Todos temos dentro de nós uma insuspeita reserva de força que emerge quando a vida nos põe à prova...
(Isabel Allende)
Quantas vezes já não passamos por isso: a expectativa angustiante de um evento ou um fato com data marcada, que se aproxima progressivamente. Pode ser uma palestra (muitas pessoas experimentam ansiedade intensa ao falar em público), uma cirurgia, uma prova de direção de veículo, uma prova de um concurso, uma viagem específica, etc. Pode ser qualquer coisa que mobilize nossos medos mais primitivos. O famoso “frio na barriga” se manifesta nestas situações, sendo também comum a apresentação de distúrbios do sono e da alimentação. Vivemos a expectativa da chegada deste dia como se fosse o último de nossas vidas. Tal como se a vida parasse naquele momento e o fluxo natural das coisas fosse interrompido. Por alguma razão a aproximação do evento é vivenciada com sentimentos intensos de ansiedade e apreensão, dando-se início a uma contagem regressiva para o dia fatídico.
Ansiedade é um estado psíquico de apreensão ou medo indiferenciado provocado pela antecipação de uma situação desagradável ou perigosa. A palavra ansiedade tem origem no latim anxietas, que significa “angústia”, “ansiedade”, de anxius = “perturbado”, “pouco a vontade”, de anguere = “apertar”, “sufocar”. O quadro de ansiedade normalmente vem acompanhado de sintomas de tensão, em que o foco de perigo antecipado pode ser interno ou externo. Considerada, até certo ponto, uma reação natural do ser humano, útil para se adaptar e reagir perante situações de medo ou expectativa, a ansiedade torna-se patológica quando atinge um valor extremo, com caráter sistemático e generalizado, em que começa a interferir no funcionamento saudável da vida do indivíduo.1
Supostamente isto acontece porque de alguma maneira o respectivo evento coloca em evidência e faz com que entremos em contato com os pontos mais vulneráveis de nossa personalidade. Algo diante do que sentimos insegurança e medo. Uma situação extraordinária, que não faz parte de nosso dia a dia e que não temos certeza se somos capazes de dominá-la. De qualquer forma, na maioria das vezes há exposição pública e suposta avaliação de outras pessoas ou ainda algum tipo de risco envolvido.
A incerteza sobre a nossa capacidade de domínio sobre uma situação extraordinária fomenta e faz crescer internamente o medo e a insegurança. E isto vai sendo cultivado à medida que se transcorrem os dias e a situação com data marcada se aproxima.
Quando de fato o evento acontece, constatamos que o que experimentamos na realidade costuma ser bem menos terrível do que o que vivemos no plano da fantasia em nossa imaginação, naquela odiosa contagem regressiva. Descobrimos assim que somos capazes de “nos virar” em uma situação nova e nos encontrar de novo, caso venhamos a nos perder. O pico maior de ansiedade ocorre nos primeiros dez ou quinze minutos, sendo que tendo baixado o nível de adrenalina2, conseguimos relaxar e olhar em torno, pondo fim à angustiante expectativa. Já em um segundo momento, experimentamos uma sensação de crescente controle sobre a situação que estamos vivenciando no aqui e agora.
No dia seguinte, a sensação é que tiramos ‘300’ quilos de nossas costas, visto que aquilo que de mais terrível estávamos esperando que acontecesse, agora é página virada. Sentimo-nos então aptos e preparados para fazer um balanço da situação. Verificar o que ganhamos e o que perdemos com a experiência. Ponderar prós e contras.
Vale salientar que não podemos perder de vista que é no enfrentamento de situações desafiadoras, onde somos postos à prova, que se dá o nosso crescimento. A mesmice nos leva apenas a confirmar o que já sabemos sobre nós mesmos e nos faz transitar pelos caminhos já costumeiros que conhecemos de olhos fechados. Trata-se da famosa zona de conforto que não nos leva a lugar nenhum. Entretanto, se conseguimos dar alguns passos mais, ampliamos as fronteiras de nosso ego e adentramos em um mundo novo, acessando novas dimensões de nossa personalidade. Ganhamos assim em autoconfiança, sentimo-nos mais fortes e capazes... e ainda, mais inteiros e completos de posse de nossa reserva (antes insuspeita) de forças.
O “frio na barriga” compensa e vale a pena passar ele.
Referências
1 Para os fins deste artigo, a ansiedade está sendo tratada em níveis salutares.
2 A adrenalina ou epinefrina é um hormônio produzido no corpo humano e secretado pelas glândulas suprarrenais, localizadas acima dos rins, no sistema endócrino. Normalmente a adrenalina é liberada na corrente sanguínea em situações de estresse e excitação. Como consequência, as pessoas podem apresentar taquicardia, sudorese e dilatação das pupilas, preparando o organismo para lutar ou fugir.
Reconhecimento
Significado de Ansiedade (O que é, Conceito e Definição).
Adrenalina - Brasil Escola.