Desde o início do embate entre Rússia e Ucrânia, ainda em 2014, até a evolução para o conflito direto entre os dois países em fevereiro de 2022, a atenção do mundo se voltou para a região. O conflito que se desdobra até os dias atuais trouxe sérios impactos imediatos no sistema internacional e na economia de alguns países, além dos impactos para ambos os países envolvidos. Historicamente, Rússia e Ucrânia caminharam juntos desde a unificação da Ucrânia ao Império Russo durante o século XVIII; durante este período não houve intercorrências entre ambos.
O Império Russo tem seu devido destaque na história mundial por ter sido palco de grandes líderes, políticas de defesa, além de toda a sua extensão territorial. Uma vez que seu território era presente em boa parte do Leste Europeu (incluindo parte do território da Polônia), os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia, e mais ao norte, a Finlândia), os territórios da Ucrânia, Bielorrússia, Moldávia, os territórios do Cáucaso (Armênia, Azerbaijão, Geórgia e algumas partes do território da atual Turquia), boa parte da Ásia Central e até 1867 o território do Alasca, que mais tarde foi vendido aos EUA.
O Império Russo foi descontinuado após a Revolução Russa de 1917, derrubando a monarquia russa de Nicolau II, encerrando assim o longo legado de Czares russos dando lugar aos socialistas. Os impactos do novo governo Bolchevique foram imediatos, e ao longo dos meses de 1918 iniciou-se uma Guerra Civil em parte do território do Império Russo que se dissolveu ao longo dos anos até o fim da Guerra Civil Russa e início da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922.
Após a reunificação das regiões que foram dissolvidas do Império Russo, entre elas a Bielorrússia, Transcaucásia e Ucrânia. Embora os territórios do Leste Europeu e algumas partes da Ásia Central tenham sido implementadas por outros países, a URSS manteve sua grandeza territorial, em maioria na Eurásia.
Ao longo das décadas, a URSS foi se fortalecendo, conseguindo recuperar alguns territórios do Império Russo no Leste Europeu durante a Segunda Guerra Mundial. Durante as décadas iniciais da Guerra Fria, a URSS viveu apogeu econômico e político enquanto estabelecia zonas de influência ao redor do mundo.
Os anos finais da URSS se mostraram amargos, as crises econômicas, o desgaste político e tensões sociais afetaram a ordem do país, e após as séries de declarações de soberania dos Estados da URSS em 1991 houve a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, dando origem a 15 novos países, no Leste Europeu, na Ásia e Eurásia. Entre eles a Ucrânia, Azerbaijão, Rússia, Letônia, Bielorrússia, Armênia, Cazaquistão e entre outros.
A questão central é a relação entre Rússia e as antigas Repúblicas Soviéticas, o que é sempre de muita relevância mundial. No geral, após as séries de independências que ocorreram após 1991, a forma como estes países se comportam no ambiente internacional depende de diversos fatores, a aproximação (ou não) com a Rússia, questões étnicas, políticas, econômicas e históricas.
Enquanto alguns países optaram por manter relações próximas com a Rússia, outros países buscaram um maior afastamento e autonomia. Assim, as relações podem variar entre uma cooperação mútua até uma relação de tensões e disputas territoriais. Em sua maior parte, os países da Eurásia e da Ásia Central como Armênia, Quirguistão, Bielorrúsia, Cazaquistão, Moldávia, Azerbaijão, Turcomenistão, Uzbequistão e Tajiquistão possuem uma boa relação com a Rússia e até fazem parte de organizações como a União Econômica Eurasiática e da Comunidade dos Estados Independentes, criado após a dissolução da URSS.
Enquanto isso, as repúblicas bálticas como a Estônia, a Letônia e a Lituânia buscaram uma maior distância da influência russa e uma maior integração com o Ocidente, União Europeia e OTAN. Outros países possuem uma relação tensa com a Rússia, como a Ucrânia, a Geórgia e mais recentemente a Moldávia.
Rússia x Ucrânia
Desde o fim da URSS, as relações entre Rússia e Ucrânia sempre foram instáveis e marcadas por várias questões, sejam elas energéticas, territoriais e divergências políticas. A anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e o conflito no Leste da Ucrânia pelas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk desde 2022 são exemplos das situações mais atuais, porém questões como a neutralidade da Ucrânia no Sistema Internacional até a desnuclearização no pós-dissolução da URSS permeiam até os esgotamentos das relações entre ambos os países.
Rússia x Geórgia
Os problemas entre Rússia e Geórgia se iniciaram ainda em 1991, quando houve a independência da Geórgia e a guerra com as regiões separatistas da Ossétia do Sul e da região da Abecásia, duas regiões que são fronteiriças com a Rússia. O envolvimento russo em ambos os conflitos é algo a ser questionado até os dias atuais. Em 2008, a Rússia reconheceu a independência de ambas as regiões, o que deteriorou as relações entre Rússia e Geórgia. Os conflitos até os dias atuais permanecem sem acordos e são considerados conflitos congelados.
Rússia x Moldávia
As questões entre Moldávia e Rússia são mais recentes, porém a região de controvérsia é ponto de tensão desde 1991, a região separatista da Transnístria. A escalada da tensão se inicia em 1990 quando a Transnístria declara sua independência da Moldávia mesmo antes da própria independência da Moldávia da URSS em 1991. O aumento das tensões em 1992 resultou em uma guerra, a Transnístria apoiada por forças russas entraram em confronto com as forças moldavas. Em 1992 um acordo de paz foi negociado com a mediação da Comunidade dos Estados Independentes e atualmente a Transnístria permanece independente, porém a Rússia manteve uma presença militar na Transnístria mesmo após o conflito sendo até hoje ponto de controvérsia nas relações entre a Moldávia e a Rússia.
Estes são os conflitos diretos entre a Rússia e as antigas Repúblicas Soviéticas, porém há os conflitos que não estão relacionados diretamente com a Rússia e sim, conflitos que acontecem entre países que eram Repúblicas Soviéticas. Conflitos como os da Armênia contra o Azerbaijão pelo território de Nagorno-Karabakh que teve início ainda na URSS e por problemas na delimitação de fronteiras. Outro conflito que podemos citar é a disputa entre Quirguistão e Tajiquistão pela região rica em água potável na vila de Kok-Tash na fronteira entre ambos os países.
O que dá a entender é que alguns conflitos possuem motivações históricas e rivalidades extremas, outros conflitos são apenas para estender o território para arrecadação de mais recursos, sejam eles econômicos, políticos e geoestratégicos. Enfraquecimento dos rivais, aumento de recursos ou garantir o status quo da região, alguns conflitos permanecerão congelados até segunda ordem ou até que se esgotem as forças.