O individualismo na sociedade contemporânea é um fenômeno observado no cotidiano. Ao nosso ver, é um reflexo da era do vazio, da superação dos valores transcendentais e metafísicos. A crise de valores reflete uma busca de se defender e se isolar.
Também nesse aspecto o materialismo reinante leva as pessoas isoladas a se sentirem protegidas pelas suas posses materiais. No entanto, urge ressaltar que, nesse contexto da sociedade contemporânea, o individualismo conduz à dificuldade de conviver, porque ninguém deseja ceder em nenhum aspecto. Mesmo aqueles que se casam, cada vez mais individualistas, consideram o casamento como uma sociedade apenas financeira, visando a lucros e favorecimentos a partir do outro.
Na obra Minutos de reflexão, descrevo, em vários artigos, as manifestações do individualismo na contemporaneidade. Nosso objetivo é procurar entender o individualismo na sua formação e no seu impacto na sociedade. Progredimos muito cientificamente, mas esse progresso parece ser uma grande ilusão. Vivemos guerras tão sangrentas quanto outras ao longo da história da humanidade, mesmo assim, acreditamos que progredimos.
É importante destacar que os avanços científicos e o crescimento econômico representam uma das faces do desenvolvimento, mas há outras perspectivas em jogo, com a humanização.
O individualismo caminha no sentido de diminuir a capacidade de sentir com o outro, de empatia. A humanização é um desafio, principalmente, para aqueles que trabalham com a educação. Por vezes, a própria ideia de que a educação com tecnologias revolucionará a humanidade traz a deficiência da humanização.
Defende-se um ensino tecnológico, em as próprias tecnologias darão conta de ensinar, uma defesa de que não se precisará mais de professores. Entendemos em caminho inverso: precisamos, sim, de tecnologia, mas necessitamos intensificar a humanização e de pessoas sensíveis ao próximo, ao meio ambiente, às demandas da sociedade.
O rosto do outro é algo que me interpela, eu sei quem sou a partir do outro que me interpela. Quando ficamos presos no nosso individualismo, acabamos amarrados ao nosso próprio eu, esquecendo que somos com os outros. Somos seres relacionais e somos convidados a deixar de lado o excesso de individualismo existente na sociedade contemporânea. O mundo precisa de desenvolvimento tecnológico, mas precisa também de ética, humanização, respeito ao meio ambiente.
A ética é uma ciência filosófica essencial para a humanidade; se não houver ética, estamos fadados a viver de maneira a rivalizarmos uns com os outros sem necessidade. O mundo precisa aprender que podemos viver sem guerras; guerras geram danos para ambas as partes, danos irreparáveis. Pela conscientização ética, podemos pensar na importância do respeito à pluralidade de ideias como um valor fundamental para a sociedade em que vivemos. As pessoas são diferentes, mas são humanas e precisam de nosso respeito. Aceitar diferenças não significa abandonar suas próprias crenças, mas buscar, de diversas formas, respeitar aquele que pensa de modo diverso de nós. Isso não quer dizer concordar com todos, mas entender que as pessoas pensam diferente de nós e não devem ser punidas por conta disso.
Portanto, a humanidade é convidada a repensar a questão do individualismo, somos convidados a sermos mais altruístas. Pensar nos outros é um desafio, mas nos abre para o transcendente e nos permite pensar em outros modos de compreender o mundo, além da nossa própria realidade.
O individualismo, a nosso ver, nos desumaniza, porque somos seres com os outros e, sendo com outros, não podemos nos fechar em nós mesmos. O egoísmo acaba corroendo nossa capacidade de abertura aos outros. Que possamos pensar na beleza que é sairmos de nós mesmos e pensarmos além do nosso umbigo, a sermos solidários e construirmos uma sociedade mais ética, solidária e fraterna.