O envelhecimento é um processo inerente à vida humana, e, frequentemente, traz consigo desafios complexos, dentre os quais se destaca o declínio cognitivo. A capacidade cognitiva, que atinge seu ápice na juventude, começa a declinar gradualmente à medida que envelhecemos. No entanto, este declínio não é uma sentença inescapável. Em um mundo que está envelhecendo rapidamente, com a proporção de pessoas com mais de 60 anos projetada para crescer consideravelmente até 2050, é fundamental desenvolver estratégias eficazes para combater o comprometimento cognitivo relacionado à idade.
Uma estratégia promissora e apoiada por evidências crescentes é a inclusão do azeite extra-virgem na dieta diária. Este alimento é uma verdadeira potência de antioxidantes naturais, como compostos fenólicos, que conferem propriedades biológicas altamente benéficas. Além disso, o azeite é rico em ácidos graxos monoinsaturados (MUFAs) e ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs), contribuindo para seu valor nutricional.
Estudos conduzidos tanto em laboratórios quanto em animais indicam que o consumo regular de azeite pode desempenhar um papel vital na preservação da função cognitiva. Especificamente, um composto presente no azeite extra-virgem, conhecido como aglicona secoiridóide, demonstrou uma notável capacidade de retardar o declínio cognitivo em indivíduos mais velhos, mesmo na ausência de demência.
Os benefícios do azeite para o cérebro não param por aí. Os compostos fenólicos presentes no azeite extra-virgem atuam como defensores das células cerebrais, protegendo-as contra danos oxidativos causados pelos temidos radicais livres, que são formados durante o metabolismo do oxigênio. Além disso, estudos em animais revelaram que o azeite extra-virgem é capaz de melhorar diretamente a atividade sináptica, a plasticidade de curto prazo e a memória, ao mesmo tempo que reduz a neuropatologia da tau, uma característica intimamente ligada à doença de Alzheimer.
Para reforçar as evidências que sustentam a ligação entre o azeite e a saúde cognitiva, uma revisão sistemática recente teve como objetivo investigar se o consumo de azeite pode, de fato, proteger contra o declínio cognitivo em idosos. Esta análise abrangeu uma variedade de estudos, incluindo estudos transversais, estudos de corte e ensaios clínicos randomizados (ECRs). Apesar de algumas variações nos resultados, um ponto de convergência se destacou: o consumo de azeite foi consistentemente associado a melhorias em várias áreas da função cognitiva.
A mágica do azeite, em grande parte, reside em sua riqueza em compostos fenólicos, com destaque para a oleuropeína-aglicona, que é amplamente considerada como um agente neuroprotetor. Além disso, o azeite exerce influências positivas na saúde neurológica através de uma série de mecanismos celulares e vias metabólicas. Um desses mecanismos envolve o aumento do conteúdo antioxidante nas lipoproteínas de baixa densidade, ao lado de seus efeitos nutrigenômicos.
Um ponto importante a ser destacado é a preferência por azeite extra-virgem em relação a outras variedades. O azeite extra-virgem é considerado o mais benéfico devido à sua produção, que envolve a extração mecânica a frio das azeitonas, preservando, assim, os componentes antioxidantes e anti-inflamatórios mais potentes. Por outro lado, o azeite refinado oferece menos proteção contra danos oxidativos aos lipídios, a formação de radicais livres e respostas inflamatórias.
Além disso, as pesquisas sugerem que o consumo regular de azeite extra-virgem não apresenta efeitos adversos, como apoptose ou neurodegeneração. A mensagem é clara: quanto mais cedo começarmos a incorporar o azeite extra-virgem em nossa dieta, mais acentuados serão os benefícios à nossa saúde cognitiva ao longo da vida. Este aspecto sublinha a importância de adotar o consumo de azeite extra-virgem desde a juventude.
Em resumo, estudos têm apontado consistentemente uma associação positiva entre o consumo de azeite e melhorias no desempenho cognitivo. Além disso, há a perspectiva promissora de que o azeite pode reduzir o risco de declínio cognitivo ao longo do tempo. Portanto, o consumo regular de azeite é altamente recomendado como uma estratégia dietética para melhorar a função cognitiva e prevenir ou retardar distúrbios cognitivos relacionados à idade.
No entanto, vale destacar que o campo da pesquisa sobre o impacto do azeite na cognição continua a evoluir, e estudos adicionais, incluindo pesquisas observacionais, intervenções e meta-análises, são imperativos para aprofundar nosso entendimento sobre como o azeite afeta diversos aspectos da cognição. Com isso, continuaremos a desvendar os segredos do azeite como aliado na preservação da função cognitiva à medida que envelhecemos. Afinal, o azeite não é apenas um ingrediente culinário, mas também um valioso aliado na proteção do nosso bem mais precioso: a mente.
Referências
Fazlollahi, A., Motlagh Asghari, K., Aslan, C., Noori, M., Nejadghaderi, S. A., Araj-Khodaei, M., Sullman, M. J. M., Karamzad, N., Kolahi, A. A., & Safiri, S. (2023). The effects of olive oil consumption on cognitive performance: a systematic review. Frontiers in nutrition, 10, 1218538.