Há muito que nos questionamos sobre a natureza do tempo na arquitetura. Tempo e temporalidade referem-se somente ao homem e por consequência, ao habitar e à arquitetura como existência. Sendo que habitar e construir são indissociáveis.
Explorando o sentido do tempo e de que maneira este pode afetar o campo da Arquitetura, automaticamente o associamos às noções de Património Histórico. Mas a questão é mais transversal. O tempo é causa, problemática, memória e utopia. Por consequência o espaço é efeito, representação e realidade.
O tempo na Arquitetura é algo fundamental, não só como dimensão da observação mas também como dimensão da obra em si. Desta forma estamos perante uma realidade onde tudo é tempo e o tempo está em tudo.
A disciplina de projeto é o instrumento para a materialização da Arquitetura. E arquitetura é mais do que construção. É poesia, é arte, é uma procura de sensações e de emoções.
Uma realidade menos poética, é a da transformação que a profissão enfrenta no sentido mais banal e inocente de tempo: série ininterrupta e eterna de instantes.
Habituados a uma Arquitetura de autor, onde o trabalho do arquiteto é um trabalho de poesia e onde o tempo é essencial para a prática, surge a arquitetura instantânea. Aquela onde arranha-céus de 57 andares se constroem em 19 dias. Assim a arquitetura adota uma velocidade que não é a velocidade do homem, ao se deixar dominar por uma nova velocidade, a velocidade da máquina.
Estamos em constante contacto com informação. O fluxo de informações é intenso e em permanente mudança. Da mesma forma que a sociedade (a chamada sociedade da informação) está atualmente inserida numa realidade em que esta altera as nossas próprias vidas, de forma muito veloz sem que, às vezes, seja percetível (pela velocidade de propagação de conhecimentos e informações), a arquitetura acompanha de forma imediata esta mudança. Este processo deve-se ao facto de vivermos numa sociedade inserida num processo de mudança constante, fruto dos avanços na ciência e na tecnologia.
A Arquitetura, como cadeira multidisciplinar, acompanha consequentemente este avanço, obrigando a um novo ritmo da profissão. Onde os projetos são avaliados por rapidez e não por qualidade. Como consequência, rapidamente passamos do conceito de arquitetura de autor, para um conceito de arquitetura instantânea, desafiando a qualidade projetual e de construção. Desta forma, a profissão deixa de ser uma prática metafísica, para uma prática em contra relógio. Começa-se então a sentir uma mudança de paradigma na profissão, onde trocamos a arquitetura de autor por uma promiscuidade da profissão que nos começa a ser alheia.
É essencial não deixar que se perca a essência e a poesia da profissão. não necessariamente arquitetura mas arquitetura de autor.
De que maneira esta mudança na profissão irá influenciar uma nova arquitetura? Estamos perante um futuro de arquitetura sem arquitetos?
Para Siza "o melhor arquiteto é o tempo" e o tempo deu-lhe razão.