Calma! Não pretendo desqualificar todo e qualquer tipo de beijo! A questão aqui é por que ainda cumprimentamos pessoas do sexo oposto (ao menos em boa parte do Ocidente) com um beijo no rosto? Ainda precisamos dele?
Você está caminhando pela rua, no shopping ou pelos corredores do trabalho e percebe que um colega ou simples conhecido do sexo oposto se aproxima, ou mesmo encontra com algum conhecido que pretende te apresentar a uma nova pessoa, reflita e seja sincero: Você fica confortável em cumprimentá-lo (a) com um beijo? Ou você pensa: “Ai meu Deus! Terei que cumprimentá-lo (a) com um beijo mesmo?”
Mas que beijo é este que causa tanto desconforto? Primeiro, vamos fazer um exercício de classificação. Considerando que para se beijar é necessário a aproximação dos lábios com alguma parte do corpo da outra pessoa, então podemos começar dividindo o beijo em três categorias:
- Beijo romântico ou sexual;
- Beijo afetuoso, carinhoso;
- Beijo cumprimento (beijo simulado).
Obviamente o beijo romântico ou sexual é aquele que compartilhamos com nossos parceiros de vida amorosa (cônjuges, namorados(as), ficantes e afins), com aqueles que dividimos nossos carinhos corpóreos, nossas intimidades.
O beijo afetuoso é aquele em que beijamos, de verdade, a bochecha, a mão ou a cabeça da outra pessoa. É aquele beijo que normalmente trocamos com entes queridos (filhos, irmãos, pais, avós, familiares, amigos). Aquele momento em que nos debruçamos, damos um bom abraço ou não e beijamos em sinal de amor, afeto, carinho, respeito.
Para atender a necessidade do simples e corriqueiro cumprimento entre colegas de trabalho, de faculdade, entre pessoas que convivem socialmente, ou mesmo que mal se conhecem, criamos a categoria do beijo simulado, do pseudobeijo. Aquele que fingimos beijar as bochechas da outra pessoa, quando na realidade estamos beijando parte delas e parte o vento.
Honestamente, isto não me parece mais atencioso do que um sincero aperto de mãos entre duas pessoas se entreolhando! No afã de demonstrar cordialidade e atenção no cumprimento, reduzimos o beijo afetuoso a um vil movimento mecânico de beijar o quase nada.
Fiquei super feliz quando vim morar em São Paulo e percebi que aqui não precisaria mais cumprimentar as colegas com dois pseudobeijos. Apenas um bastaria! Apenas um! Ufa! Que alívio! Menos desperdício de cumprimentos vazios!
O costume em Salvador e no Rio de Janeiro é darmos dois beijos simulados, um em cada lado da bochecha. Bom, poderia ser pior! Os mineiros se cumprimentam com três beijinhos. Quando acaba o ritual, você já está tonto, nem sabe mais onde está e o que está fazendo. No passado, cansei de deixar amigas mineiras no ar! Hoje em dia deixo as soteropolitanas e cariocas com o meu já arraigado costume paulistano. Um! Apenas um! Basta um!!!
Mais recentemente, após a Pandemia da Covid-19, percebo que esta questão do beijo simulado se aperfeiçoou (ou seria se agravou?) em função de todas as preocupações com as transmissões de diversos vírus que ficaram mais presentes após a pandemia. Atualmente, quando somos confrontados com a necessidade de cumprimentar alguém com este famoso beijo simulado, inicia-se um processo de longos e desconfortantes segundos de dúvidas de como iremos proceder. Afinal, é mais fácil controlar as mãos com álcool em gel ou mesmo lavando com água e sabão do que controlar a possível exposição de rostos e salivas se aproximando.
Os nossos neurônios entram em desespero de milésimos de segundos: “Pensa rápido! Pensa rápido! Estico a mão para cumprimentar? Faço uma deferência estilo oriental curvando o corpo à frente? Ou me aproximo para dar o beijo simulado?”
Quando finalmente alguém escolhe o beijo como o cumprimento, adotamos, em sua grande maioria, pela evolução do beijo simulado.
Qual evolução?
O beijo aéreo!
O beijo simulado se transformou no beijo aéreo. Aquele quase encostar suave das bochechas para beijar o vento. Sim! O vento! Imediatamente lembramos que num passado não tão distante fazíamos chacota com dondocas que se cumprimentavam beijando o vento para não borrar a maquiagem e agora somos nós, quase todos praticantes do beijo aéreo.
Ou você faz diferente?