O arquiteto projecta espaços, constrói o lugar, a cidade, e constrói os seus edifícios. Cada novo projecto, é uma nova possibilidade, é um novo conceito, é um novo desafio, - no entanto -, o processo desde a ideia até à sua forma material é o que se mantém em cada projecto.
A consciência do arquiteto sobre processo de criação é a questão essencial no exercício da projecção, da crítica, da avaliação sistemática e do permanente questionamento da razão de cada passo. O exercício que resulta na consciência do produto final que se constrói.
Não há barreiras no campo da criação e o arquitecto explora as diversas artes na sua composição, escala, proporção até ao seu mais íntimo pormenor. A pintura, a escultura e a fotografia são exemplos de artes que potenciam o desenvolvimento da Arquitetura, pois é na procura de respostas aos desafios arquitectónicos que se entende a possibilidade de construção no espaço e o limite ténue que se estabelece entre a Arquitetura e a Arte.
A escultura e o seu deslocamento para o espaço real contribui para delimitar e estender os limites frágeis entre duas formas de expressão que têm como base o espaço. A compreensão desses limites pela complexidade que se estabelece na construção das relações entre Arte e Arquitetura encontra na obra de Richard Serra um exemplo: falar sobre o trabalho deste artista é falar dos limites ténues sobre a construção no espaço entre a Arquitetura e a Arte.
Richard Serra, o primeiro artista plástico a receber a medalha da Architectural League de Nova Iorque, conhecido pelas suas instalações de metal, contribuiu para o modo em como pensamos o espaço e a relação do observador com o lugar e a sua materialidade, sendo estas preocupações relevantes tanto para arquitetos como para artistas.
Cada vez mais artistas plásticos trabalham e questionam temas que sempre foram entendidos como temas arquitectónicos: concepção espacial, território, espaço público e espaço privado, entre outros. Estes artistas têm ajudado a quebrar os limites entre Arte e Arquitetura possibilitando cada vez mais o cruzamento de técnicas e conceitos entre as mais diversas disciplinas artísticas.
A priori, a responsabilidade e obrigação do arquitecto é de pensar, criar e viabilizar a construção de um meio ambiente repleto de coisas com potencial e o funcionalismo peca pela valorização excessiva da ideia do espaço e do seu uso pelo homem. A necessidade da leitura da obra da Arquitetura antes da sua concepção leva ao recurso à pintura (croquis, aguarelas), à escultura (maquetas) e à fotografia ou vídeo (montagens de volumes num espaço), quando a arquitectura é ainda mais um objecto abstracto do que um em concreto.
Um dos objectivos da disciplina Teoria de Arquitetura consiste em interpretar o espaço arquitectónico, procurando analisar as suas características e o seu valor como arte. Interpretar o espaço significa incluir todas as realidades de um edifício estudando as suas dimensões, luz, cor, usos, formas, intenções do projecto e inclusive as expectativas do utilizador. A compreensão da arquitectura requer o contributo da percepção espacial, que analisa como as pessoas lêem o espaço, como o interpretam e em como são influenciados por ele. O desenho é o maio de divulgação mais básico que melhor pode ajudar na produção do projecto final.
A arte consegue servir como uma ferramenta que analisa e interpreta, como um meio activo de intervenção em concepções arquitectónicas de uma época e também como um instrumento auxiliar de compreensão destas concepções. Assim, o objectivo da arte é ajudar a conferir sentido às existências daqueles que com ela trava contato, uma importante linha de trabalho artístico está exactamente em recuperar a materialidade das coisas. Desta maneira, torna-se mais produtiva a concentração da produção do objecto artístico como uma coisa entre outras – o homem incluído -, que delas se destaca pela sua capacidade de síntese e de compreensão destas mesmas coisas.
Este recurso que é feito a outras artes é o meio que nos permite encontrar soluções prototípicas para os diversos desafios com que nos deparamos no dia-a-dia como arquitetos.
Devemos procurar formular respostas claras aos desafios arquitectónicos, estudar variações, definir percursos e objectos, transpor horizontalidade e transparecer verticalidade, permitir a sobreposição de elementos, de compartimentos, de formas… Procurar, assim, uma liberdade de funções.
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