As rotinas perfeitamente equilibradas entre skincare diurna, meditação, exercícios - pilates quase sempre - alimentação saudável, infinitas receitas de café e, claro, skincare noturna, compartilhadas nas mídias sociais, nos passam a ideia de que aquelas mulheres ali na tela estão no ápice de seus momentos de autocuidado. No entanto, algo mais simples como aprender a dizer "não" com discernimento possa se revelar o caminho para uma prática genuína de autocuidado ao longo do tempo.
Esse termo que ganhou notoriedade e muito espaço em nosso dia a dia vai muito além de usar produtos hidratantes com colágeno e diversas outras substâncias que se dizem milagrosas para o rejuvenescimento. Claro que esses momentos são importantes: ouvir uma música que acalma, acalenta e te transporta para seu lugar de paz, acender uma vela com o seu cheirinho preferido - se ainda não tem um preferido, com certeza as de jasmim irão te encantar - usar um creme corporal que promete milagres, uma máscara de hidratação facial que diz ter tudo o que a pele precisa. Mas é preciso irmos além, autocuidado também é se preservar! Quando foi a última vez que você se recusou a fazer algo que te pediram? Pode ter sido um pedido feito por alguém da família, amigos, colegas do trabalho. Uma situação em que o pedido te deixava desconfortável ou simplesmente você não queria realizar, e disse “não”?
Talvez nem consiga se lembrar. Normal, apesar de que não deveria ser. Isso ocorre porque somos ensinados a dizer apenas “sim”, a aceitar o que nos pedem, e vamos carregando esse hábito para todos os lugares. O problema disso é que quando percebemos, nos tornamos uma pessoa que não se conhece mais. O que realmente gosto de fazer ou o que não gosto? Qual minha música preferida do momento? Prefiro Spotify ou YouTube? Raramente paramos para pensar sobre isso, apenas seguimos o fluxo, dizemos “sim” aos pedidos recebidos sem nos questionar: quero mesmo fazer isso?
A ideia de autopreservação, de se colocar em primeiro lugar, responder o que realmente tem desejo e não o que vai agradar, nos foi (ou melhor, é) ensinada como egoísmo. Com esse pensamento, nos tornamos pessoas que não se conhecem, desconectadas de si. Lembra quando era criança e adorava dançar, mas era péssima nisso? Isso não te impedia de ficar rodopiando na sala, colocar uma fantasia e fazer apresentação para toda família. Onde foi parar essa criança? Aquela que dizia “sim” para dança, não para agradar alguém, mas porque amava dançar. De tanto fazermos apenas o que nos pedem, já não sabemos mais nem em que somos ruins, e provavelmente a lista é enorme. Mas descobrir no que se é ruim já significa que saímos do automático, que estamos fazendo coisas novas, e fazendo apenas por você. Aquela aula de cerâmica que sempre quis fazer, marque. A receita com ingredientes caros que sempre quis experimentar, cozinhe. Mas faça por você. Dos “sins” que distribui por aí, use ao menos um para o que realmente deseja fazer.
De tudo que disse até aqui, o conselho que posso deixar e que recomendo inserir na sua vida é: coloque em prática a Regra 2 do livro "12 Regras para a Vida" de Jordan B. Peterson: “Cuide de si como cuida daqueles que dependem de você”. Leia em voz alta e repita quantas vezes forem necessárias para internalizar isso. E já fica a dica de leitura.
Siga à risca na sua vida a regra da máscara de oxigênio no avião: “Coloque a sua máscara antes de ajudar o outro”. Se você não estiver bem, não poderá ser útil. Dizer “não” para situações desconfortáveis não é egoísmo, é bom senso.