A arquitetura é um ambiente de existência do corpo, mas pode também ser entendida como extensão do corpo, pele ou casca que intermedia a nossa relação com o mundo. O corpo e a cidade relacionam-se mesmo que involuntariamente, através da simples experiência urbana. A cidade é lida pelo corpo como um conjunto de condições interativas e o corpo expressa a síntese dessa interação através da sua corporalidade. Como Winston Churchill referiu, "nós moldamos os nossos edifícios; por consequência eles também nos moldam."
Tanto a arquitetura como o corpo humano lidam com estruturas incrivelmente complexas e bonitas - edifícios e cérebros. É quando os dois se cruzam que se define a forma como percebemos, imaginamos, interpretamos e respondemos aos edifícios.
Os edifícios são fruto da imaginação dos nossos cérebros, e os nossos cérebros - e os nossos corpos - gastam uma média de 87% da sua existência em edifícios.
A relação entre arquitetura e o corpo humano tem obviamente uma longa história. As questões que surgem quando exploramos esse relacionamento vão muito além do simples "acomodar" fisicamente uma pessoa e os seus comportamentos dentro de um determinado espaço arquitetónico. Esta relação desencadeia uma série de acontecimentos quando os dois se unem, impactando no comportamento dos ocupantes não só através do corpo, mas também intelectualmente, emocionalmente, fisiologicamente e até espiritualmente.
Atualmente, a dimensão do corpo já não é a prioridade no discurso arquitetónico. A arquitetura contemporânea é gerada consciente de que deverá circular pela rede mundial de computadores, e por isso, adequar-se a ela. O espaço virtual, ampliado pela internet e pelos sistemas de informação, redimensionam a noção de materialidade. Os projetos de arquitetura assistidos por programas de imagens fazem-nos pensar que as ferramentas virtuais e as memórias são materiais da arquitetura, tanto quanto tijolos. O computador permite a criação de realidades com menos constrangimentos, em que transitam corpos menos densos – imagens, perfis, programas, personagens – e desenvolvem edifícios que guardam uma materialidade ambígua. Por meio de programas de manipulação de imagens, revelam-se espaços em que a luz atravessa paredes e o usuário é capaz de compartilhar visões de pássaro.
Arquitetura e corpo acumulam marcas. Trazem registrados na pele os usos que lhe fizeram e, nas suas estruturas, sinais de cansaço, na batalha contra a gravidade. Não passam, portanto, impunemente pelo mundo. Ao mesmo tempo, não compartilham também da condição de não se constituírem meramente produtos da paisagem? Não bastasse a possibilidade de espalhar pelo mundo resíduos de si mesmos, rastros da própria passagem, alterando o desenho original dos percursos, arquitetura e corpo são manifestações de vontades, que anunciam o capricho do homem. O arquiteto cria atmosferas, como um pequeno senhor do tempo.
“Os edifícios podem ser estáticos, mas a nossa experiência com eles nunca é.” Robert Landon