Cachorros e gatos são os animais mais próximos do ser humano no mundo moderno. Ao contrário dos demais animais que foram domesticados, como vacas, galinhas ou porcos, não costumam ser criados para o abate, mas sim para a companhia humana. Ambos são animais da ordem carnívora, que inclui os principais predadores modernos, mas, apesar de terem uma origem comum, ambos percorreram caminhos evolutivos bem diferentes.

Gatos são predadores de emboscada, conseguem correr rápido, mas apenas em pequenas corridas, não aguentando mais do que alguns segundos de perseguição. Entretanto, são muito ágeis e habilidosos, possuindo excelente visão noturna e tendo a capacidade de retrair as garras para não as desgastar e caminhar em silêncio até a presa. Geralmente, gatos não usam tanto o olfato, dependendo mais dos olhos e ouvidos para localizar suas presas e são exclusivamente carnívoros.

Felinos geralmente se aproximam silenciosamente da presa e, quando estão a poucos metros, dão um pulo e uma explosão de velocidade para capturá-la. Após a corrida, matam a presa sufocando, mordendo a garganta. Os felinos são tão eficientes que mesmo animais pré-históricos já tinham a mesma constituição dos animais modernos, ter se alterado pouco durante a evolução é sinal de ser bem adaptado a seu estilo de vida.

Os cães seguiram um caminho evolutivo distinto. Não costumam ser tão rápidos, mas conseguem percorrer longas distâncias, às vezes vários quilômetros, sem cansar. Enquanto os gatos caçam por emboscada, os canídeos são perseguidores, indo atrás da presa por horas a fio até elas se exaurirem e não poderem mais lutar. Os cães não possuem uma técnica de abate tão refinada como os felinos, contando com suas mordidas para matar a presa.

Canídeos possuem um olfato apurado, sendo muito eficientes reconhecendo diferentes odores e podendo usar isso em sua perseguição da presa. Ao contrário dos gatos, cães não sabem escalar, suas garras não são retráteis, portanto, se desgastam, não sendo afiadas, mas isso fornece mais tração ao correr, impedindo de escorregar. Canídeos possuem comportamento social mais complexo do que os gatos. Enquanto quase todos os felinos são solitários, os cachorros costumam viver em grupos familiares bem estruturados que permitem dividir as tarefas e caçar juntos. Eles não dependem apenas da carne, pois alguns canídeos podem comer frutas para complementar a dieta.

Ambos os predadores evoluíram ao mesmo tempo, mas em locais diferentes. Na época, no que é conhecido como “Era dos mamíferos”, os dinossauros já estavam extintos e grandes animais, ancestrais das criaturas modernas, já vagavam pela terra. Os predadores da época eram animais lentos e muito fortes com mandíbulas enormes, chamados Creodontes. O ambiente da época estava causando o aparecimento de herbívoros mais ágeis, do qual os antigos predadores não eram capazes de abater. O cenário estava se preparando para a chegada de novos caçadores.

Os grandes carnívoros modernos são descendentes de animais que viviam nas árvores chamados Miacídeos, que se alimentavam de pequenos animais como lagartos e pássaros. Ao longo de milhões de anos, alguns foram baixando das árvores e evoluindo para caçar no solo, o que deu origem aos predadores modernos, como cães, gatos, ursos e hienas.

Os gatos e seus primos, as hienas, evoluíram na Ásia para preencher o espaço deixado pelos extintos creodontes. Já os cães apareceram na América do Norte, aproveitando o isolamento que o continente possuía na época, desligado das demais massas de terra. Esses animais eram bem mais diversificados do que são hoje em dia.

Os canídeos originalmente formavam um grupo composto por três tipos de predadores: havia os canídeos especializados em caçar nas árvores, que se assemelhavam mais aos seus ancestrais, os canídeos especializados em caçar e matar com a força física, conhecidos como “cães esmagadores de ossos”, e, por fim, os canídeos mais generalistas e que caçavam com a velocidade e a resistência, esse último grupo conhecido como “caninos” foi o único que sobreviveu, formado por raposas e cães modernos.

