Certos termos usados nos estudos do discurso designam coisas diferentes dependendo da vertente teórica adotada. O próprio termo discurso é exemplo disso. O mesmo ocorre com o conceito de texto. Não há unanimidade entre estudiosos do discurso e da linguagem a respeito da conceituação de texto. Dependendo da corrente teórica (linguística textual, análise do discurso, semiótica, teoria dos atos de fala etc.), deparamo-nos com definições diferentes para texto. Mesmo dentro de uma mesma teoria, o conceito pode apresentar variações de autor para autor.

A semiótica discursiva, também conhecida por greimasiana, define texto a partir de duas características complementares: a) o texto é uma unidade de sentido; b) o texto é um objeto de comunicação entre sujeitos. A professora Diana Luz Pessoa de Barros1 afirma que “um texto define-se de duas formas que se complementam: pela organização ou estruturação que faz dele um todo de sentido, como objeto de comunicação que se estabelece entre um destinador e um destinatário”. Portanto, ao pensarmos na noção de texto, devemos levar em conta que se trata de um todo de sentido, dotado de coerência, e capaz de estabelecer comunicação entre sujeitos. Os textos são produtos culturais, inseridos numa sociedade de classes e determinados por formações ideológicas específicas, portanto vão refletir essas ideologias.

O texto, assim como o signo linguístico, é também uma unidade resultante da união indissolúvel de dois planos que se complementam: um conteúdo e uma expressão, que, na teoria do signo linguístico, como formulada por Saussure, corresponderiam, respectivamente, ao significado e ao significante. Podemos então afirmar que o texto é a manifestação de um sentido por meio de uma expressão qualquer.

O conteúdo é de ordem cognitiva, pertence ao inteligível; a expressão é de ordem material, pertence ao sensível. A distinção que se faz entre um e outra é meramente didática e tem fins operacionais. Conteúdo e expressão se pressupõem: não há conteúdo sem expressão e toda a expressão é expressão de um conteúdo. São como frente e verso de uma folha de papel.

A expressão é sempre manifestada por meio de uma linguagem, que pode ser ou não verbal. Quando o plano da expressão é dado por uma linguagem verbal, temos textos verbais; quando manifestado por linguagem não verbal, temos textos não verbais. Os textos sincréticos são aqueles cujo plano da expressão apresenta linguagem verbal e não verbal ao mesmo tempo.

O plano da expressão manifesta o conteúdo e é a parte “visível” do texto. O primeiro contato que temos com qualquer texto se dá pelo plano da expressão. Num quadro, vemos as imagens e cores; numa música, ouvimos os sons, num texto falado, ouvimos as palavras; num texto escrito, vemos as palavras. O plano da expressão é, pois, percebido pelos sentidos e é, a partir dele, que vamos buscar os sentidos dos textos.

Em grande parte dos textos, o momento da produção e o da recepção não coincidem. Uma pintura, uma composição musical, um romance são exemplos de textos que apresentam recepção diferida, isto é, o momento da recepção é posterior ao da produção. Excetuando os textos falados, como a conversação entre sujeitos, não há concomitância entre contexto de produção e de recepção. Na conversação, a interação é online, o que permite que os parceiros reformulem seus textos em tempo real a fim de atender a seus propósitos comunicativos e, ao contrário do que ocorre no texto escrito, as marcas das reformulações ficam fazendo parte do texto.

Dissemos que o texto, além de unidade de comunicação entre sujeitos, é um todo de sentido, dotado, portanto, de coerência, que decorre da continuidade de sentido, ou seja, os signos de que se compõe o plano da expressão formam uma cadeia em que um remete ao outro.

Notas

1 Barros, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4a. ed. São Paulo: Ática, 2003.