Quando o brinquedo Lego foi criado em meados da década de 1950, algumas metas buscavam ser alcançadas, entre elas: proporcionar diversão ilimitada; estimular a imaginação, a criatividade e o desenvolvimento de crianças de todas as idades; ser seguro; ter qualidade. O que os seus criadores não imaginavam na época é que uma nova finalidade seria dada ao seu brinquedo no futuro: obra de arte. O responsável por essa releitura funcional foi o americano Nathan Sawaya. O artista trabalhava como advogado quando descobriu a propriedade calmante do Lego, ajudando-o a aliviar o stress do trabalho. Foi dessa forma que percebeu que a sua paixão, na verdade, era fazer arte e não trabalhar em um escritório. Assim, desde 2002, Sawaya elabora um trabalho inusitado, criativo e envolvente, o qual já lhe rendeu vários prêmios e honrarias ao redor do mundo. As suas obras, pouco tradicionais, são consideradas uma nova dimensão da Pop Art e do Surrealismo, servindo-se de material, cores, movimentos, luz e perspectivas singulares.
De passagem pelo Brasil, a exposição do artista entitulada “The Art Of The Brick” está pela primeira vez na América Latina, já tendo passado por mais de 80 museus pelo mundo, desde 2007. A mostra consiste em 83 esculturas criadas apenas com peças de Lego. Ao todo foram utilizadas mais de 1 milhão de blocos do brinquedo, sendo a maior exposição de arte com Lego do mundo. Com uma mistura de brincadeira e arte, “The Art Of The Brick” é dividida em sessões. Logo na entrada, o espectador poderá ver uma réplica do ateliê do artista, onde as peças de Lego são separadas em caixas por cores. Após, há uma sessão de obras mais conceituais, entre elas uma das mais famosas da exposição: “Yellow”. A obra, segundo o artista, simboliza uma pessoa abrindo-se e colocando suas emoções para fora do peito. A escultura feita com 11 mil peças demorou três meses para ser finalizada. Em seguida, o público entra na sessão de homenagem a celebridades, onde há retratos feitos de Lego. Em tributo ao Brasil, Sawaya criou uma imagem do Pelé, um painel composto em mosaico com uma bola de futebol tridimensional. Por fim, o público entra na sessão de reproduções de grandes obras de arte, entre esculturas e quadros, dentre eles: “O Pensador” de Rodin, “O Grito” de Edvard Munch e “O Beijo” de Gustav Klimt.
Em algumas áreas da exposição o espectador é hipnotizado por esculturas de tamanho gigante. A maior delas é um Tiranossauro Rex de 6 metros de comprimento, que foi construído com 80.020 peças de Lego e demorou mais de três meses para ser concluído. Ao falar sobre o seu trabalho, Sawaya explicou: “Eu uso esses brinquedos como meio, porque gosto de ver a reação das pessoas à arte criada a partir de algo com o qual estão familiarizados. Todo mundo pode relacionar-se com isso, uma vez que é um brinquedo que muitas crianças têm em casa e com o qual os adultos têm uma ligação sentimental. Também me seduz o aspecto clean desse material, os ângulos retos, as linhas distintas. Como tantas outras coisas na vida, é uma questão de perspectiva. De perto, a forma do bloco é distinta. Mas, de longe, esses ângulos retos e linhas fixas podem mudar para curvas". Apesar de as peças estarem todas encaixadas, foi necessário colá-las, pois o artista relatou que já ocorreram incidentes desastrosos com as obras durante as viagens para as mostras.
Uma das intenções de Sawaya foi a de inspirar as pessoas com a sua arte. Daí a importância de fazer arte com um brinquedo tão comum e despretensioso. “É uma forma de democratizar a arte, já que o Lego é acessível a todos”, comenta o artista. Na saída da exposição, os visitantes deparam-se com tanques lotados de pecinhas do brinquedo, que ficam à disposição de quem desejar criar as suas próprias obras de arte. A proposta é incentivar a criatividade de pessoas de todas as idades, de forma agradável e descontraída. Além dos bloquinhos de Lego, há um espaço para jogos online da DC Comics e uma loja com produtos personalizados da exposição. Já visitada por mais de 10 milhões de pessoas em sua passagem por diversos países, a mostra esteve em São Paulo de 11 de Agosto até 30 de Outubro, chegando ao Rio de Janeiro em 11 de Novembro, onde fica até o dia 15 de Janeiro, no Museu Histórico Nacional. O ingresso custa 20 reais (inteira) e 10 reais (meia).