Mais que uma mera atividade burocrática, escolher a escola dos filhos pode ser uma tarefa extremamente complexa. Não apenas pelos muitos fatores que entram em cena para que encontremos a que julgamos ideal – ou a melhor possível- mas também porque ela pode colocar de frente para nós, pais, um espelho imenso, onde vemos nossas próprias frustrações, medos, memórias e principalmente, nossos ideais de educação.

Lembro sempre de uma das vezes que precisei mudar meu filho de escola e não tive dúvidas: o coloquei na que eu mesma havia estudado enquanto criança, na certeza de que se havia sido ótima para mim, também seria para ele. Era próxima do meu novo local de trabalho e parecia perfeita. Pois bem, nada como uma criança para desconstruir o que parece sólido, mas se desmancha no ar: em poucas semanas a escola já sinalizava que ele se negava a realizar as atividades; e em casa, demonstrava uma agitação própria de quem não consegue ainda expor claramente que algo não vai bem.

As queixas da escola chegaram recheadas de ideais sobre a infância que destoavam - e muito - daquilo que até então eu havia desejado e estudado para meu pequeno: “ele só quer brincar”, “pouca concentração” e até “afetivo demais”. O que esperar afinal para uma criança de 4 anos, na educação infantil? Embora as propagandas institucionais apontassem em outra direção, tais falas colocavam em evidência as crenças daquele corpo de profissionais que iam na contramão do que eu conhecia acerca do desenvolvimento infantil, e mais: pensavam a educação enquanto bancária e que o brincar não poderia fazer parte daquele espaço enquanto ferramenta pedagógica, para além do lazer.

Após conversas com diversos profissionais, retirei meu filho daquela instituição e carregando comigo ensinamentos valiosos, que de fato já haviam chegado até mim através dos livros, mas que a vivência fez com que eles penetrassem em minha pele: 1º nossos filhos são seres autênticos, o que foi bom para mim pode não ser para ele por infinitas razões; 2º ao escolher uma instituição escolar a pergunta mais importante deve ser: o que nós, enquanto família, desejamos com esse espaço?

Ao lembrar daquela escola tradicional, eu tinha boas memórias e de alguma forma ela me permitiu uma escolarização que eu julguei interessante, me abrindo portas para boas oportunidades dentro das minhas escolhas. Porém, para meu pequeno, aquele ambiente trouxe um vínculo muito ruim com a aprendizagem. Os motivos para essas diferenças são diversos: os profissionais são outros, o tempo é outro – o que era importante para minha geração não é necessariamente ainda fundamental – e principalmente: ele aprende de forma diferente. Cada ser possui sua maneira de aprender e certas metodologias podem facilitar ou atrapalhar de vez o processo, dependendo do indivíduo e suas aptidões.

Foi nessa busca por uma escola que acolhesse a maneira que meu filho aprende, que encontrei a proposta montessoriana. O ambiente era totalmente diferente do que se conhece enquanto escola tradicionalmente, mas profundamente preparado para o desenvolvimento da criança: materiais de vida prática e com objetivos pedagógicos que desenvolvem habilidades fundamentais para compreensão do mundo. Os docentes são entendidos enquanto guias, que orientam as crianças a partir de seus interesses. Pois bem, foi ali que resolvi que nossa família atracaria, e o aluno desmotivado tornou-se o estudante criativo e apaixonado pelo aprender.

Claro que como profissional da educação compreendo profundamente toda a proposta e desde sempre me encantei com ela: não à toa, na minha prática sempre usei alguns materiais montessorianos. Como mãe, porém, muitas vezes a cabeça se enche de dúvidas: será que ele não precisa de mais “formalização”, que o mundo tantas vezes pede? Hoje tenho certeza de que tais dúvidas são reflexo dos muitos mitos que cercam a educação escolar, principalmente a ideia de que tudo que não é tradicional é “solto” demais.

A educação Montessori quando feita com profissionalismo não tem absolutamente nada de “solta”. Ela é extremamente disciplinada, mas não no sentido hierarquizado. É uma disciplina da liberdade, onde as crianças são estimuladas a protagonizarem efetivamente o processo. Talvez isso que assuste tanto os adultos, tão confusos em seus papéis que deveriam ser de responsáveis e não de proprietários de seus filhos.

Esse texto não é um convite apenas para que as famílias conheçam a proposta montessoriana, a pesquisem, estudem. Definitivamente trata-se de um chamado para que mães e pais olhem para seus pequenos de maneira atenta e busquem a metodologia que os estimulem verdadeiramente, em todas suas potências no ambiente escolar. Claro que este texto abarca a realidade das famílias que optaram por escolas privadas. A questão quando falamos da escola pública é mais complexa em múltiplos aspectos e pretendo desenvolver em outro texto. Outro ponto é importante: há muita elitização, o que é muito triste, nas escolas montessorianas. Isso também é papo para outro momento. Mas uma coisa é geral: Confiemos na beleza da liberdade e da infância. E que nossas próprias vivências sejam memórias que nos guiem, mas que não impeçam que nossos filhos trilhem suas próprias trajetórias.