A energia é um dos pilares das sociedades modernas e das relações internacionais. Igualmente se torna um recurso que facilmente é controlável e uma arma para conflitos internos e externos, crises migratórias que se estendem por todo o mundo e que alteram as dinâmicas e a organização dos seres humanos, enquanto comunidade (sendo esta uma construção sociológica).
O acesso à energia e o processo da transição energética, os custos que acarreta a produção e o transporte, não devem ser uma prioridade exclusivamente política, que mais tarde se traduzirá em políticas públicas internas, mas como uma preocupação real e uma prática na vida quotidiana do cidadão comum.
Nos últimos dois séculos, a população mundial tem crescido a um ritmo estonteante, gerando, simultaneamente, a necessidade de um maior controlo na utilização desenfreada, em alguns casos, do meio ambiente e dos seus recursos naturais que esta dispõe. Torna-se imperativo regular as exigências das sociedades e as suas necessidades, pois são colocadas num grau de exigência muito maior do que a resposta que se consegue dar, ou que se espera.
Os Estados empregam todos os seus instrumentos de poder, incluindo os práticos, como os militares, de forma a orientar e a centralizar as suas prioridades estratégicas para as regiões, onde veem em risco a sua zona de influência. O caso dos Nord Stream 1 e 2, serve perfeitamente para justificar esta minha afirmação.
O caso do Nord Stream 2, tornou-se uma preocupação económica, mas também estratégica para a Alemanha. A esta preocupação adicionou-se ainda os perigos existentes em território europeu, que vieram consequentemente, recender o debate geopolítico europeu que aparenta para muitos, estar adormecido.
Quando assistimos à conjuntura atual, o cenário não é de todo animador e através deste é possível tirar algumas ilações, como por exemplo, a União Europeia (UE) ter alguns dos seus estados-membros fortemente dependentes dos pipelines russos, tais como, a Alemanha, a Polónia, a Hungria, a região dos Balcãs, a Áustria, a Finlândia, a França, os Países Baixos e ainda, incluem-se neste grupo, o velho amigo Reino Unido e o amigo que está à espera de ser integrado na UE, a Turquia.
O tabuleiro geopolítico europeu vê-se então em transformação e a Federação Russa ganha mais espaço de condução dos seus meios reais, para fazer face à resistência dos países localizados a ocidente. O que parece já não estar tanto em evidência nos principais canais de mainstream portugueses, é a invasão militar levada a cabo pelo exército russo e o querer absolutista de Putin em relação à Ucrânia, um país soberano e independente. Nunca é demais relembrar este triste facto.
A Federação Russa foi duramente penalizada através de sanções económicas e financeiras por parte da União Europeia, ainda acreditando eu, que isto nunca foi verdadeiramente uma preocupação dentro do Kremlin, o que deveria preocupar sim, é a sua imagem política e diplomática no seio do espaço europeu, pois esta deixou de ser vista como um parceiro estratégico para a grande maioria.
O congelamento dos ativos do Banco Central da Rússia junto de outros bancos centrais, neutralizou a capacidade de suster o valor da sua moeda. Este foi um dos efeitos nocivos para a economia russa. O que aparenta ter acontecido é que, para Putin esta atitude do ocidente só vem a confirmar a sua teoria de que a Europa não tem uma política externa comum, sem ser para assuntos comerciais, vindo a confirmar-se ainda outros aspetos igualmente determinantes para a ação da velha Europa, a segurança interna e os instrumentos para a sua defesa. Parece que estamos a falar de um exército comum europeu, uma ideia que não agrada gregos nem troianos dentro da comunidade europeia.
O que parece ter acontecido é que, de facto, Putin conseguiu recuperar o sentimento de unidade, por vezes adormecida, dos países-membros da UE, num esforço comum para reduzir as ofensivas russas. Soube aproximar e alargar este sentimento para países que até então, não integravam a casa comum que é a UE.
É preciso então estarmos atentos na defesa dos valores europeus, pois estes devem prevalecer no presente e no futuro e não serem valores meramente dados como adquiridos. Estes devem servir igualmente para limitar ambições imperialistas, devaneios expansionistas e nacionalismos exacerbados e românticos.
Termino este artigo, utilizando as palavras do discurso de Ursula von Der Leyen, em Outubro de 2022, “na prossecução da nossa ação, duas coisas continuam a ser primordiais, ação em unidade e ação em solidariedade”.