As Redes Sociais, a mídia e os mega espetáculos apresentam ídolos, apresentam celebridades e também evidenciam as trilhas, os caminhos para tentar atingí-los quando visados por pessoas obsessivas ou referenciadas em metas de sucesso e realização. Nesse último caso, imersos em suas próprias frustrações e insatisfações, certos indivíduos supõem que se conseguirem atingir pessoas de sucesso, serão também conhecidos, ficarão famosos.
Fã-clubes eram comuns em tempos passados e em escala menor realizavam o desejo de contato com um ídolo, vivenciando esse contato como homenagem e reverência. A motivação principal era a expressão do carinho, apoiada na necessidade de contornar carências insatisfeitas, se quisermos vislumbrar algum dimensionante psicológico.
O contato obsessivo, repetitivo, indesejado, não consentido, enfim, o assédio resultante de obsessão e fixação e que, consequentemente, causa na vítima, de desconforto a medo e tensão, é o conhecido stalking, bastante diferente do contato do fã. O stalker ameaça, é perigoso, pode se tornar violento, invade a privacidade, interpreta tudo como sinal de comunicação consigo, obriga a vítima de sua fixação a relacionar-se com ele, mesmo que seja pelo medo e pela obrigatoriedade da mudança de hábitos voltados à segurança e estabilidade emocional.
Não só os famosos são vítimas de perseguições obsessivas. As estatísticas internacionais identificam as mulheres como as maiores vítimas de stalkers, a grande maioria seus ex-parceiros, mas também podendo ser amigos, colegas de trabalho ou mesmo desconhecidos. Homens vítimas são em bem menor número.
A caçada e o acuamento é o que motiva indivíduos obsessivos, vazios, autorreferenciados e essa atitude de constante perseguição a celebridades, ou a pessoas comuns, cria verdadeira violência e invasão de privacidade. Tudo é feito no sentido de atingir, por bem ou por mal, o buscado, a pessoa perseguida, e obrigá-la a um relacionamento. Com a facilidade tecnológica lançam mão de e-mails, WhatsApps, mensagens abusivas, envio de presentes e também do assédio presencial.
Sem limites, tudo é definido por perseguir e vencer, e violência e agressões são frequentes. Boatos, bullying, trollagem, tanto quanto efusivas manifestações de afeto e apreço coexistem nesses cenários. Volta e meia, suicídio como última tentativa de atingir sua vítima, assim como ciladas e emboscadas de morte, são noticiadas.
O perseguidor constante - o stalker - é a nova figura ampliada pela utilização das amplas redes e trilhas relacionais, quando o que se deseja, quando o motivante é preencher o vazio com a fabricação de uma nova personalidade, de um novo perfil, ou através da mesma roupagem criada pelo que é dado ou oferecido pela pessoa comum ou pela celebridade perseguida. Constitui-se o stalker pelo que ele persegue e, assim, destruindo o mito buscado, ele encontra seu próprio vazio e suas não aceitações camufladas, disfarçadas pela apropriação feita de pedaços alheios, diferentes dos próprios resíduos fragmentados, não aceitos, consequentemente, despersonalizantes. Para ele, os pontos de referência mudam, já não é o Zé Ninguém ou a Maria Vai com as Outras, ele é o amigo do mais célebre jogador de futebol ou o responsável pela briga com a super famosa celebridade, ou ainda, em seu autorreferenciamento, já não éS um ser solitário e isolado, mas sim um amante desejado.
Os paparazzi também podem ser considerados stalkers, embora acalmados pela confluência pecuniária, pelo objetivo de ganhar dinheiro, que os caracteriza. O que os acalma, esse ganho, é também o que gera muita ansiedade e ambição quando querem mais e, desse modo, quando não conseguem, chantageiam.
Esses comportamentos, essas perseguições caracterizam insatisfação, frustração, desespero e maldades e são causadores de grandes males como: insegurança, medo, violência, intranquilidade e desarmonia.
Stalking, em vários países, é objeto do Direito Penal, é crime, mas, independente das nuances e reveses da lei, vítimas de stalkers geralmente passam anos de tensão, medo e angústia, necessitando também de acompanhamento psicoterapêutico. As agressões psicológicas a que são sujeitas podem se tornar irreparáveis. Várias situações equivalentes a essa, diversas inadequações e problemáticas sociais, sempre existiram, “nada é novo debaixo do sol” já dizia Salomão, mas também dizia Heráclito: «as águas do rio que o homem se banha, nunca são as mesmas». Tudo depende dos contextos, nesse caso, plataformas e mídias de acesso.