"Ele vai ser jogador de futebol!" Desde muito cedo, ecoava aos meus ouvidos essa previsão. Era animadora, fazendo-me sentir um predestinado à minha grande paixão: o futebol. Embora instigante, essa expectativa carregava um certo peso.
Essa afirmação, comum e carregada de promessas, não era exclusividade da minha infância. Inúmeros meninos e meninas são saudados com projeções semelhantes, traçando a visão de seus futuros antes mesmo de deixarem as fraldas. Com variações como "Ele vai ser cantor" ou "Ela vai ser bailarina", tais declarações compartilham uma natureza comum. Elas projetam as esperanças e sonhos dos adultos que as proferem, mas também geram consequências em múltiplas dimensões, enviesando não apenas as escolhas imediatas, mas também o horizonte de possibilidades futuras para os jovens.
Longe de mim criticar de forma injusta ou assumir um papel de vítima. Na verdade, sempre recebi essas projeções sobre meu futuro com grande alegria e entusiasmo. Elas me impulsionaram a treinar com mais afinco, explorando positivamente um talento que eu sabia possuir e alimentando uma paixão ardente pelo futebol, bem como por todos os esportes em geral. A propósito, sou genuinamente grato por essa relação com o futebol que se iniciou tão cedo em minha vida e pelos estímulos que meus pais e familiares me deram. Foi uma jornada repleta de aprendizados valiosos, a disciplina, o espírito coletivo e a obstinação, elementos que moldaram não apenas minha carreira esportiva, mas também a pessoa que me tornei. A questão central está no exagero dessas afirmações, quando ocorrem de forma reiterada e provocam nas crianças a obsessão.
O meu talento para o futebol começou a aparecer muito cedo, por volta dos meus 4 anos de idade. Aos 5 eu já havia sido selecionado por dois times de futsal da minha cidade, motivo de muita alegria hoje quando me recordo daquelas primeiras lembranças na "Vidal" e da seleção de Salesópolis, orientado pelo meu querido técnico "Coelho".
Aos 7 anos fiz a transição para os gramados e fui aceito de forma precoce para jogar em uma categoria acima da minha idade em um time de futebol de campo chamado "Pequeninos do Jockey" que depois passou a ser conhecido como Joana D'arc. Essa fase foi repleta de vitórias e crescimento. Foi lá que aprimorei meus fundamentos técnicos, e meu talento floresceu com ainda mais intensidade e brilho. Durante esse período, a famosa frase de encorajamento ecoava com ainda mais frequência, fortalecendo minha crença de que eu realmente poderia me tornar um jogador de futebol profissional.
Foi também nesta época que outras habilidades começaram a se desenvolver. No entanto, naquele momento, eu estava tão focado em minhas habilidades técnicas no futebol que mal percebia a beleza e a importância dessas novas capacidades emergindo. Meus olhos estavam fixos na bola, e meu coração, no sonho de jogar profissionalmente.
Nesse período, o talento emergente que mais se destacou foi a minha capacidade de influenciar e liderar. Foi concomitante à minha nomeação a capitão do time, um marco que trouxe imenso orgulho e me impulsionou a exercer um protagonismo inventivo. Diante do desconforto que sentia com o estilo autoritário e intimidador predominante no esporte, passei a questionar e a desafiar essas normas estabelecidas. Mesmo sem a plena maturidade ou consciência nessa idade, adotei de forma muito espontânea uma abordagem mais agregadora e motivadora. Em vez de recorrer às críticas ásperas ou punições por erros, escolhi encorajar meus colegas a se arriscarem e explorarem novas jogadas, acreditando no poder do apoio e do incentivo como base para vencermos juntos os jogos.
Esse estilo de liderar não era convencional e causava bastante estranheza de todos, até dos meus colegas de time. Houve até momentos marcantes em que eu, como capitão, fui repreendido pelo técnico por aplaudir as tentativas audaciosas dos colegas. Mas isso não me desencorajou; mantive minha crença de que o apoio e a orientação seriam mais eficazes para o sucesso do time.
Em um momento marcante da minha juventude, as minhas habilidades técnicas e de liderança convergiram de forma impressionante. Na 5ª série do ensino fundamental, um colégio particular reconheceu meu potencial e me ofereceu uma bolsa de estudos integral para liderar o time de futebol. Aceitei prontamente, motivado pelo desafio de elevar o nome da escola nos campeonatos esportivos, junto aos meus colegas. A partir de então, as conquistas pessoais e coletivas começaram a se acumular, delineando um caminho promissor rumo ao futebol profissional.
Apesar dos sinais apontando para uma carreira no futebol, nunca negligenciei meus estudos. Isso era uma exigência inegociável de meus pais, que valorizavam profundamente a educação. Essa disciplina acadêmica foi um alicerce importante em minha formação.
