Moçambique prepara-se, a todo o gás, para as sextas eleições autárquicas, no próximo dia 11 de outubro, nas 65 autarquias. São 10 partidos políticos, oito grupos de cidadãos e três coligações de partidos políticos que, na saga pelo poder nos próximos cinco anos, reinventam-se em palco. Os “shows” da campanha eleitoral já iniciariam, mas, antes, outra forma de confronto, de venda de ideais partidárias, marcou uma nova ordem na esfera de debate político público, desde a entrada em vigor da Constituição da República de 1990, que deu início ao multipartidarismo no país.

Em duas televisões, os cabeças de lista dos maiores partidos foram instados a responderem a estas duas questões: quais os problemas que existem no (seu) município? Que soluções traz? E foi aqui, então, onde, mais uma vez, a montanha pariu o rato. Todos reconhecem os gravíssimos problemas, mas nenhuma solução consolidada, com fiabilidade, foi apresentada. Foi assim nas televisões e será assim nos “showmícios”, nos mercados, nas escolas, nas casas…

Mas, ainda bem que eu não falo política. Ainda bem que o que me interessa é a arte e cultura, que mais uma vez, passam despercebidos neste cenário político. E não é uma grande nova. Já há muito, os subsídios públicos para essas áreas diminuíram. Sem necessidade de algum disfarce, o governo declarou – ou, talvez, é o que se percebe – que é complicado buscar formas de legitimar as ações artístico-culturais e de fomentá-las, já que são menos importantes para assuntos políticos-públicos.

E essa conceção é generalizada. Não há, sequer nos partidos da oposição, alguma promessa de resgatar o cenário artístico cultural no país, conquanto os problemas que a classe enfrenta são de bradar os céus. A contrafação discográfica, já há muito enraizada, evidencia, sobremaneira, a despreocupação destes em proteger os direitos autorais, a moral pública e apoiar a criação artística. A venda de materiais sem decoro, sem respeito à propriedade intelectual ganhou cenário próprio nas cidades capitais do país.

Fosse esse o único ponto crítico da música, estaria a beirar a ingratidão. Mas não será também grande salto afirmar que todo o sector está infestado de problemas. Há falta de uma indústria discográfica, oportunidades, não há “royalties”, e a mais nova tem de ver com o pagamento da taxa de 4 mil meticais ao Instituto Nacional de Audiovisual e Cinema para a rodagem de vídeo clipes nos canais televisivos.

No cinema, o pior de todos, a fraca produção e a exiguidade de infraestruturas cinematográficas (ou a sua falta) para a sua exibição tem deixado o setor fragilizado. Quero dizer, em todo o país há problemas: as salas de cinema foram transformadas em igrejas, armazéns, lixeira... tudo à luz das alienações. E, em resultado disso, mesmo que os realizadores criem obras exclusivamente para o mercado nacional, em nada adianta porque para pô-las na praça o artista enfrenta dificuldades de espaço.

A capital do país, Maputo, só dispõe de duas salas de cinema. Duas dezenas delas, construídas maioritariamente durante o tempo colonial – pelo colonialismo português –, já não servem à sétima arte. São bordéis. Lixeiras. Igrejas. Armazéns. Hotéis. E outras continuam sem nenhuma utilidade, mesmo que exígua.

O teatro é o outro sacrificado. Mesmo no contexto atual de exploração de espaços alternativos, esta segunda arte cénica é míngua pelos mercados, escolas e igrejas, sem infraestruturas próprias, sem público, sem valorização… Mais problemático ainda é, em pleno século 21, serem construídas escolas – primárias e secundárias – sem projetos de anfiteatros.

Os artistas plásticos, esses, já há muito se renderam. Trocaram a criatividade, a liberdade, pela encomenda, só para sobreviverem. É o dito artesanato! E na literatura? Na intelectualidade, há muita produção, pouca promoção. Há editoras, mas poucas sérias. Há prémios, mas muita “venda”. Há oportunidades, mas muito amiguismo. Há escrita, mas pouca qualidade. E isso tudo me lembra a política, que a mim pouco interessa!