A relação entre seres humanos e o seu habitat é um objeto de estudo cada vez mais recorrente, seja pela psicologia, psiquiatria ou sociologia. Diversas vertentes tentam analisar a relação entre comportamento social e ambientes físicos, e como os seres humanos são afetados por eles.
Ao nos voltarmos para a questão da mobilidade social, por exemplo, podemos entender que através de diferentes formas de mobilidade o ser social encontra e dá sentido à sua vida em sociedade. Deste modo, a mobilidade humana expressa através de inúmeras formas a relação que os seres humanos estabelecem com o seu ambiente. Os espaços públicos, por sua vez, tem sido cada vez mais vistos como locais de confrontos onde as relações humanas são danificadas e rompidas. Seja por uma construção subjetiva do ambiente ou por um manifesto político, a influência do comportamento afetivo do homem ajuda a criar novas configurações ambientais.
As constantes mudanças sociais e econômicas produzem um excesso de arquiteturas e locais abandonados. Muitos desses locais permanecem sombriamente apenas aguardando pela sua demolição. Para muitas pessoas, esses locais representam um patrimônio histórico; uma memória a ser preservada e resgatada. A afetividade que reveste a apropriação do território pelos indivíduos, reconhecida na subjetividade de expressões poéticas e sentimentos, torna-se evidente no planejamento de intervenções sobre o urbano, como um fator de sobrevivência da história dos mesmos.
Em decorrência desse novo cenário, surge em meados dos anos 2000, a chamada “exploração urbana”, que é a exploração de estruturas feitas e, frequentemente, abandonadas pelo homem. Ela irrompe, a princípio, como uma subcultura punk; uma fuga das regras e ordens sociais. No entanto, atinge a forma de um manifesto público atraindo muitas vezes a atenção da mídia. São inúmeros os sites e comunidades dedicados à exploração urbana. A idéia principal é a de documentar através de fotografias lugares “esquecidos” ou não conhecidos pela maioria das pessoas. A chamada fotografia de exploração possui suas particularidades; podendo ser urbana, rural, industrial, entre outras.
Todo dia acordamos e fazemos os meus trajetos, pegamos as mesmas ruas e nos deparamos com as mesmas formas e estruturas urbanas. A exploração urbana é uma tentativa de libertação desses ditames tradicionais. Um escape desses caminhos pré estabelecidos socialmente; uma abertura de horizontes.
Os locais escolhidos para explorar são incomuns e desconhecidos para a grande parte da população: túneis e prédios abandonados, telhados, drenos, esgotos, canteiros de obras, fábricas, usinas, catacumbas, abrigos, silos, hospitais, asilos, sanatórios ou qualquer local de acesso restrito. Locais afastados do mundo “normal”, da realidade cotidiana.
As explorações em estruturas abandonadas é a forma mais conhecida de exploração urbana. Os objetos e locais de visitas tendem a variar de um país para outro. No Japão, por exemplo, dada à sua rápida industrialização, às deteriorações causadas durante a Segunda Guerra Mundial, à bolha imobiliária da década de 1980 e às catástrofes naturais, as explorações em ruínas são muito frequentes, sendo conhecidas como haikyo (“lugar abandonado”). Por conta disso, o Japão se tornou um dos lugares preferidos pelos exploradores urbanos. Muitos tem como finalidade mostrar a beleza encontrada na decadência do espaço desabitado; e através dela recuperar os valores históricos e culturais perdidos.
As regras
Para os adeptos da exploração urbana, há algumas regras que devem ser respeitadas: ao entrar em um local não se deve causar danos ao mesmo; É proibido pixações, grafismos, destruições, vandalismos, roubos. O ideal é interferir o mínimo possível em um ambiente ao entrar e sair dele, assim, outras pessoas poderão visitá-lo e ter as suas próprias experiências. Respeitar os locais de visita é fundamental. Os exploradores urbanos seguem o lema: “ tire apenas fotos, deixe apenas pegadas”.
Outro ponto importante é a segurança. Muitos locais representam riscos para os que se atrevem a visitá-los. Por isso, é indispensável estar preparado com equipamentos adequados, tais como: capacetes, equipamento de escalada, respirador, luvas, lanternas, kit de primeiros socorros, etc. Em alguns locais é recomendada a visita com um profissional treinado, como em cavernas, usinas, túneis subterrâneos, etc. Nao é aconselhável explorar por conta própria.
Além dos perigos físicos, o explorador está sujeito à possibilidade de prisão e punição. Nem todas as explorações são legais, embora arrombamentos sejam proibidos. Algumas atividades, contudo, podem ser consideradas como invasão de propriedade. Por isso, quando possível, se deve pedir permissão aos proprietários (se houver) do local para as visitas; Um conhecimento prévio do local também é importante. É frequente entre os exploradores uma pesquisa prévia do significado histórico e do papel social do local na comunidade.
A Popularidade na Mídia
O aumento na popularidade da exploração urbana pode ser atribuído ao crescente interesse da mídia no assunto. Atualmente, diversos documentários, programas de televisão e filmes abordando o tema podem ser facilmente encontrados. Resta agora saber se esse aumento na popularidade será benéfico ou prejudicial para o fenômeno da exploração urbana, já que ,infelizmente, nem todos os exploradores obedecem às regras; o que gera muita preocupação entre alguns proprietários.
O lado bom dessa popularidade é que cada vez mais pessoas estão se dando conta da importância da valorização da história da sua região. Além disso, a exploração urbana transforma a maneira com que as pessoas enxergam a cidade e interagem com ela. Uma mudança no olhar pode resgatar o belo que há em toda parte, sendo apenas uma questão de querer “enxergar” além do que se vê.