Após formar em arquitetura, estava atento a tudo, observando todas as formas e linhas ao meu redor. Era uma distração gostosa, mas com o tempo comecei a me sentir cansado; parecia que todo aquele encanto pela arquitetura estava se esvaindo, e todos os edifícios pareciam iguais. Estava assustado com como o estresse e a correria do dia-a-dia deixaram tudo entediante.
Felizmente, mudei para o Porto. No início, era tanta informação que tive de parar, respirar fundo e aplicar um novo olhar à arquitetura do local. Enxergo o Porto como uma cidade colorida e animada. Mesmo com o frio chegando no final do outono, a temperatura caindo e as pessoas se fechando, a alegria do verão não está mais em todos os rostos. No entanto, o fato de viver em uma cidade multicolorida ajuda no humor. Aqui, a energia é diferente!
Passeando pelas ruas e prestando bastante atenção, é muito interessante não ver um padrão. Você passa por duas ou três fachadas verdes, encontra uma azul, topa com uma parede amarela cheia de detalhes ou com outra pintada de vermelho. Essas diferenças são muito importantes para dar identidade à cidade e a cada edifício, ajudando a configurar seu caráter. Junto às cores vibrantes, vemos entalhes e adornos de todos os tipos, criando mosaicos fantásticos. Uma combinação muito alegre e descontraída e, ao mesmo tempo, elegante e clássica, formando o visual único da cidade.
Talvez, o elemento mais importante seja o famoso azulejo português. Eles são uma tela que expõe grande parte da cultura, influenciando desde monumentos políticos até igrejas. São nestes templos religiosos, na maioria católicos, que esta arte tem maior capacidade de demonstrar sua força. Conta-se que os azulejos foram trazidos por Dom Manuel I para Portugal durante o século XV, para a decoração do Palácio Nacional de Sintra. Foram trazidos do oriente com grande influência das artes dos árabes e chineses.
Um dos maiores exemplos é a Capela das Almas, o nome deriva de Nossa Senhora das Almas, presente em imagem no interior. A capela está situada na Rua Santa Catarina, uma das ruas turísticas mais conhecidas e movimentadas da cidade. Seus murais estão sempre em alta e presentes na “timeline” das redes sociais de muitos turistas. Sua fachada é muito bem adornada, mas é a arte do painel lateral que mais chama atenção. Os azulejos mostram cena da vida de duas santas: Santa Catarina de Siena e Santa Catarina de Alexandria. Engolida por edifícios de uma zona comercial, estar em uma esquina ajudou significativamente a se destacar nas fotografias.
Outro edifício, ao final da mesma rua junto à Praça da Batalha, é a Igreja de Santo Ildefonso. Em sua fachada, estão importantes mosaicos do artista Jorge Colaço (1932) representando cenas da vida do Santo. Outros pontos com mosaicos importantes são a Pérola do Bolhão, uma mercearia que tem lindos azulejos decorativos originais, a estação de São Bento e a Igreja do Carmo. Os azulejos são tão importantes culturalmente que no edifício da Casa da Música, um monumento da arquitetura moderna, tem uma sala totalmente revestida de azulejos pintados que são réplicas de mosaicos históricos da cidade. Isso mostra a importância desse elemento.
Outra maneira de ver cores e texturas são nas obras de grafite espalhadas pela cidade, também muito importantes na cultura local. Artistas como Mr. Dheo, Alexandre Farto (aka Vhils), Hazul, entre outros, ajudam a decorar a cidade com grandes murais em grafite. As obras que mais gosto são: o painel do Mr Dheo na Rua Monsenhor Fonseca Soares, próximo à rotunda da Boa Vista; a obra “Look at Porto” do Vhils na Rua Ancira; e a obra “Mira” de Daniel Eime na Rua Nova Alfandega, as duas últimas na região ribeirinha.
Além das cores, um ponto importante a se considerar é a arborização. Grande parte das ruas é repleta de árvores, oferecendo sombra e beleza aos andantes. Espécies com copas grandes camuflam a verticalidade da cidade e ajudam na escala humana, tornando os passeios mais convidativos e os pescoços não ficam apontados para o céu. Além dos túneis verdes, a cidade tem uma quantidade muito grande de espaços abertos como parques e praças que ajudam nesta ambientação. São importantes pontes de encontro, de descanso e relaxamento, ótimos para passar alguns minutos e recarregar as energias estando em contato com a natureza.
Esses são alguns atrativos que deixam seu passeio mais agradável ao andar pelas vielas e travessas desta cidade. Existem edifícios com tantos detalhes que pode-se ficar mais de uma hora tentando decifrar tudo. Somente trancado em casa para conseguir ficar triste em uma cidade multicolorida, cheia de movimentos e arte. Um passeio rápido para tomar um café ou ir até uma praça próxima para ler um livro traz ânimo para o dia. Porto é uma cidade encantadora e comprometida com o bem-estar de seus cidadãos.