Em 1886, Henri Rousseau expôs pela primeira vez a sua obra “Um dia de carnaval” (“Un soir de Carnaval”) no “Salão dos Independentes” (Salon des Indépendants”) em Paris. Embora, na época, tenha sido intensamente criticado por não aderir aos princípios básicos de geometria e perspectiva, Henri, tornou-se o precursor e principal ícone de um movimento que ficou conhecido como “Arte Naïf”. O artista, contudo, apenas alcançou reconhecimento no século XX, quando pintores como Pablo Picasso, Guillaume Apollinaire, Paul Gauguin, entre outros, tornaram-se seus admiradores. Atualmente, o termo “arte naïf” designa uma arte ingênua, instintiva, de manifestação autêntica, oriunda da subjetividade e imaginário de artistas sem formação acadêmica. É considerada uma arte com grande liberdade estética e livre de convenções, tendo como principais características: inexistência de perspectiva (ou seja, bidimensional); desregulação da composição; simplificação dos elementos decorativos; uso de cores chocantes; temática alegre; espontaneidade; traços figurativos; tendência à simetria; idealização da natureza. A junção desses elementos, por vezes, resulta em uma estética desequilibrada, porém bastante significativa.
Desde o século XX, a arte naïf desenvolveu-se pelo mundo, influenciando pintores de outros movimentos artísticos. Hoje, ela dispõe de um circuito próprio, com museus e galerias especializados pelo mundo todo. Sendo o movimento uma manifestação tipicamente regional, ele adquire as características e elementos de cada localidade, tornando-se assim, rico e autêntico. No Brasil, diversos artistas destacam-se como representantes da arte naïf, dentre eles: Chico da Silva (1910 -1985); Djanira da Motta e Silva (1914 -1979); Heitor dos Prazeres (1898-1966); José Luís Soares (1875-1948); José Antônio da Silva (1909-1996); Agostinho Batista de Freitas (1927-1997); Alba Cavalcanti (1963-2011); Aparecida Azedo (1929-2006).
Dessa forma, em 1992, com o intuito de privilegiar as obras de artistas marcadas pela vertente naïf, cujos elementos evidenciam a cultura popular brasileira, foi criada a Bienal Naïf do Brasil. A mostra, que está em sua 13ª edição, é realizada pelo Sesc em São Paulo na unidade de Piracicaba. De 20 de Agosto a 27 de Novembro, a Bienal desse ano traz 126 obras de 86 artistas de todas as regiões do país, com temas que retratam os costumes, o cotidiano e a religiosidade do povo brasileiro. O provocante tema “Todo mundo é, exceto quem não é”, foi proposto pela curadora Clarissa Diniz, que junto com Sandra Leibovici e Claudinei da Silva, são os responsáveis pela curadoria da exposição. De acordo com Claudinei da Silva “...o título contém um desafiador convite à inclusão e à aceitação mais radical desse outro que nos é apresentado a partir dessas manifestações de caráter artístico”.
Com um acréscimo de 30% de inscrições em relação à última edição, foram analisadas 948 trabalhos de 474 inscritos, sendo 28 obras da região Norte, 74 do Sul, 92 do Centro-Oeste, 154 do Nordeste e 600 do Sudeste do país. Das obras selecionadas de artistas de 22 estados: quatro receberam o prêmio de Destaque Aquisição (R$ 4 mil), cinco de Incentivo (R$ 2,5 mil) e 12 receberam Menções Honrosas do júri composto por Fabrício Lopes, Julieta Machado e Valéria Laena. As obras escolhidas como Destaque Aquisição entrarão para o Acervo Sesc de Arte Brasileira. Dentre os suportes e técnicas artísticas utilizadas neste ano, estão: acrílica e óleo sobre tela, metal, plástico, papelão, xilogravura, escultura, bordado livre à mão, entalhe em madeira, guache sobre papel, mistas, encáustica sobre madeira e aquarela. Fora as obras selecionadas, os curadores da mostra convidaram 25 artistas contemporâneos, que irão expor 59 trabalhos ao total.
Além disso, a Bienal conta com um programa de ações educativas, uma biblioteca, oficinas, residência artística e a elaboração de uma série de documentários, sob a curadoria de Clarissa Diniz e Claudinei Roberto. Ultrapassando o espaço do Sesc, a mostra abrange instalações, intervenções, ateliês abertos, cursos, palestras, visitas orientadas e apresentações artísticas em diversos locais da cidade. De significativa relevância simbólica e cultural, o movimento naïf retrata um Brasil diversificado e místico, com manifestações particulares de cada região, representadas pela perspectiva de artistas, em sua maioria, autodidatas. Uma referência para artistas, pesquisadores, colecionadores, galeristas, educadores e estudantes da arte naïf, a Bienal tem como objetivos valorizar e divulgar o movimento no país.