Antes da descoberta da evolução imperava a visão fixista da natureza, segundo o qual o planeta teria sido projetado de determinada forma por Deus com funcionamento perfeito, apenas para servir o ser humano. O teólogo Willian Paley comparava a relação do Criador com suas obras, a de um relojoeiro e seu produto, feito com partes precisas que se encaixam para determinado proposito. Essa visão incentivava a noção de que a natureza não podia ser danificada e era feita para usufruto humano, o que acabava justificando a exploração dos recursos sem preocupação de longo prazo.
No começo da era moderna maus tratos extremos contra animais eram considerados normais. Colocar gatos dentro de sacos e pôr fogo para ver o animal lutar para sobreviver eram uma forma de diversão pública no século 16. Cientistas da época costumavam abrir cachorros vivos para olhar seu interior. Isso era considerado inofensivo, pois animais eram vistos como semelhantes a máquinas sem alma e incapazes de sentir dor, ideia propagada por Renê Descartes.
A ciência moderna enxerga a realidade como frágil, produto de forças cegas interagindo entre si e alcançando certa forma de delicado equilíbrio. Seres vivos que passam por estresses que não são capazes de se adaptar desaparecem rapidamente. Um episódio da expansão marítima pouco conhecido relata que os britânicos ao descobrirem uma ilha deserta decidiram colocar um farol nela para ajudar a navegação. Para administrar o local um único funcionário foi contratado mantendo o trabalho. Com o intuito de lhe fazer companhia, o homem levou um gato junto. Após alguns dias o animal começou a trazer para casa pequenos pássaros que capturava na ilha. O faroleiro enviou os espécimes para a Europa.
Algum tempo depois um cientista desembarcou na ilha para estudar os pássaros. Ao chegar, descobriu que se tratava de uma nova espécie que não existia em nenhum outro lugar da terra. Entretanto, o gato sozinho tinha exterminado toda a população, fazendo com que a espécie já tenha sido descoberta extinta.
Ainda que uma perturbação tão pequena quanto um único predador não seja geralmente o suficiente para acabar com uma população inteira, há vários casos de animais com populações tão reduzidas que facilmente poderiam ser extintas. Em ilhas da Indonésia formadas por montanhas e vales, as florestas locais estão isoladas das demais por montes, consequentemente, cada floresta desenvolveu suas próprias espécies de pássaros únicas que não existem nem mesmo no restante da ilha. A destruição de um único pequeno bolso de árvores causaria extinções.
Em outro caso, um lago pré-histórico secou com o fim da era do gelo, os peixes que viviam nele ficaram presos em minúsculas lagoas do tamanho de piscinas, como não existe maneira deles saírem, as espécies de cada lagoa são únicas na terra.
Mesmo em casos que o animal não desaparece imediatamente, a perturbação pode afetá-los a longo prazo. A maior parte dos mamutes desapareceu com o final da era do gelo, entretanto uma minúscula população sobreviveu em uma ilha no círculo ártico até apenas 4.000 anos atrás. Entretanto, a quantidade de indivíduos era tão reduzida que a sobrevivência não era viável, doenças genéticas começaram a se tornar frequente dentro da população até o desaparecimento.
Perturbações podem vir de coisas pequenas. Na ilha de durante a era do gelo era habitada por uma espécie de roedores gigantes do tamanho de ursos que se alimentavam das folhas das árvores. Quando o planeta começou a aquecer, o nível do mar subiu, a ilha se tornou pequena demais para que a população de roedores permanecesse, os animais evoluíram diminuindo de tamanho, mas o nível do mar subiu muito depressa e os animais pereceram por falta de plantas o bastante para comer e espaço.