O primeiro grupo, considerado pelos cientistas como os mais antigos, era de animais pequenos, com patas curtas, garras fortes para se agarrar nas árvores, caudas longas e corpo comprido, semelhantes às modernas Fossas de Madagascar. Eram conhecidos como Hesperocyoninae. Destes cães primitivos, vieram os outros dois tipos de canídeos.

Os chamados “cães esmagadores de ossos” foram provavelmente os canídeos mais assustadores a viver na Terra, eram animais grandes, corpulentos e fortes, com mandíbulas poderosas. Ao contrário dos cães modernos, que contam com o trabalho em equipe para derrubar os animais maiores, o método de abate dos esmagadores de ossos se assemelhava ao dos modernos ursos e tigres, usando a força bruta para derrotar suas presas. Nem todos eram animais exclusivamente carnívoros, mas os que se dedicaram à carne puderam alcançar tamanhos colossais, como o temível Epicyon, que pesava até 170 kg, maior do que uma moderna onça pintada.

Esses predadores conviviam com seus parentes, os ancestrais dos cães modernos do grupo conhecido como Caninae, de caçadores mais generalistas e ágeis. Ainda que todos os três grupos fossem animais notáveis, estavam todos confinados à América do Norte. Na época, o continente estava isolado do restante do mundo, o que permitia que fosse um reino particular para os cães. Mas claro, isso iria mudar.

Os gatos e suas parentes, as hienas, evoluíram na Ásia. Ao contrário dos cães, os gatos sempre foram predadores especializados para um método de caça bem característico, mas eficiente. O grupo dos gatos não é tão diversificado quanto o dos cães. A maioria dos felinos têm corpos bem similares entre si, tornando difícil para os cientistas entenderem sua evolução, com exceção talvez dos famosos gatos dentes-de-sabre que seguiram um caminho particular.

Os gatos evoluíram juntos das hienas, essas sim, ao longo da evolução trilharam caminhos similares aos dos cães, se dividindo em três grupos parecidos com seus equivalentes no continente americano. As primeiras hienas eram também animais que habitavam árvores, pequenas e com garras retráteis. Logo, foram substituídas por hienas semelhantes aos cachorros, e pelas hienas esmagadoras de ossos.

Esses grandes predadores poderiam ter vivido se adaptando a seus ambientes indefinidamente. Mas a Natureza causou seu confronto. Quando os continentes da América do Norte e da Ásia se encontraram e uma ponte de terra se formou entre eles, os três tipos de predadores tiveram que competir por espaço. Os Gatos, superespecializados para seu estilo de vida mais próximo das árvores, não tiveram dificuldade em superar os cães arborícolas. E as hienas sobrepujaram os cães esmagadores de ossos. Entretanto, os cães modernos, mais versáteis, conseguiram superar as hienas menores, causando a extinção da maior parte do grupo das hienas. Atualmente, apenas 4 espécies sobrevivem, contra as mais de 40 espécies de gatos e 36 de cães.

Ainda que o confronto com outros predadores tenha causado a extinção de grande parte dos canídeos, os sobreviventes conseguiram se dispersar, atingindo os continentes asiáticos, europeu e africano, eventualmente puderam chegar à América do Sul. Depois do desaparecimento dos cães esmagadores de ossos, os canídeos nunca puderam atingir as mesmas proporções gigantescas. Os cães modernos, de modo geral, não são tão grandes quanto os equivalentes felinos como leopardos, onças, leões e tigres. Mas ainda assim conseguem rivalizar com seus inimigos, contando com o trabalho em equipe. Cães caçadores existem por todo o mundo para competir com grandes e pequenos gatos.

Mesmo depois do aparecimento humano, os dois animais não perderam sua relevância. Os cães foram os primeiros a se aproximarem do ser humano, sendo domesticados ainda na pré-história. Registros antigos apontam que cães já ajudavam humanos a caçar, mas eram mantidos pelas tribos mesmo quando estavam muito velhos para ajudar, apenas por afeto, primeiro sinal da velha amizade entre as duas espécies. Os gatos foram domesticados posteriormente, no começo da civilização, para ajudar a controlar pragas como ratos. Ainda hoje, enquanto outras criaturas lutam para sobreviver sob a sombra humana, os dois animais competem pela atenção do novo predador dominante na Terra.