Nós os dançarinos girantes, conscientemente aspiramos participar e compartilhar o girar de outros seres. Praticamos a medicina da Alma.
A condição sine qua non de nossa existência é girante. Não há ser vivo, animado ou não, que não se mova em giros, somos compostos de elétrons, prótons e nêutrons, que giram em átomos. Tudo gira, e vivemos por meio do girar destas partículas, pelo girar do sangue no nosso corpo, o girar das estações da vida, por virmos da terra e a ela retornarmos. Todos estes giros são naturais e por vezes inconscientes, porém, nós os dançarinos girantes, intencionalmente e conscientemente participamos e compartilhamos o girar dos outros seres. Ao girarmos em harmonia com toda natureza, com as menores células e com as estrelas no firmamento, testemunhamos a existência e a majestade do Criador, pensamos Nele, agradecemos a Ele, oramos a Ele e Co Criamos com Ele. Neste testemunho reunimos as três faculdades fundamentais da natureza humana: a inteligência (pelo conhecimento e pensamento) a Ciência, o coração (expressão do amor e sabedoria) a Arte, e o corpo (instrumento de ação, ativando a vida, dançando os giros da existência) a Espiritualidade.. Estes três elementos do viver humano devem ser integralmente unidos, tanto na teoria quanto na prática dos dançarinos girantes..
A Vida então, se prova pelo movimento. A matéria e a energia diretamente relacionadas, assim como o corpo e a alma estão. Quando unimos o pensar, o sentir, e o agir na busca do ser mais que humano, percebemos o poder da alma que dança, exercitando a escuta profunda, permitindo-nos treinar a consciência do corpo com a energia vibrante que o faz mover. Comparando dois corpos imóveis no chão, um vivo e o outro não, se pedimos ao corpo vivo para levantar, prontamente ele o fará, mas, por que se fizermos o mesmo com o corpo morto nada acontecerá? Entendemos por alma, essa energia que anima o corpo, este manancial de movimentos imanentes à vida (gesto, pensamento, afetividade, sensibilidade), entendidos como manifestações de uma substância autônoma em relação à materialidade do corpo. Misteriosa força supranatural, a alma é o centro de energia que nos mantém animados, abrindo-nos espaço para o valor do símbolo, tanto através das palavras e gestos que a exprimem como pelas imagens e nuances que a representam. Subentende toda uma cadeia simbólica, expandindo o significado da vida e ampliando as possibilidades infinitas que nela contém.
A palavra alma evoca o poder invisível do ser, ou simples fenômeno vital; imortal, princípio de vida e organização, de ação; manifestando-se através de seus atos nos níveis do viver.
Os símbolos da alma são tão numerosos quanto as mentes e corações que nela existem. De um ponto de vista psicanalítico, a alma é dotada de múltiplas interpretações, e corresponde a um estado psicológico guia, de uma certa independência nos limites da consciência, já que é dotada também da capacidade de personificar conteúdos inconscientes. As concepções etnológicas da alma demonstram que ela é claramente antes de mais nada, conteúdo relativo aquele que age, mas também ao mundo do inconsciente. E é por isso que a alma tem em si algo de terreno e de sobrenatural. Na medicina da Alma, utilizamos a dança do ser e seus ritmos internos, cocriando percursos de movimento, sensibilização e Instrução que funcionam como instrumentos curativos das partes, princípios, forças ou faculdades da alma. Cada etapa percorrida corresponde uma qualidade do amor, proporcional à medida da união a Criação.
Os Percursos simbolizam a jornada de autoconhecimento cocriativo de cada peregrino dançante, uma ascensão por meio da inteligência dos corpos e amor à Perfeita Criação . Dançando em direção à verdade do que somos, desafiados a praticar as leis naturais, crescemos através do amor, transcendemos o ego, encontramos a fonte, e então retornamos como aquele que alcançou a maturidade e a completude em si, capaz de compreender para praticar, praticar para evoluir, amar e servir a toda criação e criaturas. Assim na terra como no céu. Terrena, por ser posta em contato com a imagem maternal de natureza; celeste, porque almeja ardentemente a luz da consciência. Enquanto prática, exerce função mediadora entre a terra e o céu, comportando estágios de autodesenvolvimento durante seus percursos.
O primeiro estágio, designado ao princípio do caminho, é traçado no plano instintivo e biológico de cada corpo. Aqui, investigamos o corpo, a materialidade e suas leis de movimento. O suficiente da anatomia e fisiologia corpórea. O segundo estágio, conserva e desenvolve o poder da criação, fazendo -nos reconhecer em cada corpo, a ambivalência das forças (feminina e masculina) que neles contém, e neste estágio somos inspirados a fundir os opostos. Esta sinergia de energias é a mola propulsora da criatividade e cocriação. O terceiro estágio aponta para o reconhecimento do poder pessoal onde residem os dons e talentos do dançarino girante. Aqui submetemos o ego a iluminação, trabalhamos a impessoalidade, e a máscara neutra intencionados a encontrar a flor, a essência primordial perfeita e íntegra em cada célula.