Essa dinâmica entre estudos e esporte de alto rendimento seguiu em paralelo, com igual importância em minha vida. Chegou um momento em que, buscando novos desafios acadêmicos, decidi mudar de colégio. Paralelamente, no futebol, comecei a ganhar destaque. Fui selecionado por um time maior, federado, onde disputei o Campeonato Paulista de Juvenil Sub-15. Essa experiência abriu portas para testes em equipes renomadas, como o Litoral FC (parceiro do Santos FC), a Portuguesa e um time de empresários, em que me exigiu inclusive me despedir da minha família por um tempo para que eu morasse no centro de treinamento no interior de São Paulo.
Aos 17 anos, porém, veio a reviravolta. Decidi abandonar o sonho de ser jogador de futebol para me dedicar integralmente aos estudos. Hoje, olhando para trás com os olhos da maturidade, reconheço que, embora o futebol fosse uma paixão, não era ali que residia minha maior força.
No futebol, semeei e cultivei habilidades como liderança, motivação e união, que, surpreendentemente, revelaram-se como minhas verdadeiras competências, talvez até superiores às minhas habilidades com a bola. Esta descoberta foi um despertar profundo, um redirecionamento de rumos que me fez questionar o potencial a ser explorado em outros domínios da vida. Era o desatino do destino se revelando, mostrando-me caminhos antes invisíveis.
Quase duas décadas se passaram desde aquela decisão transformadora. Agora, com a certeza de ter seguido o percurso que melhor completa minha essência e traz verdadeira felicidade, olho para trás e vejo uma carreira profissional tecida por experiências ricas e significativas. A liderança, uma habilidade sutilmente tecida em minha trajetória, saiu de coadjuvante e emergiu como um elemento-chave, uma constante em todos os capítulos da minha história, quase como uma força gravitacional que sempre guiou meu percurso.
Refletindo sobre essa jornada, percebo que, embora o destino parecesse incerto e camuflado pelas expectativas de uma carreira no futebol, minha verdadeira predestinação era para a liderança. Esse talento, quase ocultado pela fantasia e pelo rótulo de "futuro jogador de futebol", sempre esteve presente, aguardando pacientemente o momento de se revelar em toda a sua magnitude. O destino, com seus caprichos e desatinos, sempre soube onde eu verdadeiramente me tornaria bem-sucedido, mesmo quando eu ainda não podia ver.
Quando resolvi empreender e fundar a escola bilíngue Maple Bear em Maceió, a liderança transcendeu de uma habilidade ocasional para se tornar um propósito deliberado e apaixonado em minha vida. Essa nova fase foi como um presente do destino, um retorno às raízes mais autênticas da minha essência. Encarei essa transformação com gratidão, sabendo que estava no caminho de realizar algo verdadeiramente significativo.
No entanto, logo percebi que, apesar da predestinação e felicidade em liderar, minhas habilidades de liderança eram pífias e precisavam urgentemente ser aprimoradas. Com humildade, mergulhei nos estudos, tentando unir a todo momento a teoria e prática. Cada passo nessa jornada se transformou em uma oportunidade de crescimento, tornando cada desafio uma lição valiosa. Esse processo me moldou não só como líder, mas como um ser humano mais completo, ciente de que liderar é um caminho contínuo de aprendizado e autodescoberta.
Esta jornada de autoconhecimento me conduziu a uma compreensão mais profunda: na infância, frequentemente nos apegamos a sonhos que podem obscurecer nossa visão da realidade e do verdadeiro destino. Estabelecer prematuramente nosso destino profissional pode limitar nossa capacidade de enxergar o amplo espectro de oportunidades que a vida oferece, não somente para a carreira, mas também para a felicidade. Portanto, não sigamos as profecias encantadoras e charmosas que nos rotulam como predestinados a algo, devemos desviar dos encantos e manter a mente aberta a possibilidades, bem como aproveitar para aprender a interpretar os sinais de que a vida nos envia a todo momento.
Essa percepção ecoa as palavras de Adam Grant em "Think Again". Grant adverte sobre os riscos de planos precoces demasiadamente rígidos: "O perigo desses planos é que eles podem nos dar uma visão limitada, cegando-nos para possibilidades alternativas. Não sabemos como o tempo e as circunstâncias mudarão o que queremos e até quem queremos ser, e fixar o GPS da nossa vida em um único alvo pode nos dar as direções corretas para o destino errado."
Portanto, aprendi em minha própria trajetória sobre a importância de abraçar novos horizontes, continuamente. O "destino", essa entidade enigmática, não possui destino final. Hoje, meu "destino" aparenta ser a liderança, mas estou aberto a reconfigurar esse "destino" a qualquer momento. Estou profundamente convencido de que a verdadeira essência da plenitude e da felicidade se encontra na apreciação e no acolhimento dos desatinos - esses desvios inesperados que moldam nosso caminho. É na imprevisibilidade e na beleza desses desvios que descobrimos não apenas o nosso destino, mas o verdadeiro significado da jornada da vida.