário, explica Sara. Vivemos em sociedades que apelam a benefícios para se reciclar e precisam de multas por deixar o cigarro no chão. Enquanto for necessário meios políticos para se fazer algo, é porque o bom senso enquanto habitantes comuns da Terra está perdido.
— Seja como seja, ganhamos tempo, talvez seja o que as pessoas falam de “mentir para proteger uma pequena mentira”. E assim, vai roçando o boneco de neve, explica Sara.
Tentamos arranjar soluções que abrandam certamente os problemas, lidamos com estruturas poderosas e rivais ameaçadores, mas ganhamos tempo, adiantamos consequências graves e de certo modo arranjamos sempre uma solução, afinal somos muitos. Duas cabeças sempre pensaram melhor do que uma.