Há anos no mercado de trabalho pude presenciar um pouco de tudo, muitas ondas, movimentos e mudanças envolvendo a dinâmica empresarial.
Empresas grandes, médias e pequenas, estruturadas, ou ainda por se fazerem, ou até mesmo as mais modernas e sem o conceito de hierarquia, afunilam-se num mesmo ponto, os indivíduos. Profissionais que produzem, consertam, servem, traduzem, analisam, vendem, tomam decisões, lideram, são lideradas, pessoas que encaram os desafios do cotidiano rápido e turbulento das organizações.
Os indivíduos sempre atravessaram e foram atravessados por ambientes organizacionais turbulentos. Dos mexericos do andar debaixo as grandes decisões, das crises financeiras ao podium em grandes celebrações, e do crescimento a falência nada é novo, mas algo mudou, e esse ambiente se tornou não linear, ansioso e vazio. Tão desafiador quanto as crises de pânico, burnout e ansiedade geradas em seus vastos corredores vazios e silenciosos.
O mundo virtual nos trouxe essa realidade, pela gama de informações rápidas e diversificadas, que tornou o mundo globalizado e urgente, e esse modelo foi repassado ao mundo corporativo. A pandemia acelerou e ratificou esse estado de coisas, à medida que levou as pessoas para seus ambientes pessoais, desmoronou o que as empresas tinham de mais precioso e menos valorizado, a relação entre as pessoas. O café no final do corredor, o choro acolhido no banheiro, as reuniões movimentadas, as mesas enfeitadas e o som ensurdecedor do barulho, criados pelos indivíduos, desapareceram!
Hoje as empresas não sabem muito bem onde encontrar a chave que abre a porta para as relações corporativas presenciais ou não. Algumas celebram a distância, outras estão desequilibradas no seu próprio passo, sem saber o que fazer e como fazer.
Encontrar um meio termo que faça brilhar os olhos dos colaboradores, sem voltar ao modelo passado e criar conexões pós pandemia, exigirá um profundo senso de humildade, para com o valor da integração humana. Buscar novas formas de integrar pessoas para além das telas frias e distantes será um dos trabalhos mais desafiadores dos últimos tempos. Devemos ser realistas, nada de grandes teorias que demoram 10 anos para serem concluídas, pessoas esperam respostas rápidas, e suas dores também.
O comportamento humano pode ser quantificado e isso é conversa para mais de metro. Estudos em todas as partes do mundo e nas grandes e mais conceituadas universidades numa celeridade incrível elaboram estatísticas, estudos, formulários, novas metodologias, que pretendem dar conta do indivíduo trabalhador e suas relações. Ora para desenvolvê-los, ora para freá-los, ora para seduzi-los. Citações e argumentos são criados sobre a evolução da inteligência humana e a consequência nas suas relações pessoais e de trabalho. De certo com uma importância enorme para a humanidade na criação de informações e ferramentas avaliativas.
Entretanto, deixo uma provocação para além das estatísticas e grandes formulações, não há o que fazer se não pela força do encontro entre indivíduos. Citando J. L. Moreno e seu brilhante pensar social, no livro Psicodrama:
Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-lo-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus; então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus.
O brilho do olhar de cada indivíduo, seu calor, seu suor, suas pulsações e indignações, requerem percepção viva e tratativas imediatas. Quando pressentidas ocultamente por detrás das câmeras desligadas, podem reforçar comportamentos isolados, pouco produtivos e intolerâncias de toda ordem.
Nos vemos já, já!