O estrago não precisa vir de mortes diretas dos animais, outros fatores podem causar o efeito. É bastante conhecido o episódio em que os europeus exterminaram o pássaro Dodô caçando-os. Porém, pouco conhecido é o impacto que os europeus tiveram sobre as plantas da ilha. Os Dodôs se alimentavam de uma fruta nativa, para que a semente da planta pudesse germinar ela precisava passar pelo intestino do pássaro, com o desaparecimento do animal, as árvores se tornaram incapazes de se reproduzir. Os últimos exemplares dessa espécie de planta vivem hoje na sua terra natal. Como o pássaro desapareceu há 300 anos, o mesmo período de vida da árvore. A última geração da planta, nascida pouco antes dos Dodôs desaparecerem, deve morrer nas próximas décadas.
Mesmo que humanos tenham uma capacidade de raciocínio e adaptação maior do que os demais animais eles não estão imunes ao impacto da mudança. Durante a idade média a destruição da natureza na américa do norte causou uma onda de frio que causou um episódio de micro era do gelo na Europa. No Japão, quando os Yaoi (ancestrais dos modernos japoneses) chegaram no arquipélago ele já era povoado por outro povo: os Jomon. Entretanto, os nativos foram sobrepujados, pois sua população estava em declínio, séculos caçando, pescando e cortando árvores de modo predatório estavam exaurindo os recursos do local.
Alguns historiadores culpam o desaparecimento simultâneo do império romano no ocidente e do império chinês no oriente a um rápido período de esfriamento do clima no final da antiguidade. As temperaturas baixas causaram colheitas menores, sem comida povos bárbaros que viviam nas margens dos impérios atacaram as terras mais ricas para sobreviver. Os bárbaros com estilo de vida diferente, trouxeram doenças novas para a civilização. Sofrendo de fome, doenças e guerras. Os dois impérios, considerados a base das civilizações oriental e ocidental, caíram.
Esse não foi o único episódio em que um parasita mudou a história. No século 13, os mongóis se aproximavam de invadir a Europa, entretanto questões políticas os obrigaram a adiar o ataque, para preparar a guerra, os mongóis lançaram dois corpos de pessoas doentes dentro de um castelo que pretendiam invadir. Mesmo que o ataque nunca tenha ocorrido, a doença dos corpos se espalhou pelo continente matando um terço do povo e ficando conhecido como "peste negra".
Ironicamente, os europeus que sofreram com a peste, fizeram o mesmo com os índios ao chegarem no novo mundo. Apesar de ser difícil calcular quão grande era a população do novo mundo antes de Colombo, estimativas costuma colocar o número na casa das dezenas de milhões, mesmo com a colonização, a grande maioria parece ter falecido devido a doenças do velho mundo.
Além do clima e das doenças a fome também foi ameaça constante a humanidade. Antes da era moderna era comum a prática do infanticídio como forma de controlar o crescimento populacional, evitando que os recursos se esgotassem. A revolução industrial mudou isso, ao aumentar a quantidade de recursos disponíveis. Mesmo assim o problema da fome não desapareceu. Na índia, num período regular ocorre o processo do El Niño que causa falta de alimento para a grande população do país. No período colonial, os britânicos não acreditavam ser relevante se precaver contra o problema e deixavam que a população subsistisse por conta própria. O que causou quase 30 milhões de mortes durante o período.
Os povos humanos tendem a acreditar que são de alguma forma o centro da existência, estando, portanto, seguros de abalos e ameaças. Mas o ser humano é uma espécie como as demais, sendo vulneráveis a extinção. Há cerca de 80 mil anos o homo sapiens passou por um cataclisma de causa ainda desconhecida que quase exterminou a espécie. Ainda que a humanidade tenha sobrevivido e prosperado, o desastre causou marcas na evolução humana, até hoje a diversidade genética da espécie é muita baixa, um sinal de uma criatura com alto risco de extinção.
Se toda a população da terra desaparecesse exceto por um único povoado isolado quase não ocorreria perda em termos de riqueza de DNA, um clã de chimpanzés pode ter mais diversidade genética do que a espécie humana inteira. A humanidade prosperou, pois, sua capacidade de aprender e se adaptar permitiu inovar e crescer mesmo em ambientes hostis, mas esse foi um processo custoso e difícil. A próxima turbulência pode ser cara ao ser humano se a sociedade não se precaver contra riscos como o aquecimento global ou a próxima pandemia.