Não sei se é o seu caso, mas eu, quando vou de férias para um local que ainda não conheço, transformo-me numa pessoa muito mais feliz. Ao regressar de uma escapadinha, na semana passada, estava a tentar fazer um resumo mental do que aquela viagem tinha significado para mim, alinhar expectativas e realidades, arrumar memórias e preparar para regressar à rotina. E sentia aquele típico peso de aborrecimento de saber que tinha de ir trabalhar no dia seguinte, o síndrome de domingo à noite.
Até que me interroguei, mas porquê esse sentimento? O que torna as férias tão apelativas e o trabalho mais aborrecido? A primeira resposta que me surgiu foi: “Fui eu que escolhi ir de férias e por isso sinto-me bem, por estar a fazer uma coisa que escolhi fazer”. Mas logo percebi que não podia ser essa a resposta, pois, eu gosto do que faço, e também fui eu que escolhi as minhas profissões e os projetos em que me envolvi.
Passei então a comparar as duas realidades, na tentativa de compreender em que diferiam assim tão significativamente. E foi então que me ocorreu que tem tudo a ver com a mentalidade de escassez, com a velocidade e a intensidade com que vivemos as férias, por oposição ao arrastar do quotidiano.
Quando visitamos um local desconhecido, sabemos que só lá vamos estar um certo número de dias; temos de aproveitar para conhecer e experimentar o máximo que pudermos. O tempo escasseia e as novidades são muitas, e perante este cenário, o facto de estarmos mais cansados, de estar a chover, de estar uma fila enorme ou de termos de andar 2 horas a pé, deixa de ser relevante. Só queremos aproveitar e tem de ser agora.
Por outro lado, quando voltamos a casa, a preguiça instala-se, regressamos à nossa zona de conforto, reduzimos a velocidade. Hoje não apetece ir andar porque está frio, amanhã não vamos aproveitar a entrada grátis no museu porque vai estar cheio de gente, depois não temos tempo para visitar os amigos porque vamos ficar no sofá agarrados ao Candy Crush. Deixamos tudo para depois; amanhã também é dia. E é assim que caímos novamente na rotina e fazemos só aquilo que temos mesmo de fazer, o nosso trabalho.
Ora, por muito bom que seja o trabalho, a rotina trabalho-casa-trabalho tem pouco de novo e de inspirador, especialmente se a encararmos com a mesma mentalidade de que há sempre tempo e podemos deixar para depois. Quando damos por nós, passou um ano e a vida pouco mudou, começamos já a pensar nos objetivos para o novo ano e pouco cumprimos do que queríamos para este que termina.
Não tem de ser assim. Eu decidi que não tinha de ser assim e, este mês de dezembro fiz mais coisas diferentes e dediquei-me a aproveitar mais da minha própria vida, a procurar inspiração e novidade naquilo que já conheço, do que fiz durante o ano inteiro. A sensação é extraordinária, é como estar de férias sem estar de férias, os dias tornam-se maiores e mais interessantes, as tarefas mais aborrecidas ficam diluídas pelas que mais me entusiasmam. Viver à velocidade das férias, com a mesma urgência de fazer tudo já e de aproveitar a vida todos os dias – é esse o meu principal objetivo para 2018. Qual é o seu?