Que nos inundemos pois de informações, na possibilidade de curar ou abrandar tamanha dor alheia e nossa, no ambiente pós-pandemia.
Havia um parecer que afirmava sobre a melhora do indivíduo após todo esse contexto caótico que nos atropelou desde 2019, porém insisto em ressaltar que gerenciar crise é complexo, e vencê-la causa uma espécie de alívio, com necessidade de celebração imediata. Quantos abraços bem-vindos!
Entretanto, o recalcado, como nos diria Freud, está logo ali pronto para seu retorno. E este vem de forma a nos mostrar o tamanho da bagunça que ficou em nosso coração e psique, causando dores no corpo físico e espiritual.
E por quê isso acontece? Porque tivemos medo, fomos assaltados da vida, perdemos bem precioso das nossas relações, nos demos conta do quão pequeninos somos diante daquilo que não temos controle.
É assim como todo grande evento pelo qual passou a humanidade, como guerras, pandemias, descobertas. Deixaram na memória rastro sangrento e perdas irreparáveis. Todo esse legado nos assolará para sempre. A maneira de sentir o que passamos se modifica, mas a cicatriz permanecerá.
Avança uma espécie de amnésia do mundo anterior e uma dificuldade gigante na formulação de um novo contexto de mundo e, de fato, não haverá como escapar dessa situação.
A sobrevivência nos traz um aprendizado sobre algo novo, que ainda nos tornará mais sábios. Hoje temos um conjunto de informações em processamento daquilo que passamos, e que quando forjada ao uso causa danos. Não é ainda hora! E nesse atropelo absurdo, equívocos são cometidos. O desalinho presente é sentido no cheiro, nas cores, costumes, hábitos, deselegância do viver, e sobretudo, e de forma mais crítica no relacionamento humano.
Os humanos ficaram mais sós, parte porque o isolamento possibilitou isso, e em parte porque encontrou abrigo para quem não consegue se relacionar. Permanecem na individualidade e se escondem do mundo, mas que na remota necessidade de encará-lo, ou na precipitação cotidiana, despejam terrores incalculáveis. Sem saber que são os próprios aterrorizados.
Outros estão ávidos por saírem de si mesmos para o encontro. E estes, podem levar na bagagem abundantes delicadezas da alma ou horrores profundos, que num ambiente sem regras e descontinuado, é por vezes impossível evidenciar, mas absolutamente possível de se sentir, temer e adoecer. Os que adoecem o ambiente são os próprios adoecidos.
De certo, a humanidade encontrará um caminho como sempre aconteceu. Nem o velho, e nem um tão novo, mas uma terceira saída, aquela que durará por mais um bom par de tempo.
E o que fazer com o humano demasiadamente humano, em suas dores e sabores? Como tratar, lidar e administrar tamanha inquietação individual, que coletivamente se empodera para o bem ou para o mal?
Alguns apelam para a desistência, outros para Deus, há aqueles que acreditam em milagres ou na ciência. Há tantos outros que fingem não ver o que acontece, mesmo que ao caminhar se despedacem pelo caminho.
Não há o que é certo ou errado na construção da humanidade. Há o que se viver e deixar passar, deixar curar, deixar transparecer para ser nominado e cuidado. De alguma forma estamos submetidos a essa tal realidade presente.
Que experienciemos novos modelos de construção de vida mais fluidas, menos programadas, menos autoritária e enganosa, onde o ego não seja só máscara, mas uma possibilidade de acessar o outro, em sua essência. Isso não é leviandade, é possível que seja de extrema coragem.
A esta altura da existência humana precisamos de leveza, cor, brilho, diálogo e paixão. Carecemos de aprendizados diversos daquilo que faz sentido, e não daquilo que é sabido, pois dessa forma poderemos equilibrar as forças da dor e as forças do amor. Não é sobre ter ou ser. Não é sobre binaridade. Engano nosso!
É sobre o equilíbrio, sempre.
Que sorte a minha estar vivendo tudo isso, por mais que me aflija, pois me possibilita ser um indivíduo em busca de recomeços.
Já, já nos vemos!