Sempre que se considera alguém, alguma situação ou até mesmo acontecimentos como radicais, eles são sinonimizados como extremistas. É uma distorção comum gerada pelo crivo tradutor de indicação de resultados.
Atitudes extremas, climas extremos, ações extremas são as que conduzem a vivências definitivas, sem contemporização. Plastificar a ideia de extremismo sempre leva ao pensamento de polos, pontas, aspectos originais ou finalizadores de um processo, de uma trajetória, de uma situação. É a não conciliação, a não flexibilização. O extremo é tenso, definido e definitivo. Extremistas são avaliadores do que ocorre, e o que ocorre é válido e aceitável em função do que deveria ocorrer. Mas existem vacilações, oscilações? Tudo pode ser medido e verificado, ou as coisas flutuam ao sabor das ondas?
A rigidez de observação e postura é comum nas visões políticas dos que propõem soluções extremas. Eles querem o poder a qualquer preço. Sob esse aspecto, não importa se são de direita, de esquerda ou terroristas. Ser extremista é passar por cima de quaisquer valores humanos, de vida, compaixão, tolerância e esperança. É focalizar o que se quer, o que se acredita acima de tudo. Lançam mão de quaisquer armas para manter suas bandeiras de luta, mesmo que isso implique na destruição de famílias e vidas. O objetivo é ganhar guerras e realizar propósitos. O extremista não é radical. Ele sempre opera no nível do desejo, da necessidade e dos sonhos, de regras a satisfazer. Seus objetivos estão além de si mesmo, ele é imantado por eles e assim age sem crítica e sem ponderações em direção ao que imagina, pois isso é o que deseja e precisa. É a luta por posição, é a busca do extremo que tudo possibilita e permite.
O radical tem os pés presos ao chão que pisa. Conhece seus limites, suas raízes, seus fundamentos e formas de luta. Radical é o que está preso às raízes. É submetido à coerência que o catapulta ao infinito em função de congruência. Cego pela consistência, o radical luta por princípios. Ele não busca resultados como o extremista, pois isso seria incoerente e despropositado. A coerência do estar diante do limite obriga o radical a questioná-lo, diferente do extremista que continuamente engendra planos e meios de destruir o que impede seus objetivos.
Atualmente, as duas expressões são utilizadas indiscriminadamente em política: extremistas e radicais defendem posições obstinadamente e, assim, pelo objetivo e resultado de suas ações e propósitos, são confundidos, são considerados iguais.
Não há semelhança entre radicalismo e extremismo. O radical luta por estabelecimento e constatação de realidades e limites, enquanto o extremista luta por atingir resultados, situações desejadas, independentemente das implicações decorrentes de seus desejos.
Quando se faz uma guerra, os extremistas querem destruir tudo, ter a vitória para conseguir viver no sistema, governo e situação que desejam. Nas guerras, os radicais não querem contemporizações, conquistas a qualquer preço, mesmo que abrir mão das mesmas implique em não guerra ou no perder a guerra. Clareza e objetivos orientam o radicalismo, é a coerência, a raiz que tudo baliza, enquanto que, no extremismo, o virar a mesa, reinar sozinho e não ter oposição é o que se deseja. Nesse sentido, extremistas têm atitudes antivida, pois desejam terra plana onde possam configurar os fins como certezas existentes. Não percebem a reversibilidade e dinâmica dos processos. Extremistas constroem moradas, padrões, quadrados onde possam caber suas ideias limitadas e, nesse sentido, o extremismo é um fazer de conta que existe fins, extremos, e que não há dinâmica, que a terra não é redonda, que não se move e que sua vontade e seus desejos são a lei que tudo açambarca e realiza. O extremista acredita que tudo pode, pois ele nega tudo. É o remar no vazio, é o poder do não, da distorção. O radical, em última análise, procura construir ou destruir tudo que não é previsível e coerente. Nesse desespero, nesse radicalismo, ele pode até destruir o chão que pisa se o mesmo apresenta acúmulos, acréscimos, aderências, escórias do não absorvido e integrado nas estruturações de seus propósitos e ação.
Além desses posicionamentos - extremismo e radicalismo - existe o laissez-faire, o circunstancializado. É o que carrega lixo, transporta escombros, esperando melhor pagamento por suas reciclagens. É o realizador, o utilitarista e oportunista que constitui a multidão, a grande manada que tudo acompanha. Determinação desesperada, escolhas cogitadas e antecipadas são assistidas, aplaudidas ou criticadas pelos utilitaristas circunstancializados em função de aplacar suas necessidades e realizar suas conveniências. É assim que se desenrola a vida pública, política na qual o indivíduo não é sujeito de sua história, é apenas uma peça para o boliche diário realizado pelo sistema socioeconômico que o subjuga, oprime e também acena com sua libertação. Mentiras, publicidade, faz de conta são os neutralizadores e incentivadores do extremismo e também do radicalismo. As próprias atitudes extremistas e radicais não subsistem sozinhas nesse emaranhado de luta pelo poder e pela sobrevivência.
Apenas quando questionados pelo indivíduo, sujeito de sua própria história, é que esses posicionamentos poderão mudar. Entretanto, até que tal ocorra, reconfigurações infinitas precisam surgir no palco do mundo. O cenário precisa ser mudado e atitudes questionadas e transformadas.