O arquitecto John Pawson (1949) tem tanto de minimalista como de humanista nos seus projectos. A sua arquitectura centra-se na essência filosófica do espaço e na forma como esta é compreendida através da perceção sensorial. O seu corpo de trabalho é coeso, devido ao modo como se posiciona perante os projectos, cada projecto é uma oportunidade de experimentar diferentes formas de vivenciar o espaço e de abordar os nossos valores e costumes.
«Quer na escala de um mosteiro, de uma casa, de uma panela ou de um bailado, tudo é tratado com a mesma consistência e com as mesmas premissas: massa, volume, superfícies, proporção, junção, geometria, repetição, luz e ritual».
(Jonh Pawson)
Influenciado pela sua passagem pelo Japão, os seus projectos têm uma estética minimalista predominante, que em alguns casos se torna fria de tão higienizada. Mas o surpreendente na arquitectura de Pawson, é a forma como este consegue tornar, em muitos dos casos, o minimalismo em algo confortante e humanista.
O caso da casa Neuendorf, um projecto do principio da sua carreira, é o primeiro exemplo disso. Datado de 1987/89 e situado em Maiorca, esta casa tem uma revitalizante semelhança com as obras do arquitecto Luis Barragán (1902-1988), quer pelo uso dos materiais, quer pelas cores, ou até mesmo os típicos muros envolventes que fazem com que a casa esteja virada para o seu interior. É, notoriamente, uma habitação com influências da arquitectura mediterrânea, desde as suas linhas arquitectónicas difusas, às cores utilizadas e até na relação que a casa estabelece com o exterior e a paisagem crua, mas sem nunca deixar de ser minimal.
Outro exemplo, do seu minimalismo sublime, é a restauração da Abadia da Nossa Senhora de Nový Dvůr, situada na região de Boémia na Republica Checa e contruída entre os anos de 1999 e 2004. Esta restauração dá enfase à luz, à simplicidade das proporções e à clareza dos espaços existentes. Foi um projecto de grandes dimensões que envolveu um complexo de edifícios implantado num terreno com 100 hectares. Apesar de neste caso, não se rever como no caso anterior uma influência directa com a arquitectura mediterrânea, consegue-se entender, através das abobadas e das esquinas boleadas, uma ligação com o seu trabalho anterior. Aqui neste caso, o minimalismo começa a ser uma influência marcada e é um dos projectos que marca a sua obra.
Num âmbito diferente é construída a Stone House, em 2010, a propósito da exposição Think Tank no interior do pátio do edifício da universidade de Milão em Itália. A instalação consiste na edificação de uma estrutura com o arquétipo de casa, implantada na diagonal no centro do pátio. Este é um trabalho invulgar no decurso da carreira e John Pawson, diverge na cor, na forma e até na complexidade, apesar de manter o seu modus operandi.
Ainda no campo das exposições e no mesmo ano, temos a instalação Plain Space, para o Design Museum em Londres, Inglaterra. Esta é uma obra que se consegue identificar de imediato como sendo do arquitecto Pawson, mais uma vez pelo seu minimalismo confortante e pelas formas difusas com que delimita os planos. Mas ainda mais do que isso é assumidamente uma experiencia sensorial á escala real dos elementos chave do seu trabalho. Em 2012 volta a repetir a experiencia, desta vez para a Fondazione Bisazza, em Veneza, Itália, com uma instalação da mesma família que a anterior, de formas puras e com nuances de luz, acompanhada por uma exposição retrospetiva.
Uma das obras que provocou maior impacto, no universo da arquitectura, foi a igreja de St. Moritz, na cidade de Augsburso na Alemanha, contruída entre 2008 e 2013. Aqui predomina o branco, as formas geométricas suavizadas e o contraste de luz-sombra. É uma intervenção de uma suavidade e clareza extremamente bem conseguida. O intuito foi recuperar a arquitectura existente do ponto de vista da estética, da funcionalidade e das perspetivas litúrgicas, mantendo sempre presente a atmosfera sagrada.
Em 2013, volta a contruir uma casa, à semelhança da casa de Maiorca, em Long Island nos EUA. Apesar de não ser tão bem conseguida, Pawson recupera, no seu trabalho, a ligeireza das superfícies suavizadas e pigmentadas que estão em perfeita união com a paisagem envolvente.
Não menos importantes são as suas pesquisas e investigações, que formalmente se materializam em livros publicados. Em 2017, publica o livro Spectrum, pela editora Phaidon, sendo já o seu segundo livro de fotografias. Este seu livro compila 320 fotografias ordenadas pelo espectro de cor, sendo não só um arquivo de cores como também de texturas, padrões, formas e espacialidade.
Apesar da sua vasta obra não ser muito conhecida, John Pawson tem um coeso corpo de trabalho, que consegue através da sua espacialidade apurada, basear-se numa estética minimalista humanizada, como muitos poucos conseguem. Por fim, as suas obras conseguem unir o minimalismo despido das formas geométricas com um conforto humanista da espacialidade das suas obras.