Honoré Balzac (1799-1850) foi um renomado escritor francês que durante sua extensa obra literária, retratava os aspectos cotidianos e psicológicos de seus personagens. No entanto, recorrentemente, costumava retratar mulheres vivendo em seus trinta anos. Este fato, levou a criação da expressão balzaquiana para definir a mulher considerada de meia idade.
Como passar dos tempos, a mulher de trinta anos, passou ao status de mulher adulta e não mais à meia idade, devido os avanços da medicina, do autocuidado e de uma sociedade globalizada.
Em suas personagens, Balzac procurava, além de retratar a vida cotidiana da personagem na sociedade francesa do final do XIX, o que fazia em detalhes, descrevia seus aspectos emocionais e psicológicos, principalmente, sobre as expectativas criadas para está mulher.
Por seguir fielmente ao pensamento que permeava à época em que escreveu seus textos, Balzac nos permite, na atualidade, perceber que embora a sociedade tenha evoluído em questões como a tecnologia e em muitos conceitos que garantiram uma sociedade mais igualitária, as qualidades e expectativas em relações às mulheres são as mesmas até os dias atuais. Vejamos:
Em sua obra, o autor descreve a mulher de trinta anos como uma mulher madura, mas ainda em transição da vida adulta para a o que chamamos hoje de terceira idade. Nos dias atuais, a sociedade cobra cada vez mais cedo que a menina se torne mulher e espera-se atitudes tais como, a maternidade e o sucesso da carreira, antes dos quarenta anos.
Em relação a beleza, a balzaquiana é descrita como uma mulher bela e encantadora que mistura a juventude e a maturidade, atraindo os olhares dos homens mais velhos e a curiosidade dos jovens. Atualmente, cobra-se que, fisicamente, a mulher seja bela e preserve sua juventude, muitas vezes, por meio de tratamentos estéticos e cirurgias plásticas. A mulher que naturalmente chega aos quarenta anos, dificilmente consegue lidar com o padrão imposto a sua idade e imagem.
A busca por status social e riqueza são outros aspectos das mulheres de Balzac. Está ascensão era possível por meio de casamentos com homens influentes ou fazendo alianças estratégicas. Hoje, boa parte das mulheres ainda se obrigam a casar-se por status ou ainda, forjar uma vida nas mídias sociais que simplesmente não existe, somente para estar enquadrada no que se espera de uma vida feliz e próspera.
As mulheres que, por sua vez, rompem com essa expectativa, focam em seus trabalhos e em sua ascensão profissional e pessoal, acabam rotuladas como solitárias ou ambiciosas demais para um relacionamento.
Balzac também retratou em sua obra, a complexidade emocional e psicológica de suas personagens, descrevendo-as como mulheres vivendo em dilemas pessoais como estar presa a um casamento infeliz, traição, seus medos, desejos e dilemas morais. Hoje, vemos estas mesmas complexidades presente nas mulheres atuais, que ainda continuam presas a casamentos infelizes, seja por dependência emocional, financeira ou pelos filhos, em assumir novos amores e permitirem-se a viver o novo.
Por fim, temos a mulher do século XIX que procurava por um amor, mas não um amor qualquer, um amor significativo. E hoje? Bem, as mulheres são a maioria em aplicativos de encontros. Para a sociedade, mulher feliz e mulher casada e mãe.
Mesmo com toda a emancipação feminina, com a luta por direitos igualitários e pela busca do seu lugar no mercado de trabalho, as expectativas do que se espera de uma mulher ideal, continuam as mesmas de séculos passados, ou seja, espera-se que uma mulher atual tenha a mesma vida que uma mulher, dita feliz, teve em 1800.
Se Balzac estivesse vivo, com certeza estaria surpreso ao perceber que sua mulher de trinta continua viva em nossa sociedade. A nós, mulheres contemporâneas, resta-nos sonhar com um futuro que a mulher balzaquiana seja apenas uma história.