No decorrer do ano de 1992, Bill Gates antecipou que as pessoas não estariam mais limitadas a comunidades físicas, prevendo que estas migrariam para novos fluxos de informação. No mesmo período, o conceito de "metaverso" surgiu na narrativa de ficção Snow Crash, escrita por Neal Stephenson. Aproximadamente três décadas à frente, o assunto "metaverso" abala os alicerces da sociedade contemporânea, apresentando-se como uma grande transformação desde a chegada e popularização da internet. Compreender o metaverso e sua relação com o mundo atual se mostra uma tarefa desafiadora, dada a sua complexidade que requer um conhecimento especializado e interdisciplinar incomum. Nesse contexto, este artigo busca facilitar esse entendimento.
O termo ciberespaço foi pela primeira vez introduzido por William Gibson em seu livro Neuromancer. Essa obra de ficção científica explorou a relação entre humanos e máquinas no distante ano de 1983 - o ano de sua publicação -, apresentando um cenário futurista em uma época predominantemente analógica.
Pierre Lévy, um renomado filósofo e pesquisador da ciência da informação e comunicação, destacou-se como uma autoridade na análise do ciberespaço. Para ele, o ciberespaço é o resultado da evolução da sociedade ao longo dos tempos, desde o desenvolvimento da escrita e do alfabeto até a invenção da imprensa.
Dessa forma, o ciberespaço consiste no local virtual onde circulam informações que os usuários podem acessar, modificar e utilizar em tempo real ou não. Neste ambiente conectado pela internet, há diversas formas de interações disponíveis, permitindo experiências nos videogames, aplicativos, redes sociais e até mesmo nos metaversos.
O ciberespaço é um local ubíquo que engloba não só a estrutura material da comunicação digital, mas também - e acima de tudo - o vasto universo de informações que por ele circulam de forma intensa. A cibercultura é a resultante desse ambiente cibernético, podendo ser definida como o "conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), práticas, atitudes, modos de pensamento e valores que emergem paralelamente ao crescimento do ciberespaço".
Ao concebermos o ciberespaço como uma representação ambiental formada pelo complexo tecnológico que o sustenta, torna-se possível reconhecer a predominância de seu viés técnico (ciberespaço entendido como técnica). Essa técnica molda a cultura, ou seja, tudo o que o ciberespaço e as tecnologias a ele associadas oferecem à sociedade influenciam diversos aspectos culturais, mesmo que não possam ser considerados como fatores determinantes.
Em outras palavras, não é possível afirmar que a cultura é influenciada apenas pelas tecnologias ou pelo ciberespaço, pois a cultura é o resultado de uma combinação complexa de vários elementos. No entanto, é evidente que a cultura é impactada por aspectos técnicos provenientes do ciberespaço.
Dessa forma, a explosão tecnológica que acontece no ciberespaço é fruto de um processo complexo formado por diversos fatores, indo além das próprias ferramentas, máquinas, algoritmos ou infraestrutura. A cibercultura, portanto, é mais do que o simples ciberespaço.
Esta não é apenas uma digressão para distinguir entre ciberespaço e cibercultura. Porque compreender o impacto do ciberespaço na cultura é essencial para compreender o que iremos experienciar à medida que o metaverso emerge. Na verdade, já experimentamos algo semelhante ao conceito de metaverso, embora não no alto nível de experiência que poderemos experimentar nos próximos anos. Você, eu e quase todo mundo vivemos no metaverso por meio de tudo relacionado a smartphones, videogames, computadores e mídias sociais. Já temos experiências intensas e profundas no ciberespaço porque a cibercultura introduziu novas experiências e padrões de comportamento que nos tornam seres digitais ou virtuais quase dependentes de dispositivos eletrônicos ligados à Internet.
Pouco tem se discutido sobre o assunto em pesquisas, sobre o fato de que o metaverso é apenas um produto da evolução tecnológica.