Quando se trabalha com aquilo que gosta, no meu caso, a escrita, tem 3 coisas que podem acontecer:
- Você cria uma rotina para ter um volume constante de material sempre;
- Há picos de produtividade que movimentam a sua produção — um boom interessante, você se vê como uma máquina;
- Há uma sensação interna de secura, de cansaço, que a faz acreditar que não tem mais o que escrever.
Estou passando pelo último tópico, e não me critico muito. No momento que escrevo estamos em dezembro, e é tanta coisa que acontece ao mesmo tempo, que apenas considero me dar o merecido descanso.
Não é como se não fosse nem escrever nem uma lista de compras: é que a entrega foi enorme de conteúdo, e sinto que agora preciso me recarregar para o próximo ano.
Eu sabia que isso podia ocorrer — aliás, foi por isso que adiantei tanta coisa: para me permitir passar o resto do ano sem escrever para alguém. Se escrevo isso agora, é para compartilhar o restinho do que me sobra, como se fosse o resto da seiva de um tronco da árvore mais vistosa do jardim — agora mais do que nunca, quero me encher de vida e literatura.
Vale explicar o que seria a síndrome da folha em branco. É quando o profissional da escrita (ouvi essa expressão com a Maria Vitória), em sua função de escrever, pena e não consegue extrair nada da caneta para o papel — dando uma atualizada, do teclado para a tela do computador. Ele bate a cabeça, insiste, faz cambalhota e não sai nada.
Há vários motivos que geram essa situação. Pode ser o esgotamento (meu caso), o bloqueio criativo por algum trauma, por algum sentimento específico que limita a ação o agente. Pesquisei ainda no Google e aparece indisposição momentânea para escrever, ou ainda, fruto de um perfeccionismo exagerado — também já vivi isso.
A realidade é que a síndrome da folha em branco é uma expressão para qualquer limitação que impede a ação do escritor transmitir sua criatividade para o mundo. Sinceramente, eu achei que não ia conseguir me expressar direito, meu medo de entregar um trabalho mulambento para este artigo me fez discutir justamente o que o impede: essa minha condição de desejar o ócio quando ainda preciso escrever.
Isso é de longe um lamento, pois escolhi esse estilo de vida e nele pretendo prosseguir. Contudo, sinto que neste ano precisamente não soube equilibrar produção x ócio criativo. Sabe que descansar é essencial no processo, certo? Sim, Stephen King narra sua rotina de escrita diária e meta de páginas, mas porque seu compromisso está atrelado ao tempo que ele achou mais confortável para ele mesmo.
Considero a síndrome da folha em branco um convite para entender as verdadeiras razões para não criarmos ou criarmos algo. Tenho me questionado: isso é ou não importante para mim? Como gerenciar meu tempo da melhor forma possível?
E quando eu canso desses pensamentos, deito e tento silenciar essa nuvem de palavras. Nem sempre o caos traz resultados bons e imediatos.
Por outro lado, e é até mesmo engraçado, venço agora esse desafio da folha em branco ao discorrer os principais desafios da minha rotina de final de ano. Imagino como não passar por eles no próximo ano, ou ainda, como deixar tudo mais fácil. Afinal, somente agindo que se aprende o que vale ou não a pena.
Espero que este desabafo seja gostoso de ler e, quem sabe, tire a culpa do meio do caminho para você criar mais para si este ano ou no ano que vem. Damos aquilo que temos dentro da gente, e assim vamos cultivando nosso jardim.