É a hora de deitar para um miúdo de 3 anos. Todos nesta idade adoram histórias de encantar, de Os três porquinhos à Branca de Neve, aos contos mais sofisticados que tenham lá pelo meio a palavra mágica Abracadabra.
Uma noite destas o Pedro estava a adorar uma certa história, de tal modo que queria a Palavra mágica que o fizesse entrar dentro dela e brincar com os outros meninos e varinhas de condão e poções e gatos e, e, e…
— Quero a palavra mágica para entrar lá dentro!, diz-me ele.
De facto, quantos e quantas vezes nós já quisemos essa mesma palavra mágica quando estamos menos cor-se-rosa com a Vida e queremos entrar no Romance que estamos a ler…
A literatura é e será sempre o nosso porto de abrigo. Os livros são a nossa casa fantástica, que pode ser de chocolate ou gelatina…as ilustrações, as imagens são quadros pendurados nas paredes do nosso Imaginário!
Livros: objectos de papel encantatórios onde tudo pode acontecer…Vamos entrar! Vamos cheirar os livros, o seu cartão de visita: o título. Depois vamos saboreá-los com as mãos e sentir-lhes a textura da pele e depois trazemos amigos para casa, embrulhados com um laço de amizade eterna. A prova disso é quantas vezes pegamos neles ao colo e deixamos as nossas impressões digitais. Quantas vezes evocamos a sua presença e o seu nome e sentimos a sua falta…
Já dizia Pessoa que “Sentir, sinta quem lê!”. Pois é a palavra mágica é ler!
É por isso que o Pedro já tem pressa de saber ler pois quer sentir o que está lá naquela história, para depois conseguir entrar nela e fazer parte da mesma para sempre!
Por quê?
Porque o leitor vai ficar seduzido, vai emocionar-se, vai querer que a história não acabe ou vai querer dar-lhe um outro final: o seu! Porque o leitor é co-autor ao devorar com os olhos as palavras écranlizadas, dessa trama, dessas peripécias que se desenrolam como novelos. Apropriamo- nos das personagens, das suas Casas, do seu Lar; do seu Espaço, e somos seus hóspedes por um determinado período de tempo.
Os beijos na Cassa de papel tornam-se beijos reais, gulosos e suculentos, mas os funerais também são igualmente fúnebres e as lágrimas afogam, por vezes, as próprias personagens. A vida alimenta a ficção e a ficção cria realidades através das palavras. É com estas que vamos criando as nossas realidades quotidianas!
A palavra mágica de hoje é sonho!