Neste momento, paramos de dar explicações sobre nossos atos, sobre o que fazemos. Paramos de nos justificar. Mas um passo após o outro, mesmo se não somos compreendidos, continuamos nosso caminho, fies a nossa visão interior, à nossa intuição profunda.
No quarto estágio, experimentamos um estado de contemplação devocional, onde o amor alcança totalmente o nível intuitivo (pensamentos do espírito). Designado pela Sabedoria do coração. Aqui trabalhamos o eixo e abertura de asas, prolongamento do centro coracional. As nossas mais puras intenções e princípios da moralidade. Nesta altura do percurso, o desafio do dançarino girante é sublimar as emoções em devoção ante a Divindade e transformar seus desejos em aspirações elevadas. O amor tornando-se prolongamento da consciência, inclusão e ampliação de si mesmo. No quinto estágio acessamos a sensibilidade psíquica e adentramos na busca interior. O que Sou? Expresso o que sou? Já temos a nosso favor notas fundamentais neste percurso de autocura: o amor e a sabedoria. Para compreendermos bem a verdadeira natureza e essência profunda e espiritual desta dupla força, inserimos o amor em nossa dança, em uma concepção mais vasta e remontamos a sua origem celestial. Expressão de um potente magnetismo universal, sem o qual tudo se desagregaria e tudo se dissolveria em nada. É a força coesiva que mantém ligados nossos átomos à matéria.
A sabedoria nasce quando a mente deixa de opor-se ao coração, antes colabora com ele e coloca sua luz a sua sensibilidade. A sabedoria, portanto, está unida ao amor para refletir sua qualidade de amor maduro, abrangente, intuitivo. Nesta etapa do percurso, vibramos em profundidade. Sabemos que o que alcançamos e partilhamos é fruto de profunda convicção, uma parte de nós mesmos. No sexto estágio adentramos ao mundo das idéias, desenvolvendo a inteligência abstrata lírica, dentro da atividade da mente, ativando o terceiro olho, o da busca da visão. Aqui buscamos a expressão da mente divina, o pensamento do Criador em cada partícula da matéria onde podemos encontrar uma espécie de inteligência insciente, não ciente. Nosso intelecto, agora a nosso favor vai revelando potencialidade real de desenvolvimento e aperfeiçoamento do pensamento abstrato, da criatividade intelectual e da intuição cognitiva da genialidade.
No Sétimo e último estágio desta fase do percurso, nossa Vontade e Poder já estão voltadas para o Alto. O centro da Iluminação. De origem transcendental, força suprema do universo. Aqui, para fins do nosso autodesenvolvimento, interessa-nos o lado psicológico da vontade. Aquilo se expressamos e nos faz seres capazes de querer, de determinar-se, de autogovernar-se. A vontade se faz como a consciência, devemos experimentá-la, dentro da sua realidade subjetiva que é. A autoconsciência, ou ciência de ser um eu, é como o ponto central da consciência, firme e estável e que nos dá o senso de identidade pessoal e integridade psicológica. Este fato de saber-se ser um eu, e que ainda não é o senso do eu espiritual, representa um ponto firme na multiplicidade flutuante da psique aflorada quando alcançamos a integração dos elementos da personalidade. É um impulso da nossa consciência dirigido a um fim proposto com conhecimento e com meios deliberadamente escolhidos.
E podemos portanto, dizer que, assim como a autoconsciência é o eu que se conhece, a vontade é o eu que se governa. A vontade é o poder de autogovernar-se. A vontade está oculta no interior, dá impulso a ação, atrai, rejeita. É o coração do coração do ser. O poder que está por trás do conhecimento e que estimula a ação.
Qual o significado desses estágios de giros ascendentes? Progredir em direção a espiritualização. Se admitimos que tudo o que é terreno tem sua correspondência celestial, tratemos de buscá-la. Nesta prática de retiros e percursos dançantes, nossas almas percorrem essas sete etapas. A matéria que existe em nós é chamada a purificar-se num movimento ascensional a fim de descobrir no self a criança de luz, seu próprio sol. Esse princípio vital que faz mais do que simplesmente unir uma porção de matéria e um sopro de espírito, une-os em um mesmo ser. Cada estágio do percurso representa uma etapa do caminho de autocura e ascensão do nosso ser. Ao irmos removendo nossas couraças musculares e energéticas, a nossa capa negra, com beleza e graça, largura e profundidade, escuta e Presença, vamos espiritualmente renascendo para a verdade de um novo ser em consonância com as leis universais.
A Medicina da Alma utiliza-se do estudo da cor, do som, da luz, da frequência, do gesto e seus campos de energias vibracionais, partindo dos elementos da Dança: Espaço Forma Ritmo e Movimento, sob a égide e irradiação do estudo dos Raios. Assim, os raios são energias com características especiais, únicas e distintas. Eles são a representação de tudo que precisamos atingir para alcançar a maestria e a luz plena do espírito. O fogo que arde a chama representa o elo matéria—espírito, Homem—Deus. Não há um só Ser Divino acima e um mundo sem Divindade abaixo. Somos manifestações de energias, ou raios. Cada um de nós, cada planeta, cada sistema solar é expressão de raios. Entretanto, num nível ainda mais profundo, existe algo de um mistério insondável.